PINDAMONHANGABA, SP (FOLHAPRESS) – A tarifa imposta pelo presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, a produtos feitos em aço e alumínio levou a uma corrida pela compra de sucata no mercado internacional, elevando preços e colocando em xeque políticas apoiadas nesse tipo de material, como é o caso das metas de redução da emissão de gases de efeito estufa da Novelis, a maior recicladora de alumínio do mundo.

Na rede férrea que corta um dos lados da planta industrial da Novelis em Pindamonhangaba, na região paulista do Vale do Paraíba, desembarcam todos os dias uma média de 80 cargas de materiais, entre recicláveis e alumínio primário, como é chamado o material produzido do zero.

Quase toda a carga reciclável é composta por latas compactadas nos 14 centros de coleta da companhia pelo Brasil. Para a subsidiária da Hindalco, ambas do grupo indiano Aditya Birla, a lata de alumínio é central na estratégia do negócio no Brasil.

Na unidade de Pindamonhangaba, a Novelis processa anualmente 720 mil toneladas de alumínio e recicla 500 mil toneladas de materiais. Outros tipos de sucata, como panelas e chaparias, também chegam à unidade, mas nem encostam na relevância dada às latas.

Depois que entram no centro de reciclagem, as latas são picotadas, passam por processos de preparação para separar o alumínio de sujeiras até seguir para a refusão, de onde o produto será preparado para as etapas de laminação a quente, a frio, acabamento e pintura.

Com os volumes atuais, o conteúdo reciclado no alumínio produzido e vendido pela empresa gira em torno de 80%, e o plano é chegar a 85% até 2030, diz Elizabeth Shie, gerente-executiva de estratégia e sustentabilidade da Novelis. “Parece que é pouco [o avanço], mas é como escalar o Everest. O mais difícil é quando você está chegando ao topo.”

No caminho dessa expansão há uma corrida por sucata no mercado internacional, levando o patamar de preços próximo ao do alumínio primário, o que torna o processo de reciclagem mais caro. A maior parte dessa sucata vem do México e de países do Oriente Médio.

O plano de descarbonização definido pela companhia prevê zerar emissões até 2050. A empresa já cumpriu uma primeira etapa, que era a de reduzir 30% das emissões.

Na divulgação de resultados do segundo trimestre fiscal nesta terça (4) em Atlanta, nos Estados Unidos, a Novelis registrou a expectativa de que a demanda por produtos de alumínio siga em alta, puxada pelo mercado de embalagens para bebidas.

A companhia não divulga os resultados por unidade, mas informou o mercado que as vendas líquidas aumentaram 10% na comparação com o mesmo período do ano passado, impulsionadas pela alta de preços no alumínio. As remessas de laminados ficaram estáveis, com 941 toneladas.

O documento para investidores também registra a expectativa de que a tendência de preços de sucata passou de ligeiramente estável para ligeiramente positiva.

A busca por sucata, diz Francisco Carvalho, vice-presidente de operações da Novelis na América Latina, vem principalmente de China e Estados Unidos. “Para o Brasil, é estrategicamente péssima a redução da oferta.”

O aumento do percentual de reciclado nas chapas permitirá que a Novelis reduza a compra do alumínio primário, produto considerado “carbono intensivo”, por ter a produção associada ao uso de combustíveis fósseis. No Brasil, entretanto, como a matriz energética é considerada limpa, o alumínio produzido aqui deixa pegada menor.

A diferença é considerável. Na produção da latinha, o consumo de energia elétrica é 95% menor quando nasce na reciclagem. A diferença na emissão de gases também fica nessa faixa de 95%. No preço final, ela custa 70% do que aquela produzida a partir de alumínio primário.

“Todos os esforços que a gente tem para aumentar o conteúdo reciclado acabam impactando diretamente na redução do carbono”, diz Elizabeth.

Mais material reciclado na produção também garantirá paridade no ritmo de aumento da produção em Pinda. A fábrica anunciou em maio a conclusão de um ciclo de investimentos de R$ 450 milhões iniciada em 2022.

Francisco Carvalho, vice-presidente de operações da Novelis na Amércia Latina, diz que esses investimentos em ativos críticos garantem a continuidade da produção. Quando o novo forno estiver funcionando, a produção vai a 750 mil toneladas anuais.

O complexo da Novelis em Pinda inclui galpões para o processamento de sucata, onde latas são picotadas e limpas, fornos para a refusão do alumínio, espaços para o refasciamento (um maquinário que uniformiza as bordas e superfícies), galpões para a laminação e enormes armazéns para as bobinas prontas.

A Novelis calcula ter 64% de participação de mercado no processamento de alumínio para embalagens e na reciclagem de latas. A estimativa é que as latas recicladas movimentem R$ 34 bilhões ao ano, dos quais R$ 20 bilhões passam pela companhia.

Projeções do setor indicam o índice de reciclagem de latas no Brasil chega a 96%, em uma cadeia que envolve catadores, cooperativas e ações coordenadas com grandes eventos como festivais e carnavais.

O setor tem tentado elevar a lata a um material preferencial no esteio de discussões sobre sustentabilidade, em um momento em que o Brasil sedia a COP30, a conferência das Nações Unidas para mudanças climáticas.

Na “blue zone”, onde serão as cúpulas de líderes e chefes de estado, a água servida lá será em lata –a Mamba, uma marca do grupo Heineken que, na ação em Belém, tem apoio da Novelis e da indústria de latas Ball.

RAIO-X NOVELIS BRASIL

Fundação: 1977, em Pindamonhangaba, quando se chamava Alcan

Sede: São Paulo (SP)

Número de funcionários: 1.720

Número de fábricas e centros de reciclagem: 14 centros de coleta, um complexo em Pindamonhangaba e uma fábrica de folhas de alumínio em Santo André

Principais clientes no Brasil: Coca-Cola, Ball Corporation, Ardagh Group e ABInBev.

Receita global: US$ 14,9 bilhões em 2024