SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um relatório elaborado pelo Tribunal de Contas da França afirmou que o Museu do Louvre, alvo de um roubo à luz do dia há três semanas, foi negligente e ignorou alertas sobre a segurança do edifício nos últimos sete anos.

O documento, divulgado nesta quinta-feira (6), afirma que a incapacidade da gestão do museu de atualizar a infraestrutura do edifício foi agravada por gastos excessivos na compra de obras de arte, por projetos de relançamento no período pós-pandemia, além de ineficiências e fraudes na venda de ingressos.

O Louvre “privilegiou as operações visíveis e atraentes em detrimento da manutenção e da renovação dos edifícios e das instalações técnicas, especialmente as de segurança”, indica o relatório, que analisou a gestão do museu de 2018 a 2024.

Trechos do documento já haviam sido vazados à mídia poucos dias após o roubo. O presidente do Tribunal de Contas, Pierre Moscovici, afirmou nesta quinta que o episódio “é, sem dúvida, um alerta estrondoso” que evidenciou que o ritmo de melhorias de segurança “está longe de ser suficiente”.

“As autoridades agora percebem que esses alertas não podem mais ser ignorados”, disse. Ele acrescentou que o Louvre possui recursos suficientes para realizar as melhorias necessárias e que “agora deve fazê-lo sem falhas”.

Segundo a corte, até 2024, apenas 39% das salas do museu possuíam câmeras. Além disso, uma auditoria de segurança iniciada em 2015 — que concluiu que o museu não era suficientemente monitorado — só resultou em uma licitação para obras de segurança no fim do ano passado.

Segundo documentos de uma auditoria interna, a senha principal do sistema de vigilância do museu era a palavra “louvre”, o que expôs ainda mais a fragilidade dos protocolos do museu.

O relatório do Tribunal de Contas diz ainda que mesmo as iniciativas anunciadas neste ano não se basearam em estudos de viabilidade, sejam técnicos ou financeiros. O tribunal apresentou dez recomendações, incluindo a redução do número de aquisições de obras pelo museu, o aumento dos preços dos ingressos e a modernização de sua infraestrutura digital e de sua governança.

Diante de um “subinvestimento crônico em sistemas de informação”, o documento acrescenta que “o museu deve reforçar sua função de controle interno, que ainda é pouco desenvolvida para uma instituição do porte do Louvre”.

De 2018 até o ano passado, o Louvre destinou € 26,7 milhões (R$ 162,87 milhões) a obras de manutenção e adequação às normas, e € 59,5 milhões (R$ 367,1 milhões) à restauração do palácio enquanto monumento histórico, totalizando € 86,2 milhões (R$ 532,1 milhões). No mesmo período, investiu € 105,4 milhões (R$ 650,5 milhões) na aquisição de obras e € 63,5 milhões (R$ 392 milhões) na renovação das instalações museográficas, detalha o relatório.

O Tribunal de Contas destaca um atraso considerável no ritmo dos investimentos, diante de uma degradação acelerada do museu, que recebeu 9 milhões de visitantes em 2024, sendo 80% deles estrangeiros.

Em resposta ao relatório, a direção do Louvre afirmou aceitar a maioria das recomendações formuladas pelo tribunal, mas considerou que o estudo ignorou diversas ações já realizadas na área de segurança.

Uma reunião de urgência do conselho de administração do Louvre está marcada para esta sexta-feira (7). A presidente do museu, Laurence des Cars, reconheceu, dias após o roubo, que o sistema de videovigilância externa é “muito insuficiente”.

A ação dos criminosos ocorreu às 9h30 locais (4h30 em Brasília) de um domingo, meia hora depois da abertura. Quatro homens utilizaram um elevador de carga e uma minisserra elétrica para cometer o crime, em uma ação que durou apenas sete minutos.

O acervo levado incluía peças que pertenceram à imperatriz Maria Luísa, esposa de Napoleão Bonaparte, além de joias de Hortênsia, enteada do imperador e rainha da Holanda, e de Maria Amélia, esposa do rei Luís Felipe e última rainha da França.

As joias têm valor estimado em US$ 102 milhões (R$ 549 milhões).

Quatro suspeitos foram presos e indiciados por envolvimento no assalto, mas os itens roubados ainda não foram recuperados. As autoridades consideram que os criminosos eram amadores, e não especialistas.