Da Redação
A poucos dias da temporada oficial de festas, Goiânia vive um cenário que mistura surpresa, contradição e questionamentos. Em outubro, o prefeito Sandro Mabel afirmou categoricamente que o tradicional túnel de luz da Praça Tamandaré não seria montado este ano. A justificativa era direta: falta de recursos e necessidade de concentrar esforços no Natal do Bem, organizado pelo governo estadual no Centro Cultural Oscar Niemeyer. A mensagem parecia definitiva, com direito a promessas de uma decoração mais modesta e descentralizada.
Um mês depois, porém, o discurso virou de cabeça para baixo. Em novembro, Mabel lançou o “Natal para Todos”, um pacote amplo de atrações que inclui 15 pontos de iluminação especial por toda a cidade, apresentações culturais e — para surpresa geral — o retorno do túnel de luzes na Tamandaré. A reviravolta, rápida e sem explicações detalhadas, acendeu o alerta sobre transparência fiscal, coerência política e prioridades da gestão municipal.
Durante o lançamento do Natal do Bem 2025, promovido pela OVG, Mabel havia sido enfático ao dizer que a Tamandaré não seria o centro das celebrações e que a prefeitura não teria recursos para estruturas grandiosas. Chegou a afirmar que estudava transferir o túnel para outro ponto da capital. Agora, o prefeito não só recolocou o túnel no mesmo lugar como ampliou a programação natalina para diversas regiões da cidade.
A mudança repentina levantou a pergunta que mais se repete entre moradores e vereadores: o que aconteceu nas últimas semanas para transformar uma falta de verba em um projeto muito maior e mais caro? De onde vieram os recursos que, em outubro, simplesmente “não existiam”?
No lançamento do novo projeto, no Jardim Abaporu, Mabel apresentou uma programação intensa, com corais, teatro, orquestra, GCM Show, presença do Papai Noel e ações culturais em 15 pontos diferentes. E encerrou anunciando aquilo que ele mesmo havia descartado semanas antes: o tradicional túnel de luzes na Praça Tamandaré.
Apesar da festa, a prefeitura ainda não tornou públicos os custos do Natal para Todos, nem os contratos, valores, fornecedores ou fontes de financiamento. Em ano pré-eleitoral, o reposicionamento da gestão alimenta ainda mais desconfiança sobre possíveis motivações políticas. Afinal, Mabel teria voltado atrás por pressão popular? Pelo desgaste nas redes sociais? Ou pelo risco de ser lembrado como o prefeito que acabou com uma das tradições mais simbólicas da cidade?
A própria Câmara Municipal já reagiu. O vereador Fabrício Rosa (PT) criticou a incoerência do governo, afirmando que a cidade vive uma contradição: ao mesmo tempo em que a prefeitura está sob decreto de calamidade financeira — prorrogado recentemente com aval do TCM e da Assembleia —, anuncia uma expansão do Natal que exige investimentos significativos. Para ele, o problema não é a celebração em si, mas a falta de prioridades claras e de transparência no uso do dinheiro público.
O parlamentar também criticou o que considera uma gestão guiada por pressões e improvisos, e disse que recursos deveriam ser direcionados a áreas mais urgentes, como a reabertura do Mutirama e o pleno funcionamento dos CMEIs.
Enquanto isso, nos bairros, o clima é de festa. Moradores comemoram a chegada das luzes e dizem que, pela primeira vez, o Natal chegou até eles — um contraste direto com as discussões políticas que dominam o centro da cidade. A alegria popular não elimina as dúvidas, mas mostra que o impacto emocional das luzes pode ser tão forte quanto a cobrança por explicações.






