SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A BR-262, conhecida mundialmente como “rodovia da morte”, é uma das principais responsáveis pelos atropelamentos de animais silvestres no Pantanal. Entre maio de 2023 e abril de 2024, 2.300 animais foram atropelados em 350 km da rodovia, entre Campo Grande e a Ponte do rio Paraguai, segundo dados do ICAS (Instituto de Conservação de Animais Silvestres).

Rodovia é retratada no documentário “Cuidado – Animais na Pista”, que denuncia o grave impacto da via na biodiversidade da região. Dirigido por Sandro Kakabadze, para o Documenta Pantanal, o filme ouve especialistas e relembra casos emblemáticos, além de propor ações para reduzir os impactos.

Tatus, anfíbios, jacarés e cachorros-do-mato são frequentemente encontrados mortos, segundo o ICAS. Estimativas apontam que entre 2 mil e 5 mil são vítimas anualmente na BR-262. Não há, porém, detalhes do período exato analisado para coleta dos dados.

O filme conta a história de “Ty”, tamanduá-bandeira monitorado desde o nascimento que morreu às margens da BR-262. “Sabemos que a tragédia desse indivíduo se repete continuamente em rodovias de todo o país”, afirmou Arnaud Desbiez, presidente do ICAS.

Voluntários percorreram a BR-262 recolhendo animais mortos e denunciaram ao DNIT em Mato Grosso do Sul a “carnificina diária”. Eles foram recebidos pelo superintendente, que explicou os entraves para implementar as soluções. “O plano licitado para reduzir atropelamentos tem valor de R$ 30,27 milhões e prevê 185 km de cercamentos, que direcionarão os animais para passagens de fauna existentes e 18 novas, recém-implantadas”, afirmou Euro Varanis.

“Além do fator animal, há o fator humano: muitas vidas se perdem nesses acidentes”, afirmou Gustavo Figueirôa, do Instituto SOS Pantanal. Ele reforçou que a responsabilidade pela segurança nas estradas é das agências públicas e concessionárias.

“Os pantaneiros sempre viveram em harmonia com a natureza, e a BR-262 não pode ser diferente. Hoje, ela corta o coração do Pantanal e ameaça a biodiversidade. Assim como o homem pantaneiro se adaptou, a estrada deve respeitar o fluxo das águas, da vida selvagem e das pessoas”, disse Gustavo Figueirôa.

Observatório, criado em 2024, reúne seis ONGs de Mato Grosso do Sul para reduzir atropelamentos de fauna. Formado pelas ONGs, ICAS, Instituto Homem Pantaneiro, Instituto Libio, INCAB/IPE, Onçafari e SOS Pantanal, o grupo para busca fortalecer o debate público e colocar a segurança de pessoas e animais no centro das políticas de meio ambiente e transporte.

“Desde 2020, sabíamos os trechos críticos da BR-262 e apresentamos projetos às autoridades, mas nada foi feito. Por isso, criamos o Observatório Estrada Segura para Todos, para cobrar medidas de mitigação”, disse Raquel Machado, fundadora do Instituto Líbio.