CARACAS, VENEZUELA (FOLHAPRESS) – A Venezuela pediu ajuda à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para deter o que chamou de agressão dos Estados Unidos, que mantêm desde agosto uma operação antidrogas no Caribe, segundo uma carta do ditador Nicolás Maduro divulgada neste domingo (30).

A mobilização americana inclui navios, caças, milhares de militares e o maior porta-aviões do mundo. Caracas afirma que as manobras não têm como objetivo combater o narcotráfico, mas sim derrubar o regime.

“Espero contar com os seus melhores esforços para contribuir para deter esta agressão que acontece com cada vez mais força e ameaça seriamente os equilíbrios do mercado energético internacional”, afirma a carta de Maduro lida pela vice-presidente Delcy Rodríguez durante um comitê ministerial virtual da Opep.

O ditador venezuelano afirma que Washington pretende tirá-lo do poder e assumir o controle das reservas de petróleo do país.

Ele destaca que uma ação militar “coloca em grave perigo a estabilidade da produção de petróleo venezuelana e o mercado mundial”.

No sábado, o presidente Donald Trump advertiu que o espaço aéreo da Venezuela deveria ser considerado “fechado em sua totalidade”.

Na semana passada, Washington emitiu um alerta aéreo devido à crescente atividade militar na zona, que foi acatado por seis companhias aéreas que suspenderam os voos para e a partir da Venezuela.

Neste domingo, a agência de viagens russa ‘Pegas Touristik’, que organizava viagens com frequência para a ilha de Nueva Esparta (norte), também acatou o alerta americano e suspendeu seus voos.

Desde 2021, Venezuela e Rússia assinaram vários convênios turísticos, e Nueva Esparta recebeu milhares de turistas russos, que contribuem para a economia da ilha.

A Venezuela mantém no momento suas duas rotas de voo para a Rússia, aliada do chavismo, com a companhia aérea estatal Conviasa.

O Instituto Nacional de Aeronáutica Civil (Inac) da Venezuela revogou as licenças de operação no país de seis companhias: a espanhola Iberia, a portuguesa TAP, a colombiana Avianca, a filial colombiana da chileno-brasileira Latam, a brasileira GOL e a turca Turkish Airlines.

O regime de Maduro acusa as companhias aéreas de aderirem “às ações de terrorismo de Estado promovidas pelo governo dos Estados Unidos”.

Trump disse na quinta-feira que os esforços para deter os narcotraficantes venezuelanos “por terra” começarão “muito em breve”, mas acrescentou que conversará com Maduro “em algum momento”.

Segundo reportagem publicada pelo jornal The New York Times, o presidente americano e o ditador venezuelano conversaram por telefone na semana passada, com a participação do secretário de Estado, Marco Rubio. O texto atribui a informação a autoridades americanas que falaram sob condição de anonimato.

Os dois líderes teriam discutido a possibilidade de Maduro visitar os EUA e encontrar-se com Trump —o ditador é oficialmente procurado pelas agências antidrogas americanas como suposto líder de uma facção de narcotraficantes, o que ele nega. Pessoas próximas ao regime venezuelano disseram ao NYT que não há visita programada.

Neste domingo, o senador republicano Markwayne Mullin afirmou à CNN que os Estados Unidos ofereceram ao ditador venezuelano a opção de ir para a Rússia ou para outro país. “O próprio povo venezuelano já se manifestou e expressou seu desejo por um novo líder”, disse.

Questionado se Trump planeja atacar a Venezuela, o político de Oklahoma respondeu: “Não, ele deixou muito claro que não vamos enviar tropas para a Venezuela. O que estamos tentando é proteger as nossas próprias costas.”

Outro senador republicano, Lindsey Graham, classificou Maduro de “líder ilegítimo” no sábado (29) e sugeriu que Maduro poderia ser forçado ao exílio. “Ouvi dizer que a Turquia e o Irã são lugares encantadores para visitar nesta época do ano”, disse.

Também neste domingo, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, afirmou que o órgão formará uma comissão especial para investigar os ataques mortais de Washington contra barcos na costa venezuelana e no Oceano Pacífico.

À TV estatal, Rodríguez disse que a investigação analisará uma reportagem publicada na sexta pelo jornal The Washington Post, segundo a qual o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, ordenou que todas as pessoas a bordo de um dos barcos fossem mortas durante um ataque em setembro. Um segundo ataque foi então realizado para matar dois sobreviventes, segundo o texto.