SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A democrata Ghazala Hashmi foi eleita vice-governadora do estado da Virginia nesta terça-feira (4), e se tornou a primeira mulher muçulmana escolhida para um cargo no Executivo estadual na história dos Estados Unidos. A vitória se deu em paralelo à eleição de Abigail Spanberger, também democrata, para governadora.

Junto com Hashmi, o prefeito eleito de Nova York, Zohran Mamdani, venceu o pleito de terça para se tornar o primeiro muçulmano a governar a maior cidade do país.

Antes de ingressar na carreira política, numa manhã de 2017, Ghazala Hashmi estava a caminho do trabalho quando ouviu no rádio uma notícia que a deixou em pânico: a ordem do presidente Donald Trump, ainda em seu primeiro mandato, proibindo a entrada de refugiados de certos países muçulmanos. Ela estava preocupada com a possibilidade de um cadastro de muçulmanos ser criado no país.

Hashmi, que veio da Índia para os Estados Unidos aos 4 anos de idade, parou em frente à faculdade comunitária onde trabalhava, estacionou sua minivan e sentiu-se paralisada de medo. Como muçulmana que viveu nos EUA quase toda a sua vida, ela se perguntou se ainda tinha um lugar no país que chamava de lar.

Ela superou essas dúvidas pela primeira vez em novembro de 2019, quando se tornou a primeira muçulmana eleita para o Senado estadual da Virgínia, um marco que ocorreu em meio a uma onda de muçulmanos concorrendo a cargos eletivos em todo o país e ao aumento da visibilidade das mulheres da religião na política.

À época, sua vitória ajudou a mudar o controle do Senado em um movimento em que os democratas assumiram o controle de ambas as casas e consolidaram o poder em todo o governo estadual pela primeira vez em uma geração.

Ex-professora de literatura e administradora de faculdade comunitária, Hashmi construiu sua carreira política com base em questões como a melhoria da educação, medidas de controle de armas e a expansão do acesso à saúde.

“Os muçulmanos na América são como qualquer outro americano”, disse Hashmi em uma entrevista ao ser eleita senadora. “Fui líder de tropa das escoteiras. Participei ativamente da escola das minhas filhas e de trabalhos voluntários. Tudo o que uma mãe suburbana normalmente faria, eu também faço”, disse —exceto, talvez, beber vinho.

Entre 2016 e 2019, quando Hashmi foi eleita, mais de 300 candidatos muçulmanos, incluindo mais de 100 mulheres, concorreram a cargos eletivos em todo o país, de acordo com um relatório que acompanha a participação política de membros dessa religião.

As representantes Ilhan Omar, de Minnesota, e Rashida Tlaib, de Michigan, tornaram-se as primeiras mulheres muçulmanas eleitas para o Congresso em 2018. E muitas outras concorreram em eleições menores por todo o país, como Abrar E. Omeish, que conquistou uma vaga no conselho escolar do Condado de Fairfax, na Virgínia, também em 2019. Ela estava entre pelo menos três mulheres muçulmanas na Virgínia que garantiram vagas em eleições para cargos menos importantes naquele ano.

Mohammed Missouri, diretor executivo da Jetpac, organização que defende a participação política dos muçulmanos nos EUA, afirmou que o aumento no número de candidatos da religião concorrendo a cargos públicos nos últimos anos está entre os maiores desde os ataques do 11 de Setembro de 2001. Em parte, disse ele, é uma resposta direta às manifestações abertas de islamofobia no país. Ele disse ter ouvido uma queixa comum de candidatos estreantes: “Não posso mais ficar de fora”.

Da mesma forma, após entrar em pânico dentro de sua minivan em 2017, Hashmi percebeu que tinha duas opções: “Eu poderia continuar em silêncio e aceitar as coisas”, disse ela. “Ou eu realmente precisava me tornar muito mais visível.”