BELÉM, PA E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu, na manhã desta quinta-feira (6), a Cúpula dos Líderes, que antecede a COP30, em Belém. Em seu discurso, ele defendeu a superação da dependência dos combustíveis fósseis e a reversão do desmatamento da amazônia.
Ele também repetiu críticas ao sistema da ONU (Organização das Nações Unidas) e aos países mais ricos.
Lula disse ser necessário “se afastar dos combustíveis fósseis”, embora promova a exploração por petróleo na costa amazônica, na altura de Oiapoque (AP).
A Petrobras obteve licença para perfurar o bloco 59, a 160 km da costa amazônica, de forma a explorar a existência de combustível fóssil na região, que fica na margem equatorial. Lula pressionou o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) pela concessão dessa licença.
Já o desmatamento da amazônia caiu em 50% durante seu terceiro mandato, revertendo uma tendência de alta em anos anteriores.
“Apesar das nossas dificuldades e contradições, precisamos de mapa do caminho para reverter desmatamento e superar dependência dos combustíveis fósseis”, disse Lula. “É justo que seja a vez dos amazônidas de indagar o que está sendo feito pelo resto do mundo para evitar o colapso de suas casas”, afirmou.
O chefe do Executivo disse que a COP30 é um retorno da convenção do clima ao “país onde nasceu”, em referência a Eco-92, cúpula feita no Rio em 1992.
Lula defendeu o Acordo de Paris, costurado há dez anos para limitação da elevação de temperaturas o teto a ser perseguido pelos países é de uma alta de 1,5º C na comparação com os níveis pré-industrais. O presidente disse que o legado de COPs passadas será preservado, em referência a acordos como para limitação e transição de combustíveis fósseis.
Afirmou ainda existir um “falso dilema entre prosperidade e preservação” e que “interesses egoístas e imediatos preponderam sobre o bem comum”. Criticou a ONU, afirmando que “o regime climático não está imune à lógica de soma zero que tem prevalecido na ordem internacional”.
Lula repetiu falas contra ricos, à exemplo do discurso que tenta emplacar em nível nacional, e defendeu que o tema da mudança climática precisa estar atrelado a questões de desigualdade social e de gênero.
“A mudança do clima é resultado das mesmas dinâmicas que, ao longo de séculos, fraturaram nossas sociedades entre ricos e pobres e cindiram o mundo entre países desenvolvidos e em desenvolvimento”, disse.
“Será impossível contê-la sem superar as desigualdades dentro das nações e entre elas. A justiça climática é aliada do combate à fome e à pobreza, da luta contra o racismo, da igualdade de gênero e da promoção de uma governança global mais representativa e inclusiva”, acrescentou.
Lula também afirmou que há um descompasso entre a geopolítica e a urgência climática, e disse que as guerras sem citar especificamente nenhum conflito gastam recursos que deveriam ser usados para combater o aquecimento global. “Forças extremistas fabricam inverdades para obter ganhos eleitorais e aprisionar as gerações futuras a um modelo ultrapassado que perpetua disparidades sociais e econômicas e degradação ambiental.”
Ele também defendeu que o mundo mobilize US$ 1,3 trilhão (cerca de R$ 7 trilhões) em recursos climáticos, e citou o documento chamado como mapa do caminho, elaborado por Brasil e Azerbaijão (sede da COP anterior) e que, entre outras coisas, defende taxar fortunas, jatinhos e artigos de luxo e militares para alcançar este objetivo.
A reunião de líderes tem o objetivo de apresentar as intenções dos chefes de Estado e de governo sobre o combate às mudanças climáticas e o financiamento da adaptação verde. Estão previstos discursos de mais de 130 autoridades, além de entidades multilaterais, como o Banco Mundial e a Agência Internacional de Energia.
Entre as autoridades que vão participar está o príncipe William, herdeiro do trono britânico, encerrando a agenda de compromissos no Brasil. Também estarão presentes diversos líderes europeus, como o presidente da França, Emmanuel Macron, os premiês da Alemanha, Friedrich Merz, e do Reino Unido, Keir Starmer, além da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Outros integrantes do G20 bloco responsável por cerca de 80% das emissões de carbono do mundo, como Índia, África do Sul e Arábia Saudita, enviaram ministros. A China será representada pelo vice-premiê Ding Xuexiang, sexto na hierarquia do regime.
Em paralelo à plenária, os líderes mundiais debaterão temas como a importância das florestas e do oceano para regulação do clima e manutenção da vida na terra, transição energética, financiamento climático, um balanço dos dez anos do Acordo de Paris e o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF).
Proposto pelo governo brasileiro, o mecanismo visa remunerar nações que preservem sua vegetação nativa e é uma das principais apostas do Brasil para a COP30. O lançamento do fundo ocorrerá logo depois da sessão, em um almoço oferecido pelo governo brasileiro a chefes de Estado. Há a expectativa de que alguns países anunciem seu apoio à iniciativa e se comprometam com investimentos.
O fundo seria composto por US$ 125 bilhões (cerca de R$ 670 bilhões), sendo US$ 25 bilhões vindos de investimentos de países e US$ 100 bilhões do capital privado. Ainda nesta quinta-feira, Lula terá duas reuniões bilaterais. Ao meio-dia, ele se encontra com o príncipe William e Starmer. O encontro pretende debater temas relativos à cooperação climática e ao investimento verde.
Mais tarde, às 15h, é a vez de Lula se reunir com Macron, para tratar de projetos conjuntos de preservação florestal. O dia se encerra com o chefe de Estado do Brasil presidindo uma mesa redonda entre os líderes, com o tema “Clima e Natureza: Floresta e Oceanos”, que antecede uma foto oficial com os participantes.
Com duração de dois dias, a Cúpula dos Líderes é considerada um evento preparatório para a COP, que se inicia na capital paraense na semana que vem e se estende até o fim do mês.




