SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em meio à discussão sobre a autonomia financeira das universidades paulistas diante da reforma tributária, a chapa USP Novo Tempo, que concorre à reitoria da instituição para mandato de 2026 a 2030, afirma ver como importante a aproximação com a sociedade.

Esse movimento, segundo o candidato a reitor Marcilio Alves e a postulante a vice-reitora Silvia Casa Nova em entrevista à Folha de S.Paulo, colaboraria para a negociação, junto ao governo paulista, da manutenção da autonomia financeira do órgão, em discussão diante da transição da reforma tributária.

Para eles, levar o que a USP produz e reflete para os paulistas e os brasileiros ajuda não apenas no debate sobre os problemas do estado ou do país. Também legitima a universidade pública e gratuita em um momento onde o papel dela é questionado.

“Temos uma preocupação com o contexto em que as universidades públicas têm sido muito questionadas, o que gera efeitos sobre a confiança nas instituições. As universidades precisam ser cada vez mais protagonistas numa narrativa sobre a importância de mantê-las como elas são”, diz a professora da FEA (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária).

A USP resolveu o problema financeiro do orçamento estrangulado com a folha de pagamento, mas a chapa diz considerar que a verba livre para investimentos pode ser mais bem utilizada pelas unidades. Para isso, propõem a elaboração de orçamentos com base zero, dando flexibilidade à alocação anual de recursos conforme as demandas e as metas forem cumpridas.

Conheça os candidatos à reitoria e suas propostas Questionados sobre a reposição de quadros da universidade, eles veem a necessidade de contratação não apenas de professores para as aposentadorias recentes, mas de servidores, que ajudem a manter o dia a dia em faculdades e laboratórios da instituição.

“As unidades precisam de servidores técnicos administrativos. Eles são importantes para manter os laboratórios funcionando, manter as atividades de pesquisa, tudo isso dentro dos 85% de limite orçamentário para folha de pagamento”, afirmou Marcilio.

O professor da Escola Politécnica ressalta que a universidade também precisa ser centro de retenção de talentos, prometendo criar um “cartão-pesquisa”, para que o professor possa executar projetos de pesquisa financiados pela USP, com verba proveniente das reservas da instituição.

“A gente pode usar uma parte das reservas e do orçamento extra do ICMS. Não quer dizer que a gente vai gastar tudo, precisamos de um colchão para evitar problemas financeiros. Mas podemos usar os juros dessas reservas”, argumenta, fazendo uma previsão otimista sobre a arrecadação estadual.

Questionado sobre essa perspectiva diante do cenário fiscal brasileiro e a desaceleração econômica, Marcilio diz ver o estado forte e capaz de seguir crescendo apesar do cenário macroeconômico do país indo em outro sentido.

Marcilio e Silvia veem com preocupação a situação de radicalização do país, que ganhou espaço na USP com grupos de influenciadores arrancando faixas e hostilizando estudantes, e acreditam que o momento pede atuação da reitoria em prol de construção de unidade e discussão conjunta.

“Existe um mecanismo regimental dentro da universidade, a chamada Assembleia Universitária, que serve para posicionar toda a comunidade uspiana frente a crises e problemas que paradoxais em solução. É um mecanismo de aconselhamento, de acreditar que o reitor não tem a palavra final em tudo, e que pode ser usado para discutir e trazer a reitoria para dentro do debate universitário”, afirma o professor.

Olhando para a permanência e inclusão estudantil, ambos creditam à reitoria atual, composta por Carlos Gilberto Carlotti Junior e Maria Arminda do Nascimento Arruda, o avanço na criação da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento, a Prip.

Afirmam querer avançar a partir de iniciativas como a recomposição de aprendizagens a calouros e fomento ao esporte e cultura, o que, segundo eles, fortalece o sentimento de ser um uspiano. Também citam a necessidade de olhar para os outros campi, no interior, e verificar as condições de assistência estudantil nas outras regiões.

Também entendem que a relação entre autonomia universitária e investimento privado deve sempre priorizar a liberdade acadêmica. A colaboração com empresas e outras formas de arrecadação, na visão da chapa, vem com transparência e prestação de contas sobre sua finalidade.

“A gente vê as fundações como tendo um papel a cumprir, alinhada aos interesses e a serviço da universidade, ocupando um espaço entre o público e o privado. De forma nenhuma pensamos em privatizar a instituição, pelo contrário. Precisamos defendê-la como ela é, pública e gratuita”, ressaltou Silvia.