BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – A Organização Meteorológica Mundial (OMM), ligada à ONU, afirmou nesta quinta-feira (6) que 2025 será o segundo ou terceiro ano mais quente da história. Segundo comunicado da agência, uma “sequência alarmante de temperaturas excepcionais” afeta o planeta.

Ainda que eventos climáticos extremos deixem pouca margem para dúvida, os termômetros são eloquentes: os últimos 11 anos, de 2015 a 2025, concentram os 11 registros anuais mais quentes de 176 anos de observação meteorológica; deste conjunto, as três temperaturas mais altas foram verificadas justamente nos últimos três anos.

Em 2025, até agosto, a temperatura média global está 1,4°C acima dos níveis pré-industriais, com uma margem de erro estatística de 0,12°C. A marca é ligeiramente inferior à do ano passado, recorde histórico, de 1,55°C, com margem de 0,13°C, que pela primeira vez superou o teto preferencial do Acordo de Paris, de 1,5°C.

“Esta sequência sem precedentes de altas temperaturas, combinada com o aumento recorde dos níveis de gases de efeito estufa no ano passado, deixa claro que será praticamente impossível limitar o aquecimento global a 1,5°C nos próximos anos sem ultrapassar temporariamente essa meta”, declarou Celeste Saulo, secretária-geral da OMM.

A meteorologista e António Guterres, secretário-geral da ONU, entregaram os dados durante a Cúpula de Líderes da COP30, em Belém. “Cada ano acima de 1,5 graus afetará as economias, aprofundará as desigualdades e causará danos irreversíveis”, disse Guterres.

“Devemos agir agora, com grande rapidez e em grande escala, para tornar o excesso o menor, o mais curto e o mais seguro possível. E trazer as temperaturas de volta ao limite de 1,5°C antes do fim do século.”

As concentrações de gases de efeito estufa e o aquecimento oceanos, que atingiram níveis recordes em 2024, continuaram a aumentar em 2025, relata a OMM. A extensão do gelo marinho do Ártico após o congelamento do inverno foi a menor já registrada, e a extensão do gelo marinho da Antártica ficou bem abaixo da média ao longo do ano.

A tendência de aumento do nível do mar a longo prazo continuou, apesar de uma pequena e temporária oscilação devido a fatores naturais, mostra o relatório.

Outros destaques do documento da OMM:

– O período de 26 meses entre junho de 2023 e agosto de 2025 registrou uma longa sequência de temperaturas recordes mensais (exceção feita a fevereiro de 2025);

– Altas temperaturas globais nos últimos três anos em relação aos dois anteriores estão relacionadas ao fenômeno La Niña, que durou de 2020 até o início de 2023; a redução de aerossóis e outros fatores provavelmente também contribuíram para o aquecimento;

– O aquecimento dos oceanos continua a aumentar em 2025, de acordo com dados preliminares, acima dos valores recordes de 2024; as taxas de aquecimento dos oceanos mostram um aumento particularmente forte nas últimas duas décadas;

– A taxa de aumento do nível do mar a longo prazo aumentou desde o início dos registros por satélite, quase duplicando (2,1 milímetros/ano de 1993 a 2002 para 4,1 mm/ano de 2016 a 2025); dados preliminares de 2025 mostram ligeira queda dos registros após o recorde de 2024, comportamento provavelmente temporário devido ao La Niña e outros fatores;

– A extensão do gelo marinho do Ártico atingiu seu máximo anual de 13,8 milhões de km² em março, a menor extensão máxima registrada por satélite; a extensão do gelo marinho da Antártida foi a terceira menor já registrada em 2025;

– As concentrações dos três principais gases de efeito estufa na atmosfera (dióxido de carbono, metano e óxido nitroso) atingiram níveis recordes em 2024, de acordo com dados globais consolidados; as medições realizadas até o momento neste ano sugerem que esses níveis serão ainda mais elevados em 2025.

O levantamento da OMM, produzido especialmente para a COP30 a partir de um relatório anual da entidade, reafirma as conclusões pessimistas de documento equivalente do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), divulgado nesta semana.

As emissões cresceram 2,3% no último ano, alcançando um novo recorde, 57,7 gigatoneladas de CO² equivalente, e derrubá-las será um esforço sem precedentes. Pelas metas climáticas atuais, o mundo chegará a 2100 com um aquecimento global de 2,8°C.