SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa de Valores brasileira renovou o recorde histórico mais uma vez nesta sexta-feira (7), tendo encerrado o pregão em alta de 0,47%, a 154.063 pontos.
É a primeira vez que o Ibovespa fecha em 154 mil pontos na história, embora já tenha encostado nesse patamar na véspera, quando renovou a máxima intradiária ao chegar em 154.352 pontos.
Com isso, a Bolsa completa 13 pregões consecutivos de alta e 10 de renovação do recorde histórico.
Já o dólar encerrou a semana cotado a R$ 5,335, em queda de 0,24% em relação à sessão anterior. O movimento do mercado de câmbio doméstico seguiu o do exterior, com a moeda norte-americana perdendo ante a maior parte das divisas. O índice DXY, que compara o dólar a uma cesta de outras seis moedas fortes, caiu 0,15%, a 99,56 pontos.
Em dia de agenda esvaziada, os investidores repercutiram dados da economia chinesa e ainda pesaram os eventos da semana, como a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de quarta-feira.
Destaque do dia, as exportações da China caíram de forma inesperada em outubro, a 1,1% na comparação mensal, revertendo o aumento de 8,3% registrado em setembro e abaixo das expectativas de alta de 3% de economistas ouvidos pela Reuters.
O resultado, segundo analistas, reflete os efeitos das tarifas impostas pelo governo Donald Trump a produtos chineses.
“Parece que a corrida para enviar mercadorias para os EUA antes do aumento das tarifas diminuiu em outubro”, disse Zhang Zhiwei, economista-chefe da Baoyin Capital Management. “Com o ímpeto das exportações agora diminuindo, a China pode precisar depender mais da demanda interna.”
A segunda maior economia do mundo tem se esforçado para diversificar seus mercados de exportação desde que Trump venceu a eleição presidencial de novembro passado, preparando-se para uma retomada da guerra comercial que dominou seu primeiro mandato e buscando laços comerciais mais estreitos com o Sudeste Asiático e a União Europeia.
Mas nenhum outro país chega perto de igualar as vendas anuais da China de mais de US$ 400 bilhões em mercadorias para os EUA, uma perda que os economistas estimam ter reduzido o crescimento das exportações da China em cerca de 2 pontos percentuais, ou aproximadamente 0,3% do PIB.
Só na relação com os Estados Unidos, as exportações chinesas caíram 25,17% ante o ano anterior. Para a União Europeia e economistas do Sudeste Asiático, os dados mostraram crescimento de 0,9% e 11%, respectivamente.
“Isso reforça a preocupação de que o ambiente de tensões comerciais entre os dois países pode prejudicar o crescimento econômico global, puxado por uma desaceleração da atividade chinesa”, diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX. Como o país é o principal importador de commodities, o merccado antevê uma queda também no preço dessa categoria.
“A tendência de queda nos preços das commodities diminui as receitas esperadas para as exportações chinesas, o que faz pressão sobre o real.”
Além disso, os investidores também adotaram cautela diante de preocupações com uma queda do setor de tecnologia da Bolsa dos Estados Unidos. Na terça, executivos de Wall Street disseram prever perdas de 10% no mercado de ações norte-americano em até dois anos, em meio a temores de que os papéis ligados à inteligência artificial estejam valendo mais do que deveriam.
A conversa é de uma bolha. Preocupações persistentes sobre excesso de capacidade e se a onda de investimentos pode entregar retornos significativos vieram à tona na quinta-feira da semana passada, quando Alphabet, Meta e Microsoft, três das chamadas “Sete Magníficas”, anunciaram planos de gastos de centenas de bilhões de dólares em IA.
Espera-se que a pesada aposta em infraestrutura para essa tecnologia desacelere os lucros nas principais big techs. “A preocupação de que a IA não vai trazer as receitas e a rentabilidade esperadas no curto prazo para justificar essas ondas de investimento maciços inspira temores, e isso tem provocado uma correção global nesses ativos, afetado o apetite por risco”, diz Mattos.
Já na ponta doméstica, analistas pesaram a decisão do Banco Central, anunciada na quarta, de manter a Selic em 15% ao ano.
No comunicado, o Copom avalia como suficiente a estratégia de manter a taxa no nível atual por período “bastante prolongado” para a convergência da inflação à meta. Parte dos economistas acreditava que o Copom retiraria o advérbio “bastante” da frase, abrindo espaço para ajustes mais cedo, o que não ocorreu.
No mercado de câmbio, quanto maior o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, melhor para o real. Quando a taxa por lá cai como ocorreu nas últimas duas reuniões do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de “carry trade”.
Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro. O aporte aqui implica na compra de reais, o que desvaloriza o dólar.
Para Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, a decisão do Banco Central, vista como sinal de independência e firmeza na condução da política monetária, “reforçou o carry trade do local e sustentou o real” durante o pregão.
Já na cena corporativa, o resultado da Petrobras foi destaque. A estatal registrou lucro líquido de R$ 32,7 bilhões no terceiro trimestre de 2025, alta de 0,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Sem considerar eventos extraordinários, porém, o lucro caiu 6,1%, para R$ 28,5 bilhões.
Pelo desempenho, a Petrobras anunciou a distribuição de R$ 12,1 bilhões em dividendos. No ano, a estatal acumula lucro de R$ 94,5 bilhões e dividendos de R$ 32,4 bilhões.
O resultado é positivo, segundo João Daronco, analista CNPI da Suno Research. “Mesmo em um momento mais difícil, a empresa demonstra resiliência operacional”, afirma.
As ações preferenciais e ordinárias decolaram 3,51% e 4,80%, respectivamente. A forte alta da petroleira puxou o Ibovespa para cima, mas teve a Vale como contra-peso, em queda de 1,22% por causa dos resultados da balança comercial chinesa.




