SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Entre as empresas familiarizadas com o novo crédito consignado para trabalhadores do setor privado, 35% registraram casos de inadimplência desde março, quando a nova modalidade de empréstimo foi lançada.
É o que mostra estudo da Serasa Experian realizado com 550 empresas, que revela ainda um forte desconhecimento sobre o consignado CLT: 46% dessas firmas ainda não conhecem ou não sabem detalhar o seu funcionamento.
Entre os casos de inadimplência reportados pelas companhias ouvidas, 65% decorrem de erros de sistema ou operacionais, como atrasos de informação entre o departamento de recursos humanos e a instituição financeira (30%), falhas de integração entre o eSocial e o Dataprev (22%) e problemas no desconto em folha de pagamento (13%).
Apenas 33% dos casos de inadimplência estão associados à falta de pagamento do funcionário. Os 2% restantes são de empresas que afirmaram não saber a razão da inadimplência.
“Quando falamos sobre inadimplência, automaticamente pensamos na falta de recursos financeiros para honrar compromissos. Mas a realidade do consignado privado é outra”, diz Délber Lage, CEO da SalaryFits, empresa da Serasa Experian. “A maior parte dos contratos estão inadimplentes por erros sistêmicos ou operacionais.”
De acordo com o executivo, o consignado privado ainda é uma novidade na rotina das empresas, e por isso muitas ainda estão aprendendo a lidar com as demandas operacionais: 28,2% das empresas afirmam dominar somente o básico para aplicar o recurso, e apenas 25,8% dizem conhecer bem a nova modalidade.
Procurado, o MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) afirmou que não há questões sistêmicas que inviabilizem a operação dos pagamentos e que está implementando melhorias no programa. Entre elas, cita o maior detalhamento das informações entre as partes que operam o serviço, a inclusão da possibilidade de pagamento atrasado e a implementação de processo de fiscalização e cobrança das empresas pelo Ministério.
A pasta afirmou, ainda, que prevê para 2026 a implementação da migração automática do débito quando o trabalhador mudar de emprego. Hoje, a funcionalidade depende da anuência da instituição e do trabalhador para ser efetivada.
O levantamento do Serasa também aponta que, entre as companhias familiarizadas com esse tipo de empréstimo, a inadimplência é mais alta nas empresas de médio porte (43,8%), enquanto as pequenas registram 28,6% dos casos e as grandes, 24,3%.
Por setor, a indústria (38,6%) e o comércio varejista (48%) concentram a maior parte dos casos. “A inadimplência se concentra nas empresas que mais avançaram na adoção do crédito do trabalhador”, diz Lage.
Dados de outubro do Banco Central mostram que a inadimplência do consignado privado em geral (ou seja, um dado que inclui a antiga modalidade) está em 5%, acima do calote de 4,5% do crédito pessoal em geral.
A inadimplência específica do novo consignado é bem mais alta. Dados de agosto do Dataprev mostram que o calote alcança mais de 15% das operações. De uma amostra de 2,1 milhões de contratos fechados entre funcionários e bancos, apenas 84,19% das primeiras parcelas foram efetivamente pagas até agosto.
Lançado em 21 de março pelo Ministério do Trabalho e Emprego, o programa Crédito do Trabalhador ampliou a todos os trabalhadores o mercado do consignado privado, que na prática era restrito a funcionários de companhias de maior porte, que possuem convênio com grandes bancos.
O novo programa passou a permitir a tomada de crédito pelos trabalhadores diretamente com as instituições financeiras através da plataforma da Carteira de Trabalho digital, elevando a concorrência e estimulando a entrada de bancos de menor porte nesse mercado.
A expectativa era de queda nos juros do consignado privado, mas isso não aconteceu.
As taxas de juros do consignado privado estão em 59% ao ano, acima do patamar de 40,9% em fevereiro, antes do lançamento do novo produto, segundo dados de outubro do BC. O crédito pessoal em geral tem uma taxa de juros também menor, de 49,4% ao ano.
“O cenário de desafios operacionais tem implicado de um lado em juros mais altos, e de outro, em uma série de responsabilidades para as áreas de RH”, diz Lage.



