Da Redação

A decisão do governo federal de hospedar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Janja em um iate de luxo durante a COP30, no Pará, desencadeou uma onda de críticas políticas e questionamentos sobre coerência ambiental e uso de recursos públicos. O casal presidencial ficará a bordo do Iana 3, embarcação de propriedade do empresário amazonense Iomar Oliveira, que foi contratada por meio de uma agência de turismo ligada à Presidência da República.

A escolha da embarcação ocorreu após o cancelamento da hospedagem prevista em um navio da Marinha, que, segundo integrantes do governo, não possuía estrutura suficiente para acomodar a comitiva presidencial. O Iana 3 foi alugado de última hora e conta com suítes, varandas, salas de reunião e áreas climatizadas — características que pesaram na decisão.

O aluguel do iate, entretanto, rapidamente ganhou repercussão política. O senador Hamilton Mourão utilizou as redes sociais para ironizar a escolha, acusando o presidente de “incoerência” entre o discurso ambiental defendido internacionalmente e o uso de uma embarcação movida a diesel em meio à conferência climática. A publicação reacendeu o debate sobre o contraste entre a agenda verde do governo e seus gastos logísticos.

De acordo com informações obtidas por fontes próximas ao Planalto, a diária por pessoa no Iana 3 foi estipulada em R$ 2.700, valor que soma R$ 5.400 por dia apenas para Lula e Janja. O governo, porém, não divulgou oficialmente o número total de integrantes da comitiva nem o custo global da hospedagem, o que ampliou a pressão por transparência.

O Iana 3 é conhecido no Amazonas e já esteve envolvido em polêmicas anteriores. Em 2021, a embarcação foi alvo de investigação judicial em Coari, após denúncias de uso irregular em uma ação social promovida pelo governo estadual. Na época, moradores relataram o descarregamento de cestas básicas e materiais supostamente ligados a fins eleitorais, episódio que motivou uma apuração da Justiça Eleitoral.

A opção pelo iate surgiu como alternativa diante da escassez de hospedagens disponíveis em Belém, cuja rede hoteleira está em capacidade máxima devido ao evento climático internacional. Ainda assim, o caso provocou desconforto político e abriu espaço para críticas de opositores, que veem na escolha um símbolo de contradição entre o discurso de sustentabilidade e a prática do governo.