Da Redação

Anunciada como um marco histórico para o Norte do país, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém, acabou se transformando em um espelho das contradições brasileiras: ambição global e execução desorganizada.

Desde 2023, o governo federal promoveu a escolha da capital paraense como símbolo da Amazônia e vitrine ambiental do Brasil. Mas, ao fim da conferência, o que se viu foi uma mistura de frustrações, altos custos e críticas à forma como o evento foi conduzido.

A expectativa inicial era de uma grande participação internacional, com cerca de 120 chefes de Estado e delegações de 190 países. O que se confirmou, porém, foi uma presença muito abaixo do esperado — tanto de líderes políticos quanto de visitantes estrangeiros. A estrutura, pensada para receber 200 mil turistas, ficou longe disso.

Além da baixa adesão, os problemas de infraestrutura chamaram atenção: hospedagens inflacionadas, alimentação cara e falta de preparo da cidade para lidar com um evento desse porte. A imprensa estrangeira destacou, mais do que os debates ambientais, os preços abusivos e a precariedade de alguns hotéis improvisados.

Para analistas políticos, o caso da COP30 reflete um padrão recorrente em grandes eventos realizados no Brasil — entusiasmo inicial, gastos bilionários e resultados práticos limitados. Assim como ocorreu na Copa de 2014 e nas Olimpíadas de 2016, a promessa de legado e transformação deu lugar à sensação de desperdício e superfaturamento.

Especialistas também questionam o formato dessas conferências. Em vez de priorizar discussões técnicas e científicas sobre soluções climáticas, elas acabam se tornando vitrines políticas, com pouca efetividade nas decisões. “A COP deveria ser um espaço de construção e inovação, mas se tornou um evento de marketing ambiental”, resumiu um pesquisador ouvido pela imprensa local.

Apesar dos erros, Belém saiu com uma visibilidade inédita. A cidade, conhecida por sua riqueza cultural e pela força do Círio de Nazaré, ganhou destaque global — ainda que acompanhada de críticas.

Quando os palcos forem desmontados e as delegações deixarem o Pará, restará à população local o desafio de transformar o que ficou em algo concreto. E quem sabe, no futuro, fazer da capital paraense um exemplo de sustentabilidade real — sem precisar de tapetes vermelhos ou discursos vazios.