SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) disse nesta quinta-feira (6) ter aceitado uma proposta dos Estados Unidos e de países árabes para o estabelecimento de um cessar-fogo humanitário após dois anos e meio de guerra civil que devastou e provocou milhares de mortes no Sudão. A facção disse ainda que está aberta a negociações para a interrupção total das hostilidades.
O anúncio, contudo, demanda cautela. Desde o início do conflito, em abril de 2023, o Exército sudanês e as RSF já disseram ter aceitado várias propostas para trégua, mas nenhuma teve sucesso.
As RSF divulgaram o comunicado menos de duas semanas após assumirem o controle da cidade de Al-Fashir, o que consolidou o domínio do grupo sobre a região de Darfur, no oeste do país africano. Uma trégua no atual estágio do conflito, portanto, poderia beneficiar o grupo do ponto de vista estratégico.
Segundo o gabinete do procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), atrocidades cometidas em Al-Fashir podem configurar crimes de guerra e contra a humanidade. Último grande reduto do Exército sudanês na região de Darfur Ocidental, a região caiu em 26 de outubro, depois de 18 meses de cerco, bombardeios e fome. Segundo as Nações Unidas, mais de 65 mil pessoas fugiram, mas milhares continuam presas na cidade. Antes do ataque final, viviam ali cerca de 260 mil habitantes.
Na nota divulgada nesta quinta, as RSF manifestaram disposição para “implementar o acordo e iniciar de forma imediata as discussões sobre as disposições para o fim das hostilidades e os princípios fundamentais que guiarão o processo político no Sudão”.
O Exército sudanês não tinha se manifestado sobre o comunicado. O Departamento de Estado americano, por sua vez, disse que Washington continua em contato direto com as partes para facilitar uma trégua humanitária. “Incentivamos ambos os lados a avançarem na resposta ao esforço liderado pelos EUA, dada a urgência de reduzir a violência e encerrar o sofrimento do povo sudanês”, disse em nota
Nesta semana, o Conselho de Segurança e Defesa, controlado pelo Exército, reuniu-se para discutir a proposta, mas não chegou a uma decisão final. Segundo relatos, setores influentes das Forças Armadas manifestaram oposição ao plano.
O cessar-fogo proposto foi articulado pelos EUA, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Egito, que em setembro defenderam uma trégua humanitária de três meses como primeiro passo para um armistício permanente. Testemunhas acusam as RSF de sequestrar e executar civis durante a tomada de Al-Fashir, o que provocou preocupação internacional. O líder do grupo, no entanto, prometeu punir combatentes envolvidos em abusos e disse ter determinado que a população local seja protegida.
O conflito eclodiu em abril de 2023 num contexto de disputa pelo poder entre Abdel Fattah al-Burhan, atual líder sudanês, e Mohamed Hamdan Dagalo, líder das RSF. Antes da guerra, as forças eram aliadas. Os embates aprofundaram a crise humanitária no país, e dezenas de milhares de pessoas foram mortas, milhões foram deslocadas e a fome se espalhou pelo país.




