A REDAÇÃO

O diretor Jon M. Chu, de 46 anos, compartilhou os bastidores e reflexões que envolveram a produção de Wicked: Parte II, filme que estreia nesta quinta-feira (20) nos cinemas e conclui a adaptação cinematográfica do musical que há mais de duas décadas atrai público na Broadway. Chu, pai de cinco filhos, iniciou o projeto durante a pandemia de covid-19 e afirma que sua própria experiência familiar influenciou decisões criativas, especialmente no que diz respeito às mensagens de esperança e às questões morais presentes na história.

A segunda parte do filme aborda o ato final do espetáculo teatral e já foi planejada desde o início, sendo filmada simultaneamente ao primeiro longa, com intervalo de um ano entre os lançamentos. Nesta continuação, a narrativa se encontra com eventos de O Mágico de Oz, ainda que Dorothy não esteja no centro da trama. Agora considerada uma fugitiva, Elphaba, interpretada por Cynthia Erivo, segue em sua luta pelos direitos dos animais enquanto é vista como ameaça por toda a população de Oz, ao passo que Glinda, vivida por Ariana Grande, assume a imagem de heroína. Para Chu, esta etapa da história marca a ruptura do tom de conto de fadas apresentado anteriormente e amplia o debate sobre como manter esperança em meio a um cenário caótico.

O diretor revela que sua preocupação com o futuro dos filhos pesou na decisão de aceitar o projeto em 2021. Ele diz acreditar no poder da imaginação e reflete sobre como transmitir valores sem cair em divisões rígidas entre o que é “certo” ou “errado”. Segundo ele, a escolha diária de qual posição tomar é um dos elementos centrais de Wicked e guiou o desenvolvimento do roteiro. A produção também optou por não incluir flashbacks nem recapitulações do primeiro filme, confiando no envolvimento do público e buscando aprofundar o foco na relação entre Elphaba e Glinda, orientação reforçada pela equipe criativa da peça teatral.

Com novas camadas dramáticas, Parte II expande momentos decisivos do musical, intensificando os conflitos e reforçando o peso emocional das escolhas das protagonistas. Embora as canções mais populares estejam no primeiro filme, esta etapa apresenta números inéditos, como No Place Like Home e The Girl in the Bubble, criados em colaboração com o compositor Stephen Schwartz e a dramaturga Winnie Holzman. As faixas aprofundam o estado emocional das personagens, abordando temas como pertencimento, responsabilidade e amadurecimento.

Chu também cita mudanças importantes em relação ao espetáculo teatral. Uma delas é a presença de Glinda na cena em que Elphaba retorna ao encontro do Mágico, interpretado por Jeff Goldblum. A decisão surgiu da necessidade de tornar crível a tentação enfrentada pela protagonista, que é convidada a se aliar a ele mediante concessões à verdade. O diretor explica que a participação de Glinda foi essencial para justificar o dilema da personagem, levando a ajustes em diálogos e músicas, como Wonderful, reestruturada para refletir a lógica do sistema que tenta controlar a narrativa de Oz.

O cineasta entende Wicked: Parte II como um filme sobre as consequências das escolhas individuais, enquanto o primeiro representaria uma resposta. Chu afirma que, embora abandonar estruturas injustas seja discutido na ficção com frequência, na vida real esse movimento é complexo e exige coragem. Ele admite que os dilemas de Elphaba dialogam com sua própria carreira, dividida entre realizar produções independentes e filmes de grande escala, que permitem comunicar mensagens a um público mais amplo.

Mesmo que o musical seja frequentemente interpretado como metáfora política, Chu prefere observar a história por uma perspectiva humana, afirmando que Wicked trata das reações das pessoas ao poder, de seus instintos e de suas decisões diante da adversidade. O diretor também reconhece o caráter simbólico do desfecho da trama e afirma que Elphaba pode ser interpretada como figura espiritual caso o público deseje, deixando aos espectadores a responsabilidade de refletir sobre o que farão com o “poder” simbólico que ela entrega.

Além de Wicked, Chu já dirigiu produções como Podres de Ricos e Em um Bairro de Nova York, além de documentários e séries. Ele também trabalha em projetos futuros, incluindo adaptações de Hot Wheels e novas produções ligadas a Podres de Ricos. Para o diretor, porém, Wicked representa uma obra de longa permanência, destinada a atravessar gerações. Ele diz esperar que sua carreira continue diversificada e que possa produzir obras variadas ao longo dos anos, sempre em busca de novos desafios como contador de histórias.