FOLHAPRESS – A banda anglo-francesa Stereolab desembarca em São Paulo, neste domingo (9), para seu primeiro show no país, como headliner do Balaclava Fest, na esteira do lançamento de “Instant Holograms on Metal Film” o 11º LP do grupo e o primeiro em 15 anos.
Nesse período, os fãs do conjunto tiveram de se contentar com discos como “Electrically Possessed” (2021) e “Pulse of the Early Brain” (2022), que traziam faixas raras da discografia da banda. Que alegria então é ouvir “Instant Holograms on Metal Film” e perceber que pouco mudou no universo sonoro do Stereolab.
Estão lá os sintetizadores antigos tocando o electro-pop alegre característico do grupo, enquanto a voz fria e um tanto “blasé” de Laetitia Sadler canta, com delicioso sotaque francês, um manifesto brutal como o de “Melodie is a Wound”: “O objetivo é manipular/ mãos pesadas que intimidam/ aniquilam a ideia de claridade/ sufocam seu desejo pela verdade/ estrangulam a sabedoria, sapiência e prudência/ a guerra econômica é de uma violência inviolável/ que suprime toda a inteligência que conflita/ com os interesses de quem a impõe”. Não é, de maneira alguma, uma banda pop comum.
Formado em Londres em 1990 pelo britânico Tim Gane, na guitarra, e a francesa Laetitia Sadier, nos vocais e teclados, o Stereolab fez alguns dos discos mais interessantes do rock alternativo dos anos 1990, como “Mars Audiac Quintet”, de 1994, e “Emperor Tomato Ketchup”, de 1996.
A formação atual tem, além de Gane e Sadier, o baterista Andy Ramsay, que toca com o duo desde o início dos anos 1990, o tecladista Joe Watson e o baixista Xavi Muñoz.
Numa época em que o mercado de “indie rock” era dominado, de um lado do Atlântico, pelo barulhento “grunge” americano de Nirvana, Pearl Jam e Soundgarden, e do outro lado pelo britpop do Oasis, Blur e Pulp, o Stereolab fazia um som diferente.
Gane e Sadier formavam um casal e tinham gostos musicais ecléticos amavam os ritmos repetitivos do Velvet Underground e do rock alemão dos anos 1960 e 1970 de bandas como Neu!, Faust e Can, o pop chique de duos como Nancy Sinatra & Lee Hazlewood e Sonny & Cher, sons eletrônicos “vintage” de sintetizadores e órgãos, e as sinfonias adolescentes barrocas criadas por Brian Wilson e os Beach Boys em discos como “Pet Sounds”.
Também idolatravam a bossa nova, a tropicália e compositores como Burt Bacharach e Henry Mancini, que aliavam sofisticação sonora a um apurado tino pop comercial.
O curioso é que as letras do Stereolab nada tinham de pop. Sob o verniz açucarado de canções dançantes e divertidas, Sadier e a segunda vocalista da banda, Mary Hansen, desfilavam letras extremamente complexas e inventivas sobre o consumismo, as mazelas do capitalismo e a luta de classes.
Muita gente que dançou numa pista ao som de um dos maiores sucessos comerciais do grupo, a canção “Ping Pong”, de 1994, não teria se divertido tanto se tivesse prestado atenção na letra: “Está tudo bem, porque o ciclo histórico tem mostrado/ como evoluem os ciclos econômicos/ por décadas, são três estágios que se sucedem, num ciclo/ uma crise e uma guerra, depois tudo volta à estaca zero e recomeça de novo.”
No início dos anos 2000, a banda sofreu dois golpes duros em 2002, a cantora Mary Hansen andava de bicicleta em Londres quando foi atingida por um caminhão e morreu. Na mesma época, Gane e Sadier se separaram. As últimas sessões de gravações da banda ocorreram em 2008 para o disco “Chemical Chords”.
Em 2009, a dupla anunciou uma parada por tempo indeterminado. No ano seguinte foi lançado o LP “Not Music”, uma coleção de músicas inéditas. Sadier passou os anos seguintes gravando com o projeto Monade e fazendo discos solo, enquanto Gane fundou o grupo Cavern of Anti-Matter. Agora, com o disco mais recente, o show neste final de semana em São Paulo promete ser imperdível.
INSTANT HOLOGRAMS ON METAL FILM
– Avaliação Muito bom
– Autoria Stereolab
– Gravadora Warp Records
– Show Dom. (9), às 15h, durante o Balaclava Fest – r. Bragança Paulista, 1281, São Paulo




