SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa superou os 154 mil pontos nesta quinta-feira (6) após o Banco Central manter a Selic em 15% ao ano e defender que a taxa permaneça nesse nível por “período bastante prolongado”.

Às 10h58, o Ibovespa, principal índice da B3, avançava 0,65%, a 154.300 pontos, caminhando para um novo recorde de fechamento após atingir a máxima intradiária de 154.352 pontos. O desempenho é impulsionado pelas ações da Petrobras, que subiam 1,26% antes da divulgação do balanço da empresa, prevista para depois do encerramento do pregão.

O bom humor também se refletia no câmbio. No mesmo horário, o dólar caía 0,45%, a R$ 5,337, acompanhando o movimento de baixa da moeda americana no exterior.

O índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis de moedas, recuava 0,42%, a 99,75 pontos.

No mercado doméstico, os investidores reagem a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, de segurar a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano pela terceira reunião seguida.

A definição ocorreu apesar do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforçar a pressão por cortes na última semana.

Assim como em setembro, mês da última decisão do Copom, o colegiado do BC voltou a adotar um tom conservador e manteve a indefinição sobre o início dos cortes de juros à frente.

No comunicado, o comitê demonstrou mais convicção em seu plano ao afirmar que avalia como suficiente a estratégia de manter a taxa no nível atual por período “bastante prolongado” para a convergência da inflação à meta. Parte dos economistas acreditava que o Copom retiraria o advérbio “bastante” da frase, abrindo espaço para ajustes mais cedo, o que não ocorreu.

A decisão do Copom já era aposta praticamente unânime entre analistas, mas há dúvidas sobre o que vai acontecer daqui para frente. Enquanto alguns economistas afirmam que o comitê pode reduzir a taxa ainda neste ano, outros dizem que ainda não há condições para um corte.

Para Ian Lopes, economista da Valor Investimentos, o comunicado sinalizou que o corte não deve vir tão cedo. “O Copom sinalizou que irá -esperar o mercado interno e externo terem mais desdobramentos para definir sobre uma política monetária menos restritiva”.

De acordo com Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, o comunicado do BC após a decisão ainda é conservador e firme, mas tem algumas mudanças discretas. “O Comitê vê alguns sinais de desaceleração da inflação no Brasil, que se continuarem, darão maior confiança para a autoridade monetária cortar a Selic”.

Ele, contudo, afirma que o corte não deve acontecer na decisão de dezembro, mas sim em janeiro de 2026.

Desde a reunião anterior, em setembro, as projeções para a inflação coletadas pelo boletim Focus recuaram de 4,3% para 4,2% para 2026 e de 3,93% para 3,8% para 2027 –janela de tempo na mira do BC devido aos efeitos defasados da política de juros sobre a economia.

O objetivo central perseguido pelo BC é de 3%. No modelo de meta contínua, o alvo é considerado descumprido quando a inflação acumulada permanece por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto).

No mercado de câmbio, quanto maior o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, melhor para o real. Quando a taxa por lá cai —como ocorreu nas últimas duas reuniões do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano)— e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de “carry trade”.

Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro. O aporte aqui implica na compra de reais, o que desvaloriza o dólar.

Investidores também acompanham declarações de dirigentes do Fed no exterior. As autoridades do banco central americano devem reagir aos dados da ADP sobre emprego nos EUA.

A publicação, divulgada na quarta, mostrou que a abertura de vagas no setor privado se recuperou em outubro, marcando 42 mil novos postos de trabalho, acima da expectativa de 28 mil. Em setembro, 29 mil haviam sido fechados.

Os dados da ADP são desenvolvidos em conjunto com o Stanford Digital Economy Lab. Historicamente, a estimativa mensal tem se desviado da contagem do relatório de emprego do governo produzida pelo Escritório de Estatísticas do Trabalho do Departamento do Trabalho, e, por causa disso, economistas pedem cautela ao interpretar os números.

Por causa da paralisação do governo federal dos Estados Unidos, agora a mais longa da história, a divulgação de dados oficiais sobre a economia americana está suspensa. O momento é particularmente sensível para o BC americano, que se vale dos números econômicos para decidir sobre a taxa de juros.

Sem a referência das publicações oficiais do governo, a autoridade se abastece de relatórios laterais para decisões de política monetária, embora reconheça que a ausência de dados “padrão-ouro” limita a visibilidade sobre a atividade.

Na reunião da semana passada, o Fed estendeu o ciclo de cortes de juros em mais uma redução de 0,25 ponto percentual, repetindo a dose do encontro anterior, e levou a taxa à banda de 3,75% e 4%.

Novos cortes não estão garantidos. “Longe disso”, afirmou o presidente da autarquia, Jerome Powell, em entrevista coletiva após a decisão. “Houve opiniões muito diferentes sobre como proceder em dezembro”, disse ele.

Segundo Leonel Mattos, os posicionamentos das autoridades do Fed têm feito os investidores apostarem menos em um corte de juros em dezembro. “Esse movimento tem elevado os rendimentos dos títulos do Tesouro americano, o que favorece a atração de investidores estrangeiros para o dólar e valoriza a moeda a nível global”, afirma.

De acordo com a ferramenta FedWatch, do CME Group, investidores veem uma chance de 67% de um corte de 0,25 ponto na reunião de 10 de dezembro