Da Redação

O fechamento parcial da Rua 8 para pedestres, implantado pela prefeitura desde agosto de 2025, reacendeu um debate antigo: como revitalizar de fato o Setor Central de Goiânia? O projeto, batizado de “Ocupa o Centro” e originado de uma lei da vereadora Aava Santiago (PSDB), tenta resgatar a vocação cultural da tradicional Rua do Lazer. Três meses após sua implementação, porém, especialistas e moradores questionam se a iniciativa não corre o risco de se limitar a uma intervenção isolada em apenas uma rua.

A lei que deu origem ao programa percorreu um longo caminho até sair do papel. Proposta por Aava em 2021, aprovada em 2024 após disputa com o Executivo e finalmente promulgada no fim daquele ano, ela determina o fechamento da Rua 8 – entre a Avenida Anhanguera e a Rua 4 – às sextas e sábados, a partir das 18h, e durante todo o dia aos domingos e feriados. A ideia é devolver o espaço ao pedestre e fortalecer o uso cultural da região.

Desde agosto de 2025, o trecho tem recebido shows, bares abertos, feiras e um fluxo cada vez maior de visitantes. Para muitos frequentadores, o resultado imediato foi uma melhora na sensação de segurança e um estímulo a novas programações. Há quem veja na iniciativa a consolidação de um movimento que já acontecia de forma espontânea, mas que agora ganhou respaldo oficial.

Ao mesmo tempo, os entraves começaram a aparecer. O Cine Ritz, cinema de rua mais antigo em funcionamento em Goiânia, relatou vandalismo, queda no público e tumulto após o fechamento da via. A direção afirma não ter sido consultada e reclama da falta de segurança, excesso de barulho e dificuldade de estacionamento — fatores que, segundo o cinema, afastaram famílias e público cativo.

Especialistas também levantam críticas mais profundas. Para o urbanista Fred Le Blue, a cidade está apostando em “urbanismo de uma só rua”. Ele argumenta que a renovação precisa vir acompanhada de infraestrutura básica — calçadas adequadas, iluminação, limpeza, segurança — e não pode ignorar a lógica de todo o Centro, que segue sofrendo com esvaziamento, comércio decadente e pouca circulação após o anoitecer. Le Blue também alerta para o risco de elitização: a valorização repentina pode elevar aluguéis e expulsar a população tradicional, apagando a identidade histórica da região.

A professora Maria Ester de Souza concorda e critica soluções que tratam o Centro como vitrine, sem atenção à vida cotidiana do bairro. Já o professor de cinema Lisandro Nogueira defende uma política urbana ampla, capaz de estimular moradia, cultura e vida noturna — estratégia que já transformou centros urbanos em cidades como Curitiba.

A vereadora Aava, por sua vez, sustenta que o “Ocupa o Centro” é apenas parte de um conjunto maior de medidas em discussão na Câmara, incluindo incentivos culturais e expansão do calçadão da Rua do Lazer. A administração do prefeito Sandro Mabel também estuda reordenar o planejamento para priorizar outras áreas antes da Rua 8, como o Jóquei Clube, a Rua 3 e a Avenida Goiás, com ações de paisagismo e recuperação de fachadas.