Da Redação

As temperaturas sufocantes que dominaram outubro de 2025 em Goiás transformaram-se em mais do que desconforto e ar seco: elas provocaram um crescimento histórico no consumo de energia, colocando pressão sobre setores urbanos e rurais. Dados da Equatorial Goiás revelam que o uso residencial saltou 14% em relação a setembro, atingindo média de 240 kWh por unidade — o maior volume já registrado para o mês e acima do recorde de 2024.

O calor extremo fez disparar o uso de sistemas de refrigeração, como ar-condicionados, ventiladores, freezers e equipamentos comerciais que dependem de temperatura controlada. Segundo Roberto Vieira, superintendente técnico da Equatorial Goiás, a concessionária reforçou o monitoramento do sistema elétrico e adotou manobras operacionais para equilibrar a rede em pontos onde a demanda explodiu.

Vieira afirma que, mesmo com a sobrecarga típica do período, não houve aumento relevante de falhas ou quedas de energia, resultado que ele atribui ao plano contínuo de manutenção e investimentos iniciados após a chegada da empresa ao estado, no fim de 2022. As equipes do Centro de Operações Integradas, que trabalham 24 horas por dia, teriam sido decisivas para evitar instabilidades.

A empresa também destaca o avanço das obras de reforço na rede. Apenas no terceiro trimestre deste ano, mais de 140 mil intervenções estavam em andamento nas regiões Centro, Sul, Sudoeste, Norte e Nordeste do estado — 54 mil já concluídas. Desde o início da concessão, os aportes equivalem, segundo a empresa, a R$ 5,8 milhões investidos diariamente.

Ao custo maior causado pelo calor, soma-se a bandeira tarifária vermelha patamar 1, ativada pela Aneel devido ao período seco e ao acionamento de termelétricas. O adicional de R$ 4,46 a cada 100 kWh consumidos elevou ainda mais as contas de energia justamente quando o uso de refrigeração é inevitável.

No campo, irrigação e climatização puxam a demanda

O agronegócio também sentiu o impacto. Leonardo Machado, da Faeg, explica que o principal fator de aumento no consumo rural é a irrigação emergencial de lavouras plantadas cedo e submetidas a longos períodos sem chuva. O uso de pivôs centrais, que deveria ser menor no período chuvoso, tornou-se indispensável para evitar perdas.

Além das lavouras, granjas e sistemas produtivos sensíveis ao calor exigem climatização constante para manter a produtividade, o que intensifica ainda mais a demanda por energia.

Empresas enfrentam custo elevado e risco operacional

No setor empresarial, o impacto aparece tanto nas despesas como no temor de instabilidades no fornecimento. Segundo Rubens Fileti, presidente da Acieg, segmentos como indústrias de alimentos, saúde, cosméticos, shoppings, atacarejos, grandes restaurantes, data centers e empresas de tecnologia são os mais pressionados pelo aumento das temperaturas.

Fileti observa que, apesar do cenário extremo, o volume de reclamações não cresceu em comparação a anos anteriores, já que quedas e interrupções pontuais são comuns no período seco.

Alta deve continuar nos próximos meses

Com o verão se aproximando, as férias escolares e o crescimento natural do consumo em dezembro e janeiro, a expectativa é de que a demanda por energia permaneça elevada. A Equatorial afirma estar preparada para o período, apoiada em ações preventivas, expansão da rede e monitoramento constante.

Diante de previsões de novos episódios de calor extremo, especialistas destacam que a pressão sobre o sistema elétrico deve continuar, exigindo investimentos contínuos e segurança energética para garantir estabilidade tanto no campo quanto nas cidades.