FOLHAPRESS – Existem dois tipos de música –a gravada em estúdio e a executada ao vivo. A primeira tende a ser bem acabada, no sentido de que é controlada, e a segunda pode ganhar ou perder riqueza e emoção, a depender da qualidade dos artistas no palco.

Infelizmente, no show de Poppy na noite desta quinta-feira, no Cine Joia, sua banda não transmitiu ao vivo a complexidade que mostra nos discos, justamente um dos fatores que tornaram a cantora americana um dos nomes mais quentes da nova geração da música pesada.

A parte eletrônica e os barulhinhos que a artista põe em suas faixas de estúdio perdem muito ao vivo, de modo que a sonoridade vira mais orgânica -sua banda tocava os tradicionais baixo, guitarra e bateria, mas os elementos sintéticos ficaram em segundo plano. É um pouco decepcionante para quem espera do show o liquidificador de referências sonoras de seus discos, como o último, “Negative Spaces”, de 2024.

Por outro lado, Poppy passeia com tranquilidade entre os vocais angelicais e diabólicos, uma de suas características fundamentais, e na hora em que precisa fazer a voz gutural do metal tradicional, ela entrega, sem perder a feminilidade que também cultiva.

Poppy tem uma voz linda e versátil, mas optou por não deixar, na mixagem do som, o volume de seu canto mais alto do que o dos instrumentos da banda. Rolou uma vontade de ouvir mais o seu timbre e menos o resto do grupo, francamente genérico, tipo um banda qualquer de adolescentes revoltados. Ou seria culpa da péssima acústica do Cine Joia?

Nascida em 1995 e alçada ao panteão da geração que renova a música pesada junto a nomes como Bad Omens e Bring Me the Horizon, a cantora divide opinões entre os metaleiros tradicionais de mais idade mas é um ícone absoluto entre os jovens da geração Z, a maioria do público do show.

Eles estavam animados, cantando junto a toda voz hits como “The Cost of Giving Up”, mas também passaram toda a apresentação filmando o palco no celular ou se gravando enquanto cantavam, o que gera conteúdo para as redes enquanto mata o clima da experiência coletiva da música ao vivo, aquele momento entre estranhos que nunca mais vai se repetir.

Poppy foi nomeada ao Grammy duas vezes e, com sua sensibilidade pop e melódica, se consagrou como a primeira mulher solo a ser indicada na categoria de melhor performance de metal. Não é pouco musicalmente falando e ajuda a quebrar as barreiras de uma categoria predominantemente masculina.

Embora não tenha ganhado nem em 2021 nem neste ano, o fato de ter concorrido indica a sua relevância e a torna uma escolha adequada para abrir o show do Linkin Park neste sábado, em São Paulo, uma banda que, assim como ela, fez de sua carreira uma tentativa de alargar as fronteiras -e o público- do metal tradicional.

Poppy

Quando 6 de novembro

Onde Cine Joia

Avaliação Bom