SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dos dez presos que o governador Cláudio Castro (PL) quer transferir a penitenciárias federais, o ex-cabo da Marinha Rian Tavares Mota é acusado de manusear drones com granadas para atacar comunidades rivais e garantir a expansão territorial do Comando Vermelho (CV) no Rio de Janeiro. Ele foi desligado da instituição após ser preso.
As informações constam de ação penal que tramita sob segredo de Justiça no TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro). Trechos do processo obtidos pela Folha de S.Paulo acusam Rian de ser braço direito de Edgar Alves de Andrade, o Doca, hoje foragido. Doca era o principal alvo da operação Contenção, mas escapou.
O uso de drones com explosivos foi uma das táticas da facção para atrasar o avanço das forças policiais na megaoperação que mobilizou 2.500 agentes contra o CV e deixou 121 pessoas mortas.
Rian está preso desde o ano passado e é acusado pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) de usar “sua expertise técnica para o emprego de drones acoplados a explosivos e lançadores de granadas contra policiais e integrantes de facções rivais”.
“A organização liderada por Edgar, e sob a coordenação de Rian, lançou granadas, por meio de equipamentos de voo drone que explodiram nas regiões rivais, visando invadir estrategicamente áreas dominadas por facções rivais, tudo para ampliar o domínio territorial da malta que integram”, afirma trecho do processo.
A ação ainda não foi julgada. A Folha de S.Paulo procurou a defesa dele, que não se manifestou.
O governo Lula (PT) deu aval na semana passada para a transferência de dez presos apontados como líderes do CV a penitenciárias federais, sete das quais já foram autorizadas. A Justiça ainda não deliberou sobre o pedido em torno de Rian Mota, Leonardo Farinazo e Wagner Teixeira Carlos.
O caso de Rian é o mais recente entre os dez presos. A ficha dos demais inclui casos desde 2005 com crimes como tráfico, homicídio e lavagem de dinheiro. A reportagem compilou o que pesa contra um.
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ALEXANDER DE JESUS CARLOS
Já cumpriu pena por tráfico de drogas e associação para o tráfico. Chegou a obter progressão ao regime aberto, mas não foi solto: acabou alvo de nova prisão preventiva (sem prazo) acusado de ser um dos mandantes da morte de um policial militar assassinado a tiros no Rio. O caso ainda não foi julgado.
À Folha de S.Paulo o advogado Daniel Sanchez Borges afirmou que a acusação sobre a morte do policial “causa profunda perplexidade” e que seu cliente figura como bode expiatório. “É forçoso concluir que Alexander é injustamente apontado como responsável por atos alheios à sua vontade e domínio”, afirmou.
Disse também que seu cliente “foi expulso do CV e cumpriu parte significativa de sua pena junto ao Terceiro Comando Puro (TCP), quando teve a própria vida colocada em risco”. Sanchez criticou o pedido de transferência e disse que a medida se deve “apenas em razão de seu passado”.
ARNALDO DA SILVA DIAS
Foi condenado em dezembro do ano passado por um tribunal do júri pelo homicídio de um membro do Comando Vermelho, de vulgo Russinho, que teria repassado informações sobre a facção a autoridades. Ele cumpria pena na época e ordenou o assassinato de dentro do presídio, reconheceram os jurados.
A Folha de S.Paulo não localizou sua defesa. Dias chegou a desistir de recorrer da condenação, decisão homologada pela Justiça.
CARLOS VINÍCIUS LÍRIO DA SILVA
Líder do CV em Niterói, segundo a investigação, chegou a pertencer ao TCP e se aliou ao Comando Vermelho em meados de 2018. Uma de suas condenações se deve ao assassinato de um policial civil em 2005. Tem penas superiores a 60 anos por homicídio, roubo majorado, associação para o tráfico e motim em presídio.
A reportagem tentou contato com um de seus advogados, o único cujo número de celular consta de registro na OAB, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. Lírio tenta obter a progressão de regime. A última decisão do TJ-RJ negando a progressão da pena é de fevereiro deste ano.
ELIEZER MIRANDA JOAQUIM
Acusado pelo MP-RJ de chefiar o Comando Vermelho em Belford Roxo (RJ), já foi condenado por homicídio, tentativa de homicídio, associação para o tráfico e constituição de milícia privada. Dois dos homicídios ocorreram por engano: o alvo inicial (que não morreu) estava numa barraca contra a qual abriu fogo. Os disparos atingiram outras duas pessoas que vieram a óbito.
A defesa de Elizer afirmou que os processos a que ele responde são todos antigos e que não há nenhuma prova que o vincule à facção. Segundo o advogado Ércio Quaresma, a transferência é uma jogada de Cláudio Castro para “recuperar seu capital político, que está em baixa”.
FABRÍCIO DE MELO DE JESUS
Apontado como chefe do CV em Volta Redonda (RJ), seus antecedentes incluem associação para o tráfico, porte ilegal de arma de fogo, homicídio e tráfico de drogas. A reportagem telefonou para o escritório que o defende, mas o telefone cadastrado na OAB está incorreto.
LEONARDO FARINAZO PAMPURI
Acusado de chefiar o CV na comunidade Fazendinha, que integra o Complexo do Alemão, foi condenado por tráfico, associação para o tráfico e resistência com emprego de violência: ele tentou evitar abordagem atirando contra policiais.
Um advogado cadastrado como defensor de Farinazo no TJ-RJ disse à Folha de S.Paulo não o defende. Afirmou ser amigo dele e que buscaria informações sobre quem integra a defesa dele. Não deu mais retorno.
MARCO ANTÔNIO PEREIRA FIRMINO
Cumpre pena por tráfico de drogas e associação para o tráfico e foi condenado também em caso envolvendo lavagem de dinheiro para o Comando Vermelho. A defesa de Firmino afirmou que “a última condenação dele é de 2011 ou seja, há mais 14 anose que não há nos autos nenhum elemento concreto que justifique sua inclusão em presídio federal”.
ROBERTO DE SOUZA BRITO
Apontado como chefe do CV nos complexos do Alemão e do Jacarezinho, investigação de inteligência penitenciária apontou que Brito continuou a exercer a posição de liderança de dentro do presídio.
Cumpre pena por tráfico e está preso preventivamente acusado de ser o mandante do assassinato de um detento um júri já o condenou, decisão que tenta anular.
À Folha de S.Paulo o advogado Anderson Rollemberg afirmou que a transferência é uma decisão equivocada do governo do Rio e que seu cliente nem “sequer faz parte da cúpula que toma decisões dentro do presídio”. Ele diz que vai recorrer caso a medida se concretize.
WAGNER TEIXEIRA CARLOS
Apontado como chefe do tráfico do Comando Vermelho na Favela do Lixo, no RJ, é acusado de ser o mentor intelectual do homicídio de Clemir de Souza Brito num caso envolvendo disputa territorial na capital fluminense. Um júri chegou a condená-lo, decisão anulada em 12 de setembro deste ano. A defesa de Wagner afirmou que não há provas no caso do homicídio e que ele será absolvido.




