SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar iniciou a quinta-feira (6) em baixa ante o real após o Banco Central manter a Selic em 15% ao ano e defender a manutenção da taxa neste nível por “período bastante prolongado”, reforçando a percepção de que o Brasil seguirá atrativo para os investidores.

Às 9h34, a moeda americana caía 0,24%, aos R$ 5,347. Na quarta (5), o dólar fechou em queda de 0,7%, a R$ 5,360, e a Bolsa disparou 1,71%, a R$ 153.294 pontos, novo recorde histórico.

No exterior, a moeda norte-americana também começou o dia com queda. O índice DXY, que mede o desempenho da divisa frente a uma cesta de moedas, recuava 0,24%, a 99,93 pontos.

Após o fechamento do mercado financeiro, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central anunciou a decisão, por unanimidade, de segurar a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano pela terceira reunião seguida, apesar da pressão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por cortes.

O colegiado do BC adotou tom conservador, com diversos trechos idênticos à linguagem usada em setembro, e manteve a indefinição sobre o início dos cortes de juros à frente.

No comunicado, o comitê demonstrou mais convicção em seu plano ao afirmar que avalia como suficiente a estratégia de manter a taxa no nível atual por período “bastante prolongado” para a convergência da inflação à meta. Parte dos economistas acreditava que o Copom retiraria o advérbio “bastante” da frase, abrindo espaço para ajustes mais cedo, o que não ocorreu.

O movimento da véspera derivou do apetite por risco global, baqueado na véspera por temores de uma correção intensa nos preços das ações norte-americanas. Essa percepção se dissipou na quarta e deu fôlego aos ativos brasileiros, que também se beneficiaram da expectativa pela manutenção da taxa Selic na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).

O comitê optou por manter a taxa básica de juros no patamar de 15% ao ano, como amplamente esperado pelos operadores.

Desde a reunião anterior, em setembro, as projeções para a inflação coletadas pelo boletim Focus recuaram de 4,3% para 4,2% para 2026 e de 3,93% para 3,8% para 2027 –janela de tempo na mira do BC devido aos efeitos defasados da política de juros sobre a economia.

O objetivo central perseguido pelo BC é de 3%. No modelo de meta contínua, o alvo é considerado descumprido quando a inflação acumulada permanece por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto).

No mercado de câmbio, quanto maior o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, melhor para o real. Quando a taxa por lá cai —como ocorreu nas últimas duas reuniões do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano)— e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de “carry trade”.

Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro. O aporte aqui implica na compra de reais, o que desvaloriza o dólar.

Foi também de olho nas futuras movimentações do Fed que o mercado se posicionou nesta quarta.

Por causa da paralisação do governo federal dos Estados Unidos, agora a mais longa da história, a divulgação de dados oficiais sobre a economia americana está suspensa. O momento é particularmente sensível para o BC americano, que se vale dos números econômicos para decidir sobre a taxa de juros.

Sem a referência das publicações oficiais do governo, a autoridade se abastece de relatórios laterais para decisões de política monetária, embora reconheça que a ausência de dados “padrão-ouro” limita a visibilidade sobre a atividade.

Nesse sentido, dados da ADP sobre emprego ganharam mais destaque. A publicação, divulgada na quarta, mostrou que a abertura de vagas no setor privado se recuperou em outubro, marcando 42 mil novos postos de trabalho, acima da expectativa de 28 mil. Em setembro, 29 mil haviam sido fechados.

Os dados da ADP é desenvolvido em conjunto com o Stanford Digital Economy Lab. Historicamente, a estimativa mensal tem se desviado da contagem do relatório de emprego do governo produzida pelo Escritório de Estatísticas do Trabalho do Departamento do Trabalho, e, por causa disso, economistas pedem cautela ao interpretar os números.

Ainda assim, para o mercado “orelatório reforça a ideia de resiliência da atividade econômica e de que a desaceleração pela qual a economia do país passa é uma desaceleração gradual”, diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX. “Isso tira a urgência por corte de juros do Fed.”

Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, os dados ainda impulsionaram a procura por ativos de risco.

Na reunião da semana passada, o Fed estendeu o ciclo de cortes de juros em mais uma redução de 0,25 ponto percentual, repetindo a dose do encontro anterior, e levou a taxa à banda de 3,75% e 4%.

Novos cortes não estão garantidos. “Longe disso”, afirmou o presidente da autarquia, Jerome Powell, em entrevista coletiva após a decisão. “Houve opiniões muito diferentes sobre como proceder em dezembro”, disse ele.

As autoridades do Fed reconheceram as limitações impostas pela paralisação do governo, e Powell afirmou que a solução para isso é adotar cautela. “O que você faz quando está dirigindo sob neblina? Você diminui a velocidade”, disse.

Segundo Leonel Mattos, os posicionamentos das autoridades do Fed têm feito os investidores apostarem menos em um corte de juros em dezembro. “Esse movimento tem elevado os rendimentos dos títulos do Tesouro americano, o que favorece a atração de investidores estrangeiros para o dólar e valoriza a moeda a nível global”, afirma.

João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos, concorda. “O mercado deixou de considerar cortes mais agressivos, e isso faz com que a taxa de juros americana fique mais competitiva”.

De acordo com a ferramenta FedWatch, do CME Group, investidores veem uma chance de 71% de um corte de 0,25 ponto na reunião de 10 de dezembro.