SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Sempre que vai falar sobre “Bugonia”, em cartaz nos cinemas, Emma Stone precisa responder à pergunta: como foi raspar a cabeça para viver a personagem Michelle Fuller? No longa de Yorgos Lanthimos, a CEO de uma empresa farmacêutica é sequestrada por uma dupla de homens que acredita que ela seja uma alienígena infiltrada na Terra.
Como os dois acreditam que ela se comunica com os demais extraterrestres por meio dos cabelos, uma das primeiras providências é passar a máquina na cabeleira da executiva. A cena mostra os fios de verdade da atriz sendo aparados até ela ficar praticamente careca.
Emma, no entanto, minimiza o fato e diz que o diretor não precisou convencê-la de nada. “Ele nem precisou me contar porque já estava no roteiro”, diz ela em bate-papo com jornalistas, do qual o F5 participou. “Faz parte da história do filme porque é assim que, presumivelmente, um Andromediano fala com sua nave-mãe. Então, era assim desde o começo.”
A longa e já lendária parceria com Lanthimos já rendeu filmes como “A Favorita” (2018), “Pobres Criaturas” (2023) e “Tipos de Gentileza” (2024), nos quais ela foi colocada em diversas encruzilhadas emocionais e físicas para dar vida às personagens que ele lhe oferece. Mas será que tem algo que ela não faria mesmo que o diretor quisesse muito?
“É sempre uma pergunta difícil”, comenta ela, argumentando que o combinado não sai caro. “Tudo o que já fiz em um filme do Yorgos estava no roteiro, sabe? A cada filme me perguntam se há algo que eu não faria? E, tipo, não sei. Acho que nós conversaríamos sobre o assunto.”
No caso de “Bugonia”, o processo foi bem fácil, até porque ela já estava muito envolvida com a história. “Eu amei o roteiro desde o primeiro momento em que o li”, afirma a atriz. “Achei tão interessante como minha mente ia e voltava sobre se isso aquilo era verdade ou não, se ela era o que dizem que ela era ou não.”
Assim como ela, o público fica bastante empenhado durante boa parte do filme em tentar entender se o que os dois sequestradores acreditam é apenas uma teoria da conspiração ou se tem algum fundo de verdade. E aí reside o principal desafio do roteiro para a atriz, já que o final não é aberto para interpretações, mas bem concreto.
“O maior desafio foi tentar entender o que as pessoas iriam pensar quando assistissem pela segunda vez”, avalia. “Como atriz, você realmente não quer pensar muito nisso, porque se não você fica se observando demais. Eu geralmente apenas confio no diretor e em seu julgamento, mas foi interessante porque isso parecia muito de fora para dentro.”
“Foi uma nova experiência para mim”, continua ela. “Foi desafiador pensar sobre como seria essa experiência. Entender como tudo estava sendo apresentado e como entrelaçar isso com o linguajar corporativo dela e com seus lampejos de humanidade. Esse foi provavelmente o maior desafio de equilíbrio para mim, eu acho.”
Por outro lado, o que tornou as coisas mais fáceis foi o fato de trabalhar novamente com praticamente a mesma equipe de seus últimos filmes. Jesse Plemons, com quem ela já havia contracenado em “Tipos de Gentileza”, também volta aqui como Teddy Gatz, a mente por trás do sequestro de sua personagem.
“Ter esse conforto e essa comunicação direta foi realmente incrível, porque há tanta coisa acontecendo entre Teddy e Michelle, entre nossos personagens”, comenta ela, que diz que os ensaios foram bem mais tranquilos que os dos filmes anteriores.
A boa relação transparece diante dos jornalistas. Os dois brincam sobre quais teorias da conspiração eles mais gostam na vida real. “A de que os pássaros não existem”, dispara Plemons. “Você acha que simplesmente tem aquele monte de pombos em Nova York? Eu acho que não”, emenda ela, comprando a brincadeira. “Eles são câmeras de espionagem.”
O ator diz que essa temática é particularmente cara a ele. “É óbvio que estamos vivendo em tempos desorientadores e assustadores, cheios de paranoia, medo e tudo mais”, avalia. “Sinto que há uma parte inconsciente de mim que está sempre procurando algo, seja música, arte ou filme, que lide com isso de uma maneira que seja uma exploração verdadeira e honesta, sem tentar tomar posição ou dar algum tipo de mensagem óbvia, moral ou clara.”
Ele elogia o roteiro de Will Tracy, baseado no filme coreano “Save the Green Planet” (2003). “Ele realizou uma espécie de truque de mágica com esses personagens que pareciam representantes perfeitos desses dois lados do mundo, esses arquétipos”, comenta. “Então, como seria se você colocasse essas duas pessoas em uma sala? Essa dinâmica é tão interessante e algo que eu senti que não tinha visto antes.”
Sobre Teddy, ele diz que o fato de o personagem estar sempre à flor da pele é o que mais o instigou. “Teddy mostra cada emoção e você nunca tem qualquer dúvida de como ele está se sentindo em nenhuma situação do filme”, afirma. “Isso é algo que eu realmente respeitei, especialmente hoje em dia, quando parece que tantos de nós, eu incluído, estamos apenas tentando manter essa atitude de, tipo, não, estou mantendo tudo sob controle.”
“BUGONIA”
Quando: Em cartaz nos cinemas
Classificação: 18 anos
Elenco: Emma Stone, Jesse Plemons, Aidan Delbis, Stavros Halkias, Alicia Silverstone e Cedric Dumornay, entre outros.
Direção: Yorgos Lanthimos



