BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, compareceu a um tribunal nesta segunda-feira (1º) pela primeira vez desde que fez um pedido formal de indulto ao presidente do país, Isaac Herzog, em meio a um longo julgamento por corrupção.

Um pouco mais tarde, Herzog afirmou, em comunicado, que entende que o pedido de Netanyahu é perturbador para muitas pessoas e que a solicitação gera debates no país. Ele, porém, assegurou que “retórica violenta” não influencia suas decisões, e que vai considerar apenas o bem do Estado e da sociedade israelenses.

Na audiência nesta segunda, Netanyahu discutiu com a promotora do caso, Yehudit Tirosh, que afirmou que o premiê mentiu durante audiência anterior ao dizer que não havia dado entrevistas ao portal de notícias Walla, e que o site fazia cobertura hostil a ele, muito embora Netanyahu tenha dado entrevistas e compartilhado conteúdo do portal. “Você me acusa de dar falso testemunho. Você mentiu ao longo de todo esse processo”, rebateu o primeiro-ministro.

O foco da promotora no site é parte do chamado caso 4.000, um dos três em que Netanyahu é acusado de suborno, fraude e quebra de confiança.

Neste processo, segundo a Promotoria, o premiê teria concedido benefícios regulatórios ao grupo Bezeq de telecomunicações em troca de cobertura positiva para ele e sua esposa, Sara —o grupo era dono do site Walla até 2020, quando fechou acordo para vendê-lo. Netanyahu nega todas as acusações, assim como o antigo presidente do grupo de telecomunicações, Shaul Elovitch.

A pedido de Netanyahu, outra audiência prevista para esta terça-feira (2) foi cancelada por “questões diplomáticas e de segurança”; audiência prevista para quarta-feira (3) deve ter uma hora a mais por conta disso.

Políticos da oposição se manifestaram contra o pedido de indulto feito por Netanyahu. Alguns argumentaram que qualquer perdão deveria ser condicionado à aposentadoria de Netanyahu da política e à admissão de culpa em algum dos casos pelos quais é julgado; outros disseram que o premiê deve primeiro convocar eleições nacionais, previstas inicialmente para outubro de 2026, antes de solicitar qualquer indulto.

O ex-primeiro ministro Naftali Bennett afirmou que apoiaria o encerramento do julgamento se Netanyahu concordasse em se retirar da política “para tirar Israel deste caos”.

“Desta forma, podemos deixar isso para trás, nos unir e reconstruir o país juntos”, disse Bennett, que liderou um governo de coalizão vitorioso nas eleições de 2021, que tirou Netanyahu do cargo. O atual premiê venceu as eleições no ano seguinte para retornar ao poder. Pesquisas de intenção de voto mostram Bennett como o político mais provável para liderar o próximo governo, caso Netanyahu se afaste.

Netanyahu, o primeiro-ministro mais longevo de Israel, foi indiciado em 2019 após anos de investigações. O julgamento começou em 2020.

O primeiro-ministro negou repetidamente qualquer irregularidade e não admitiu culpa ao fazer seu pedido de indulto. Os advogados de Netanyahu afirmam que ele acredita que os procedimentos judiciais, se concluídos, terminariam em uma absolvição completa.

Um pequeno grupo de manifestantes se reuniu do lado de fora da audiência do tribunal de Tel Aviv nesta segunda-feira, alguns deles vestindo macacões prisionais de cor laranja e pedindo que Netanyahu fosse preso.

Ilana Barzilay, uma das manifestantes do lado de fora do tribunal, disse à agência Reuters acreditar ser inaceitável que Netanyahu peça um indulto sem antes se declarar culpado ou assumir qualquer responsabilidade.

Em uma carta a Herzog divulgada nesta domingo (30), advogados de Netanyahu disseram que as frequentes aparições no tribunal dificultavam a capacidade do primeiro-ministro de governar, e que um indulto também seria bom para o país.

Perdões presidenciais em Israel normalmente são concedidos apenas após a conclusão dos procedimentos legais e a condenação do acusado. Não há precedente de emissão de um indulto ainda durante o julgamento.

Aliados da coalizão de direita de Netanyahu apoiam seu pedido, feito duas semanas após Trump escrever ao presidente israelense pedindo que ele considerasse indultar Netanyahu e chamando os processos contra ele de “perseguição política e injustificada”.

Em eleições recentes, os rivais de Netanyahu fizeram dos processos uma questão central de campanha. Muitas pesquisas indicam que sua coalizão, a mais à direita da história de Israel, teria dificuldades para conquistar assentos o bastante para formar o próximo governo.