Da Redação
A cidade de Belém, capital do Pará, assume nesta segunda-feira (10) um papel histórico: é, pela primeira vez, sede da Conferência das Partes sobre Mudança do Clima (COP30), o principal evento global sobre meio ambiente e sustentabilidade. Até o dia 21 de novembro, líderes e representantes de 194 países e da União Europeia estarão reunidos para discutir soluções concretas para conter o avanço do aquecimento global.
Realizada pela primeira vez em plena Amazônia, a COP30 acontece em um dos biomas mais ricos e estratégicos do planeta — essencial para o equilíbrio climático mundial. A estimativa é que mais de 50 mil pessoas participem do evento, entre autoridades, cientistas, ambientalistas e movimentos sociais.
O Brasil no centro das atenções
A escolha de Belém como sede reforça o protagonismo brasileiro nas discussões ambientais. Durante a Cúpula do Clima, que antecedeu o evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que esta deve ser “a COP da verdade”. Segundo ele, chegou o momento de transformar discursos em compromissos concretos, com planos de transição energética e abandono progressivo dos combustíveis fósseis.
“Não dá mais para adiar. Precisamos de um mapa do caminho para a transição climática, com prazos e financiamento definidos”, afirmou o presidente.
Desafios globais
Apesar do otimismo, o cenário internacional é desafiador. Conflitos armados, a retomada de políticas negacionistas em alguns países e o aumento das emissões de CO₂ em 2024 reacenderam o alerta. Das quase 200 nações que assinaram o Acordo de Paris, apenas 80 atualizaram suas metas de redução de gases poluentes — as chamadas NDCs. Isso significa que um terço dos grandes emissores ainda não apresentou novos compromissos.
Para o ambientalista Márcio Astrini, do Observatório do Clima, a ausência de metas claras enfraquece a credibilidade global. “A promessa de reduzir emissões existe, mas muitos países ainda não mostraram o que pretendem fazer. A COP30 precisa romper essa inércia”, avaliou.
Temas centrais das negociações
Três frentes principais devem dominar as discussões:
- Adaptação climática: preparar cidades e regiões para lidar com desastres extremos, como secas, enchentes e tornados;
- Transição justa: garantir que trabalhadores e comunidades impactados pela transição energética tenham suporte econômico e social;
- Financiamento climático: criar um fundo global robusto para ajudar países em desenvolvimento a implementar políticas sustentáveis.
Nesse sentido, o “Mapa do Caminho de Baku a Belém”, apresentado recentemente, propõe mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano em investimentos para impulsionar a economia verde.
O papel da Amazônia e da sociedade civil
A conferência também marca um novo capítulo para a participação popular. Além dos espaços oficiais de negociação, Belém abriga a Zona Verde, área gratuita aberta ao público, onde organizações, universidades, povos indígenas e movimentos sociais apresentam soluções e projetos de inovação.
Um dos destaques será o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que reúne mais de US$ 5,5 bilhões destinados à preservação de florestas e comunidades tradicionais em cerca de 70 países.
O clima de mobilização deve se intensificar com a Cúpula dos Povos, encontro paralelo que reunirá mais de 3 mil representantes indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Uma barqueata no Rio Guamá e uma marcha pelas ruas de Belém estão previstas para os próximos dias.
Para Dinamam Tuxá, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a presença desses grupos é fundamental. “Queremos estar na mesa de negociação como protagonistas, não como convidados. As soluções para o clima passam por quem vive e protege os territórios todos os dias”, afirmou.
Entre desafios políticos, promessas de financiamento e a urgência por ações efetivas, a COP30 transforma Belém em um símbolo global de esperança e resistência. O planeta observa — e espera que, desta vez, as palavras se transformem em compromissos reais.







