SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A estratégia da 99Food para ganhar o mercado de delivery brasileiro, serviço que retomou neste ano após ter encerrado as operações em 2023, tem entre seus principais focos o transporte multimodal, que envolve carro, moto e entrega de comida.
A empresa, controlada pelo grupo chinês DiDi, aguarda o fim do prazo de 90 dias determinado pela Justiça de São Paulo para iniciar o serviço de mototáxi na capital paulista, maior mercado da companhia no Brasil, com fatia de 20% da operação. Será a única plataforma do país a reunir, no mesmo app, corridas de carro, moto e delivery nas cidades em que atua.
A ideia é que o usuário encontre num só lugar diversos serviços, enquanto os motociclistas poderão transportar pessoas, objetos e comida, potencialmente maximizando seus ganhos.
O aplicativo planeja investimentos de R$ 2 bilhões no Brasil até junho de 2026 e diz que aumentar o ganho de entregadores e restaurantes e baixar o preço ao consumidor é a forma de crescer no mercado. O valor a ser investido é o dobro do divulgado em abril deste ano, quando anunciou a retomada do serviço de entrega de comida.
Em outros municípios, como o Rio de Janeiro, a multimodalidade permite promoções como o pagamento de R$ 250 por dia a motociclistas que fazem ao menos 20 viagens pelo aplicativo, sendo cinco delas no delivery. A expectativa é repetir o modelo em São Paulo.
“Todo mundo quer, no final do dia, ter mais renda para sustentar a família. Hoje, sem a multimodalidade, cada corrida precisa ter um ganho fixo, porque não há demanda suficiente. Isso acaba elevando as taxas de entrega e encarece o serviço para o consumidor”, afirma à Folha Simeng Wang, diretor-geral da 99 no Brasil.
A retomada do serviço de delivery começou em junho deste ano por Goiânia, onde, em 50 dias de testes, a plataforma registrou mais de 1 milhão de pedidos. Em seguida, chegou a São Paulo e, em outubro, ao Rio de Janeiro, com investimentos de R$ 500 milhões e R$ 350 milhões, respectivamente.
“Estamos vendo que a nossa tese de investimento está virando realidade. Essa tese é que o mercado pode crescer muito com mais ‘players’. E com o crescimento, a gente vai ter um retorno”, diz.
As pesquisas internas da 99 apontam o preço como principal barreira ao crescimento do delivery no Brasil, tanto para consumidores quanto para restaurantes e entregadores. A integração entre motos, carros e o investimento ainda maior em veículos elétricos deve ajudar a reduzir custos logísticos e taxas ao consumidor, ampliando a eficiência.
“A nossa tese é que o consumidor quer um prato, um delivery mais acessível, mais barato, com custo mais baixo. Os entregadores querem mais demandas multimodais e o restaurante quer uma comissão mais baixa para que consiga investir e colocar um preço mais baixo no prato.”
Segundo ele, a nova fase da 99 corrige erros da primeira tentativa, marcada pela falta de adaptação às diferenças regionais. “O Brasil é muito grande e diverso. Em 2020, faltou foco estratégico, esse foi nosso maior erro”, diz. Agora, cada região tem um plano próprio e a expansão para cem cidades até meados de 2026 deve vir aos poucos.
Com 4 milhões de pedidos de comida por dia no país, ante 70 milhões na China, segundo dados de pesquisa da empresa, a 99 vê espaço para crescimento.
“O crescimento do mercado vai vir com mais usuários, mais frequência de uso. Queremos que o consumidor pague menos taxa e que o mercado cresça de forma mais eficiente”, diz. A plataforma tem 55 milhões de usuários cadastrados.
A frequência de uso é uma estratégia crucial para que a empresa consiga, por meio de IA (inteligência artificial), mapear os usuários, a preparação dos pratos, a velocidade da entrega e o trânsito. Hoje, o app já conta com o tempo de funcionamento do semáforo para quem trabalha por transporte de passageiros.
MARKETING PROVOCATIVO
“Saia do vermelho” é o slogan usado na retomada do negócio, em referência direta ao principal concorrente, o iFood. No entanto, Wang afirma que a intenção não é retirar fatia do mercado das concorrentes, mas chamar a atenção do consumidor.
“Essa postura de comunicação é o nosso DNA. Mas isso não significa estratégia de roubar clientes desse concorrente. A gente precisa se posicionar diferente para chamar a atenção daquela pessoa que não está usando [a 99Food].”
ENCONTRO COM LULA
Em encontro recente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Wang apresentou os planos de expansão da 99 e anunciou a intenção de dobrar os investimentos no Brasil. Ele diz que vem investimento em conversas com o governo e afirma apoiar a regulamentação dos aplicativos.
“A gente comentou sobre a regulamentação, e o presidente é muito ciente de que a 99, desde o início de trabalho do grupo com o Ministério de Trabalho e Emprego [em 2023], já está ativamente participando das discussões, contribuindo com as ideias na regulamentação de quatro rodas. Somos uma força ativa de diálogo, acreditamos que esse diálogo consegue ter políticas melhores para todos os lados.”
DISPUTA JUDICIAL
Na Justiça, a 99Food sofreu um revés em outubro, que foi revertido nesta sexta-feira (7). A 3ª Vara Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) havia considerado ilícitas e derrubado cláusulas de exclusividade em contratos, em ação movida pela Keeta, empresa de delivery do grupo chinês Meituan.
Na decisão desta sexta, segundo a coluna Mônica Bergamo, o desembargador Sérgio Shimura disse que a decisão anterior poderia causar grave prejuízo à 99. Antes, o juiz Fábio Henrique Prado de Toledo tinha entendido que as cláusulas impediam a livre concorrência.
A 99Food afirma ter retirado as cláusulas em agosto e disse que elas eram lícitas e “instrumentos necessários para a competição”.
RAIO-X – 99
Fundação: 2012
Sede: São Paulo (SP)
Funcionários: 1.700
Presença: 3.300 cidades e 55 milhões de usuários; atua ainda no México, Colômbia, Costa Rica e Peru
Marcas ou empresas do grupo: a 99 é uma marca do DiDi International Business Group, do qual pertencem a 99 e a 99Food
Faturamento 2024: a 99 não divulga faturamento







