SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Toalhas de banho, rodas de bicicleta, esculturas em bronze, tênis sujos, violões com perucas, portas de carro, desenhos em papel, uma máscara de gás e pinturas de diversos tamanhos. Fica difícil saber para onde olhar na infinidade de objetos e obras de arte que Adriano Costa reuniu na sua exposição no espaço Pivô, em São Paulo.
Embora as centenas de obras pareçam dispostas aleatoriamente no espaço, após alguns minutos vendo a mostra “Não Vamos nos Decepcionar” o espectador se dá conta de que a montagem está mais para um caos controlado. Caos, diz o artista, “é a coisa mais linda do mundo, é onde você tem o espaço para tudo acontecer”.
A mostra marca os 20 anos de carreira de Costa, artista formado pela Universidade de São Paulo com passado na moda e na noite. O paulistano desenhou estampas para a Ellus e a Cavalera nos anos 1990 e foi produtor e DJ da balada Debut!!!, um clássico das festqas alternativas de São Paulo que rolava às quintas-feiras, no extinto clube Torre.
Todos esses universos se entrelaçam na exposição, embalada por música eletrônica composta pela dupla Meta Golova numa área e por Cibelle Cavalli em outra. As roupas aparecem numa série de camisas estampadas com burrinhos, por exemplo, e numa instalação bastante representativa do trabalho do artista.
Nela, bonecos de ferro com os membros com as mesmas dimensões do corpo do artista se entrelaçam uns nos outros, como se estivessem em movimento, numa coreografia inspirada em fotografias de bailes vogue dos anos 1970. Eles estão com roupas íntimas que caem no chão, onde vemos sapatos de festa e tênis diversos.
É como se estivessem num lugar dançando e perdessem a roupa, diz Costa, acrescentando que a obra faz referência ao universo da noite. “Essa coisa ridícula que as pessoas ainda dizem: ‘gay que vai a clube e usa drogas’. Eu tenho 50 anos e faço isso até hoje”, ele afirma, fazendo troça com os preconceitos sociais associados a este grupo.
Ao abordar questões de gênero também presentes num desenho da travesti Rogéria e em outro com garotos com os pênis de fora numa suruba chamada “Cirandinha” Costa faz isso de maneira não óbvia, com certa leveza, ao contrário do caminho do confronto panfletário que muitos artistas abraçaram com a ascensão das pautas identitárias nos últimos anos, com obras que parecem peças de protesto sem qualquer sutileza.
Ele diz que a arte vive um momento de crise, como se ela estivesse tentando arrumar todos os problemas sociais e preconceitos do Brasil, o que classifica de “jogo de marketing”. “Adoraria ter respostas afirmativas, mas eu acho impossíveis tê-las neste momento. Se eu tivesse uma fórmula para dizer como lidar com problemas de gênero, por exemplo, eu daria.”
Para o espectador, a impressão é que o artista está menos preocupado em resolver o mundo com a arte do que em se divertir, tensionando a compreensão do visitante com seu uso de elementos combinados de formas absurdas para gerar novos artefatos, a exemplo da série de amplificadores e gaiolas com perucas disposta na entrada da exposição.
Chama a atenção também a quantidade de pinturas e desenhos na mostra, em diversos tamanhos, espalhados pelo percurso expositivo. Há desde um trabalho com caneta que Costa fez aos 13 anos quando morava na casa dos pais até obras recentes, como as pinturas de gestos expressivos e cores fortes que tomam uma das paredes de cima a baixo, umas por cima das outras.
São obras que se encaixam no caos da mostra, montada pelo artista em poucos dias, sem planejamento prévio. Segundo ele, há na exposição uma atmosfera de que tudo está por cair, meio Brasil.
A exposição é acompanhada pelo lançamento de um livro de mais de 400 páginas com imagens de centenas de trabalhos do artista, uma entrevista sua para o crítico Hans Ulrich Obrist e textos de Fernanda Brenner a curadora da exposição, do crítico e professor Milovan Ferronato e do poeta Ricardo Domeneck.
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ADRIANO COSTA: NÃO VAMOS NOS DECEPCIONAR
– Quando Até 13 de novembro. Visitação de qua. a sáb., das 13h às 19h, dom., das 12h às 18h, e ter. (11), das 13h às 19h
– Onde Pivô – edifício Copan, loja 54, São Paulo
– Preço Grátis
– Link: https://pivo.org.br/exposicoes/adriano-costa-nao-vamos-nos-decepcionar/
ADRIANO COSTA – WORKS A – Z
– Preço R$ 300
– Editora Lenz Press
– Link: https://pivo.org.br/loja/livro-works-a-z-de-adriano-costa-we-wont-be-disappointed/
– Textos Ricardo Domeneck, Milovan Farronato, Fernanda Brenner




