SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O príncipe William usou a sua primeira visita ao Brasil para reafirmar a imagem de líder global que vem tentando criar nos últimos meses, quando passou a comparecer a mais eventos públicos devido às limitações de seu pai, o rei Charles 3º, que trata um câncer desde fevereiro de 2024.
Em vez de questões nacionais, o herdeiro do trono do Reino Unido tem escolhido temas globais para criar sua imagem pública. Entram na lista tópicos como saúde mental, falta de moradia e meio ambiente este último, oportuno para ser explorado na agenda pré-COP30, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas que começa na semana que vem em Belém, no Pará.
A visita ocorre em um momento delicado para a família real, que enfrenta mais um escândalo devido às acusações de abuso sexual contra Andrew, tio de William. No domingo (2), três dias após Andrew perder o título de príncipe, o governo britânico anunciou que retiraria a última patente militar dele.
As medidas parecem ser uma forma de encerrar o assunto, mais um motivo de desgaste para a família real no momento em que a instituição enfrenta as mais baixas taxas de popularidade em pelo menos quatro décadas, segundo o National Centre for Social Research.
Em 1983, quando o instituto registrou pela primeira vez o nível de apoio da população à monarquia, 86% dos britânicos disseram que a forma de governo era “muito importante” ou “bastante importante” cifra que caiu para 51% em 2024, de acordo com o centro.
Na semana anterior à retirada dos títulos de Andrew, o lançamento de um livro póstumo de Virginia Giuffre, que o acusou de ter contratado serviços da rede de exploração sexual do americano Jeffrey Epstein e abusado sexualmente dela em três ocasiões, chamou a atenção para o caso novamente. O ex-príncipe nega as acusações.
Até agora, porém, nada disso pôde ser questionado a William em sua passagem pelo Brasil. Ele raramente dá entrevistas e suas atividades geralmente são acompanhadas apenas por veículos de imprensa selecionados e de forma restrita.
Uma das primeiras agendas do príncipe no Brasil foi um encontro com crianças do programa de formação de lideranças ambientais Terra Futebol Clube, no Maracanã, na última segunda-feira (3).
No dia seguinte, plantou mudas na área de proteção ambiental de Guapimirim, na baía de Guanabara, que abriga a maior reserva de manguezais do estado do Rio de Janeiro, e anunciou o programa “Protect the Protectors” (Proteja os Protetores), que prevê assistência jurídica para lideranças indígenas que atuam na defesa da amazônia, no United for Wildlife Global Summit.
“Não podemos proteger as florestas enquanto seus defensores vivem com medo”, afirmou ele durante o evento, em sua primeira declaração pública desde o início da visita. “Devemos proteger os protetores se quisermos garantir o futuro desses ambientes críticos.”
Nesta quarta (5), em visita ao Cristo Redentor, William conversou com finalistas do prêmio Earthshot, iniciativa criada por ele mesmo em 2020 que reconhece projetos ambientais. Durante a premiação no Museu do Amanhã, na noite do mesmo dia, a startup brasileira Re.green, que faz reflorestamento a partir de encomendas de outras companhias, venceu em uma das cinco categorias do prêmio.
Já nesta quinta (6), em Belém, o príncipe elogiou o TFFF (Fundo de Financiamento de Florestas Tropicais), uma das principais apostas do governo brasileiro para a COP30. “A proposta do Brasil para o TFFF é um passo visionário para a estabilidade climática”, afirmou ele durante a Cúpula de Líderes. Nesta sexta (7) William deve se encontrar com lideranças indígenas da amazônia.
A questão ambiental não é novidade para o príncipe. Em Nova York, durante a Assembleia-Geral da ONU de 2023, ele se reuniu com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, para falar sobre “os esforços necessários para acelerar a luta contra as alterações climáticas e proteger o ambiente”, de acordo com o porta-voz da organização.
“Há oitenta anos, o mundo se uniu nesta grande cidade para encontrar uma nova maneira, por meio da ONU, de resolver nossos desafios comuns”, disse William na ocasião, após chegar à cidade americana. “Sei que nossa geração pode tomar as medidas ousadas de que precisamos para promover mudanças rumo a um mundo saudável e sustentável.”
Com essa postura, William continua o legado de seu pai, conhecido por apoiar causas ambientais há décadas, mesmo quando a pauta não estava em alta.
Na primeira de suas quatro visitas ao Brasil, por exemplo, em 1978, o então príncipe Charles, aos 29 anos, discursou no Palácio do Itamaraty sobre os danos causados por plásticos, gases estufa e poluição marinha. Já em 2007, ele criou a Prince’s Rainforests Project, fundação para proteger florestas tropicais.
A causa o acompanha até hoje. Em seu primeiro retrato oficial como monarca, Charles apareceu com uma pulseira indígena dada por Domingo Peas, liderança da Amazônia no Equador uma escolha simbólica para uma figura que precisa prezar pela discrição em termos políticos.
Em novembro de 2023, durante uma visita a Singapura, William afirmou em uma entrevista coletiva que deseja ir além do que a sua família fez no passado em relação a esse tipo de causa.
“Eu me importo com muitas coisas e, anteriormente, a família [real] tem se destacado brilhantemente, dando visibilidade a muitas delas eu quero ir um passo além”, disse ele, segundo o jornal britânico The Telegraph. “Quero de fato promover mudanças e quero trazer para a mesa pessoas que possam implementá-las, caso eu não consiga.”




