SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo de Donald Trump ordenou a quarta missão de bombardeiros estratégicos pesados junto à costa da Venezuela em três semanas, com dois modelos B-52 se aproximando do país caribenho governado pelo ditador Nicolás Maduro.

A exibição de força integra a política de vaivém adotada pelo presidente americano na crise com Caracas, iniciada em meados de agosto com o envio de uma força-tarefa expedicionária de fuzileiros navais e diversos navios à região.

De lá para cá, Trump promoveu uma grande escalada militar, revitalizando uma base fechada havia 23 anos em Porto Rico e deslocando caças, aviões e submarinos.

A caminho do Caribe também está o maior e mais poderoso porta-aviões do mundo, o USS Gerald Ford, que deixou o Mediterrâneo rumo ao Atlântico no começo da semana.

Nesta quinta-feira (6), foi a vez de outro instrumento de pressão, o sobrevoo de bombadeiros estratégicos. No dia 15 de outubro foram três B-52, seguidos por dois B-1B no dia 23 e outros dois aparelhos do mesmo modelo no dia 27.

Eles passaram a cerca de 80 km da costa da Venezuela, cujo espaço aéreo começa a pouco mais de 20 km do solo.

Os B-52 envolvidos na ação mais recente são da base aérea de Minot, na Dakota do Norte. Segundo sua identificação em sites de rastreio de voos, ambos os aviões integram a frota de 30 modelos com capacidade apenas para ataques convencionais -outros 46 são equipados para receber mísseis e bombas com ogivas nucleares.

Ninguém sabe onde Trump quer chegar. Ele já disse autorizou a CIA, a agência de espionagem dos EUA com longa tradição em fomentar golpes e crises na América Latina, a agir em solo venezuleano para desestabilizar Maduro.

Depois, negou que fosse promover um ataque militar terrestre, mesmo tendo dito que isso iria acontecer. Na manifestação mais recente, na segunda (3), ele disse duvidar que haveria uma guerra entre seu país e a Venezuela, mas que o ditador estava com os dias contados.

O republicano diz estar atrás dos cartéis de drogas que inundam os EUA com produtos como cocaína e fentanil. Desde 2020 Maduro é procurado pelo Departamento de Justiça sob a acusação de liderar um grupo narcoterrorista, e Trump subiu a recompensa por pistas que o levem à cadeia a US$ 50 milhões.

Já o ditador afirma que o americano só está interessado em derrubá-lo para tomar as reservas de petróleo de seu país, as maiores do mundo. Maduro tem feito mobilizações de seus recursos militares, que não fazem frente aos EUA mas que podem causar danos pontuais à navios, como no hipotético emprego de mísseis antinavio russos disparados por seus caças Su-30.

Algumas das demonstrações viraram motivo de piada online. Depois de mostrar camponeses fora de forma tentando manejar fuzis Kalachnikov, Maduro enfileirou alguns sistemas antiaéreos S-125 Petchora em praias do país.

Por evidente, a função militar é nula, dado que é vital para esse tipo de armamento ficar o mais escondido possível, para evitar ser destruído antes ou depois do uso. De todo modo, os Petchora são eficazes relíquias soviéticas da Guerra Fria, em contraste com os bem mais avançados modelos russos S-300 de que Maduro dispõe.

Trump, por sua vez, tem ido à vias de fato. Mais de 60 pessoas já foram mortas em ataques a barcos com supostos traficantes na região, com alguns incidentes também junto à costa colombiana no Pacífico. Bogotá e o presidente Gustavo Petro são outros alvos, menos ostensivos por ora, da campanha dos EUA.

A crise tem gerado tensão regional ampla. O presidente Lula (PT), que está rompido com Maduro, irá a uma reunião de países latino-ameicanos e caribenhos na semana que vem para prestar solidariedade à Venezuela. Ele se colocou, sem sucesso, à disposição de Trump para mediar o conflito.

Ante a pressão, Maduro já pediu ajuda diretamente à Rússia, sua maior fornecedora de material militar, China e Irã, todos país do polo oposto ao dos EUA na Guerra Fria 2.0. Moscou deu declarações simpáticas e prometeu apoio, mas na prática não parece ter passado disso.

Na semana passada, um avião cargueiro Il-76 vindo da Rússia com escalas na Armênia e países africanos pousou em Caracas antes de seguir para Cuba, outra aliada de Moscou na região. Isso disparou especulações de reforços militares, que nas redes sociais já viraram a hipótese do envio de mísseis avançados.

Segundo a Folha ouviu de pessoas próximas ao Kremlin, se havia algo, era dinheiro. Elas dizem que Maduro parou de ter condições para pagar por armas russas desde pouco antes da pandemia, e que Vladimir Putin não arriscará uma escalada na já tensa relação com Trump, devido à Guerra da Ucrânia.