LUCAS BRÊDA
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Oasis fez um show de lavar a alma dos fãs no estádio do Morumbi na noite deste sábado (22), em São Paulo. A banda trouxe a turnê “Live ’25”, que reúne no palco os irmãos Noel, guitarrista e vocalista, e Liam Gallagher, vocalista, depois de 16 anos separados.
O que até o ano passado parecia impossível se concretizou diante dos olhos de 68 mil pessoas, segundo a organização do evento. Não só os irmãos, protagonistas de uma das grandes rivalidades da música pop, voltaram a conviver em harmonia –ao menos no palco– como o show mostrou que a performance deles continua à altura de seu repertório.
Na verdade, talvez esteja até melhor do que no fim dos anos 1990 e na década de 2000, quando o Oasis passou a incluir o Brasil em suas turnês. O show no Rock in Rio de 2001 foi o maior em termos de tamanho de público, mas nenhuma das apresentações da banda no país foram unanimidade para a crítica.
Agora, se falta a energia caótica dos anos 1990, a performance também não foi atabalhoada ou sem energia. Liam, aos 53 anos, se esforçou para conseguir soar como nos melhores momentos –ele atingiu as notas altas e o grunhido no fundo da voz manteve a potência.
Diferente de todos os outros três shows do Oasis em São Paulo, desta vez a banda não se apresentou para uma plateia debaixo de chuva –ainda que ela estivesse prevista pela meteorologia. Após um dia de sol e calor, a noite na zona sul foi de temperaturas amenas.
O show de abertura ficou a cargo de Richard Ashcroft, conterrâneo e contemporâneo da atração principal. Ele aqueceu a plateia com os sucessos de sua ex-banda, The Verve, culminando na performance de “Bitter Sweet Symphony”, hit que encerrou o show de 45 minutos sob as luzes dos celulares.
O Oasis entrou em cena por volta de 21h05, com “Hello”, “Acquiesce” e “Morning Glory”. A resposta do público deu o tom de como seria a noite –cervejas para o alto, gente pulando até nas arquibancadas e coros na maior parte do repertório.
A comoção mostrou como a obra do Oasis não perdeu força e pode ter ficado até mais conhecida com o passar dos anos. A banda ficou 18 anos em atividade, além de outros 16 separada. Em 2009, quando tocou em São Paulo pela última vez, o grupo reuniu cerca de 15 mil pessoas. Os dois shows no Morumbi, com ingressos esgotados, totalizarão quase 140 mil presentes.
Se o público se importa mais com o Oasis, o contrário também pareceu verdade. O guitarrista Paul “Bonehead” Arthurs, integrante da formação original, tocou usando uma camiseta da seleção brasileira, de volta à turnê após se afastar para o tratamento de um câncer. Além dele, de Noel e de Liam, a banda teve Gem Archer na guitarra, Andy Bell no baixo e Joey Waronker na bateria.
A sensação geral foi a de que todo mundo ali participava de um momento único, em que deixaram as diferenças de lado para defender um repertório, quase todo dedicado aos três primeiros álbuns — “Definitely Maybe”, de 1994, “(What’s the Story) Morning Glory”, de 1995, e “Be Here Now”, de 1997– e os lados B dessa época que saíram depois.
Esse é o período mais importante do Oasis, que se tornou a maior banda de rock do mundo gravando por um selo independente. A música captava o cotidiano –regado a drogas, permeado por violência e futebol–, os dramas, as tensões entre os irmãos e a sede de vida daquela juventude.
No palco, é como se a banda tivesse dois lados. Um deles são os rocks com influência do punk e camadas densas de guitarras distorcidas, como “Supersonic”, “Rock ‘n’ Roll Star” e “Bring It On Down”. O outro é dedicado às baladas puxadas ao violão –como a sequência cantada por Noel, com “Talk Tonight”, “Half the World Away” e “Little by Little”.
A plateia cantou junto na maior parte das músicas. Em “Cigarettes & Alcohol”, até quem estava nas arquibancadas pulou junto no tradicional “poznan”–quando a plateia pula virada de costas para o palco. A banda pegou a ideia da torcida do Manchester City, clube inglês de futebol pelo qual os irmãos são fanáticos.
A estrutura de palco foi simples e sem estripulias. O telão teve uma animação ou outra, mas não abriu mão do principal –era grande o suficiente e quase sempre exibia imagens da banda em ação. Liam até falou aqui e ali com a plateia, mas tudo foi tudo foi resumido ao essencial –a música. O som estava alto, a camada de guitarras distorcidas e os vocais estavam tinindo.
É um pouco como a própria música do Oasis, que é simples, direta, bebe diretamente dos Beatles, do punk inglês e das guitarras dos Smiths. Nem quando surgiu, há trinta anos, representava alguma novidade no rock, mas ainda assim é capaz de mover multidões.
No palco isso se explicou pela soma da energia dos irmãos. Por mais que Noel cante bem, suas músicas soaram épicas na voz do irmão. Do lado de Liam, ninguém poderia compor nada mais adequado para ele cantar.
Numa era marcada por artistas solo, o Oasis mostrou como a música pode crescer quando tocada por uma banda. Não foi nada além daquela junção no palco que emocionou a massa em São Paulo.
A turnê “Live ’25” chega ao fim neste domingo, no mesmo estádio. Dado o sucesso da excursão, não é de se estranhar que ela seja estendida. Mas, em se tratando dos irmãos Gallagher, não dá para saber o que vem por aí.






