SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um surto ou episódio psicótico é definido pela dificuldade em distinguir o real do imaginário e pode ser causado por doenças ou uso de drogas.
Nesta quinta-feira (6), morreu o ex-deputado estadual do PT Paulo Frateschi, 75, em São Paulo. De acordo com registro policial, o filho da vítima, identificado como Francisco Frateschi, 34, “esfaqueou o pai em um momento de surto”. Outras informações sobre a natureza do surto não foram divulgadas.
Em um episódio psicótico agudo, o paciente pode ficar agressivo, agitado, ansioso e ter insônia devido a ideias de perseguição, afirma Mario Louzã, coordenador do Programa Esquizofrenia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, da USP.
QUAIS DOENÇAS PODEM TER COMO SINTOMA A PSICOSE?
Doenças de ordem mental como esquizofrenia, transtorno bipolar, Alzheimer e algumas epilepsias podem ter como sintoma a psicose, diz Louzã.
“O leque de opções é grande, depende de outros elementos que a gente examina no paciente. Mas é comum que aconteçam episódios psicóticos agudos no transtorno bipolar e na esquizofrenia”, diz.
A psicose também pode aparecer com o consumo de drogas, mesmo que a pessoa não tenha nenhum transtorno diagnosticado.
É COMUM QUE A AGRESSÃO SE MANIFESTE?
É possível ter um quadro psicótico sem a parte da agitação e da agressividade.
São nos casos mais extremos, ou seja, nos episódios psicóticos agudos que o paciente tem um delírio tão intenso que se envolve nele e começa a agir segundo a realidade da própria cabeça.
COMO PERCEBER O INÍCIO DE UM SURTO PSICÓTICO?
Um surto não acontece tão abruptamente, diz Louzã, com exceção de casos de uso de drogas. “Em um quadro bipolar ou de esquizofrenia, ele demora alguns dias para acontecer”, explica o médico.
Por isso, é possível notar uma mudança no comportamento do paciente antes de o surto se concretizar.
Em um quadro de transtorno bipolar com o paciente em mania, por exemplo, é possível notar uma aceleração da maneira como a pessoa fala e age, e uma diminuição no tempo de sono dela. “Ela se sente mais poderosa, começa a achar que é mais do que realmente é”, exemplifica.
O início do quadro psicótico agudo varia de doença para doença. Em alguns casos, o paciente pode ter parado de tomar a medicação de forma consciente, um ponto que também deve ser observado.
Nesses casos, o profissional de saúde do paciente deve ser procurado antes que a situação escale.
O QUE FAZER CASO PRESENCIE UM EPISÓDIO PSICÓTICO?
Se notar que o paciente está mais agressivo, deve-se evitar ficar sozinho com a pessoa em um quadro de agitação. “Se a pessoa tem um diagnóstico conhecido e você percebe que ela está entrando em surto de novo, você vai rapidamente buscar ajuda médica”, diz Louzã.
Caso o psiquiatra não esteja disponível ou em caso de maior urgência, deve-se chamar o Samu.
O paciente deve ser encaminhado ao pronto-socorro para o atendimento emergencial. Lá, será medicado para que fique mais calmo e para que haja um controle da agitação ou agressividade.
Segundo a psiquiatra Maria Fernanda Caliani, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pela USP, a prioridade é garantir a segurança de todos, inclusive da própria pessoa em crise. “O ideal é manter a calma, evitar discussões ou tentativas de convencimento pois neste momento nenhum argumento lógico terá sentido, o importante aqui é buscar ajuda profissional imediatamente”, explica.
“Jamais se deve tentar conter fisicamente sem preparo ou suporte adequado, pois isso pode agravar a situação. O acolhimento, o tom de voz tranquilo e a presença de alguém de confiança fazem diferença até que a equipe especializada chegue”, acrescenta.
A INTERNAÇÃO É ADEQUADA?
Caliani afirma que a Lei da Reforma Psiquiátrica (Lei 10.216/2001) mudou a forma de olhar para o cuidado em saúde mental no Brasil. “Ela garante os direitos da pessoa com transtorno mental e prioriza o tratamento em liberdade, próximo da família e da comunidade, com o mínimo de internação possível”, diz.
A internação só deve ocorrer quando há risco real à vida do paciente ou de terceiros e quando os recursos ambulatoriais não são suficientes.
“A internação é uma etapa de cuidado intensivo, e deve sempre vir acompanhada de um plano de acompanhamento e reintegração após a alta. O foco é tratar, proteger e devolver autonomia”, afirma a médica.




