BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Investimento verde e financiamento climático são palavras de ordem em Belém, palco da COP30 a partir da próxima semana. Para o setor privado, isso já é página virada. “A fase de convencimento já passou”, diz Marina Cançado, fundadora da Converge Capital e coidealizadora do Climate Implementation Summit, que ocorre neste sábado, em São Paulo.
O evento promete reunir mais de 500 CEOs, líderes internacionais e os principais agentes governamentais da COP30, como Dan Ioschpe, encarregado do diálogo com o setor privado, Ana Toni, diretora-executiva, e o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da conferência.
Completam a lista de convidados para os debates executivos de, entre outros, Itausa, Suzano, Rabobank, Vale e Citrosuco, assim como ambientalistas: o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore, Jens Nielsen, fundador do World Climate Foundation, e Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente.
“Os últimos anos foram de convencimento, agendas, teses, de que ‘não tem outro caminho’, de que existem soluções que já fazem sentido econômico, outras ainda não”, diz Cançado. “A conversa se deslocou agora para a estruturação do design, de colocar os diferentes atores na mesa e achar soluções”, afirma a executiva.
Cançado diz ter percebido a mudança de tom inclusive nos discursos nesta semana, no Rio, que abrigou outros eventos relacionados à conferência, como o prêmio Earthshot, do príncipe William. Segundo ela, o debate já é sobre “inovações que implicam inclusive redesenhar a arquitetura do sistema financeiro, projetado para um outro mundo, outra dinâmica de risco”.
Se as mudanças na indústria de seguros são um exemplo de adaptação forçada a este novo planeta, cada vez mais sujeito a eventos climáticos extremos e custosos danos materiais e humanos, a outros que já se explicam pela oportunidade.
Cançado cita com entusiasmo o Ecoinvest, desenvolvido pelo Tesouro Nacional, que usa o chamado capital catalítico para alavancar investimentos privados. “Se você perguntar para os bancos brasileiros qual foi a mudança que mudou a capacidade deles de investir em projetos alinhados a clima e natureza, todos vão responder que foi o Ecoinvest.”
“São bilhões de reais reduzindo o custo de capital para se emprestar dinheiro para determinadas temáticas.”
A COP no Brasil já alavanca outros mecanismos relacionados à economia verde. Do lado governamental, o instrumento mais falado é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), que arrecadou mais de US$ 5 bilhões nesta semana. O governo brasileiro planeja arrecadar ao menos US$ 25 bilhões até 2026 com governos, fundos soberanos e doadores e alavancar outros US$ 100 bilhões no mercado.
Esse volume de recursos permitiria remunerar de um lado quem conserva a cobertura vegetal, comunidades incluídas, e de outro os investidores, de acordo como o Ministério da Fazenda. O mecanismo é inovador a ponto de gerar receio entre ambientalistas e agentes financeiros.
“Os instrumentos-padrão de mercado não vão dar conta dessa nova realidade, as instituições estão inquietas. Os bancos vão ter que criar hubs para pensar novas estruturas e produtos”, projeta Cançado.
No caso específico das florestas, a executiva percebe certo esgotamento nos modelos convencionais, como o Fundo Amazônia, baseado em doações. “A gente está falando de bilhões de hectares, só filantropia não dará conta. Essa estrutura blended [capital público e privado] é importante.” Fundações e family offices acompanham com interesse o desenvolvimento do projeto, ela diz.
Sobre o evento que organiza neste sábado junto com outras entidades, Cançado conta que a estrutura reproduz a divisão de trabalhos da COP, com seis eixos específicos de atuação. O encontro deve trazer 30 soluções verdes em andamento oriundas do setor privado em diversas áreas sistemas alimentares, florestas, transportes, transição energética, instrumentos financeiros e cidades.
“Não estamos falando de soluções de governo, mas de empresas, de iniciativas transformadoras que podem ser expandidas para outras empresas.”
Sobre o fato de eventos de alto nível pré-COP estarem sendo realizados no Rio e em São Paulo, devido aos problemas de logística em Belém, Cançado empresta o mote escolhido pelo governo Lula para a conferência para comentar a situação, “mutirão”. “É isso. A gente precisa de todo mundo engajado na conversa e fazendo sua parte. O importante é a conexão acontecer, com todos juntos em Belém ou não.”




