NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assistiu nesta terça-feira (4) à mais contundente reação do Partido Democrata contra seu governo desde que tomou posse, em janeiro.

Desde a derrota de Kamala Harris no ano passado, os democratas têm enfrentado dificuldade de encontrar uma nova liderança capaz de unir o partido, e mesmo manifestações pelo país não têm sido capazes de impedir o avanço de políticas de Trump.

Nesta terça (4), no lugar de protestos, a resposta veio nas urnas, com eleitores em diversos pleitos locais dando vitórias expressivas a democratas pelo país.

Embora fosse esperado que o partido vencesse em Nova York, maior cidade dos EUA, a vitória do socialista Zohran Mamdani contrariou as expectativas iniciais e ocorreu mesmo com a pressão declarada de Trump contra o candidato. Mais do que isso, outras cidades tiveram eleições locais que expressaram rejeição aos nomes apoiados pelo presidente republicano.

Para analistas, duas disputas em especial chamaram atenção. Uma delas foi a eleição de três cadeiras para a Suprema Corte da Pensilvânia, em que os democratas saíram vencedores. Na outra, eleitores da Califórnia foram às urnas avalizar uma mudança dos distritos eleitorais do estado para as próximas eleições, fortalecendo os democratas e dando uma importante vitória ao governador Gavin Newsom.

O partido de oposição ainda recuperou o comando do governo estadual da Virgínia, um estado geralmente considerado chave em eleições.

Lá, venceu a democrata Abigail Spanberger contra a republicana Winsome Earle-Sears. Em Nova Jersey, os democratas também mantiveram o governo do estado com a vitória de Mikie Sherrill ante Jack Ciattarelli.

A sigla também venceu os pleitos em Cincinnati (Ohio), Atlanta (Geórgia), Detroit (Michigan) e Pittsburgh (Pensilvânia).

“Certamente a eleição de ontem coloca Trump na defensiva. Ele vem de uma série de vitórias, mas agora você percebe que a maré está virando. A vitória dos democratas na Pensilvânia, por exemplo, não era tão óbvia, e aconteceu”, diz à reportagem Thomas Whalen, professor de história moderna da Universidade de Boston.

Assim, os democratas saem fortalecidos para as eleições de meio de mandato de 2026, que podem redistribuir as forças no Congresso. A leve maioria da qual dispõe o Partido Republicano no Legislativo hoje pode desaparecer no ano que vem, dando vantagem aos democratas e dificultando a implementação de políticas de Trump.

Nos EUA, é comum que o partido no comando da Casa Branca perca a maioria legislativa nas eleições de meio de mandato. Mas Whalen avalia que o recado das urnas desta terça mostra que uma derrota em 2026 terá impacto maior -sobretudo porque Trump já disse que não será candidato à reeleição em 2028 (a Constituição o proíbe) e isso diminui sua vantagem eleitoral.

“O poder de Trump vai ser reduzido porque ele não pode concorrer de novo, ele já admitiu. Eu acho que os democratas podem retomar o controle do Congresso e aprovar um impeachment contra ele novamente”, afirma -a medida já foi passada pela Câmara em 2019 e 2021, mas, a menos que haja maioria democrata de dois terços no Senado, não deve ser aprovada na Casa superior.

O professor aponta ainda que tanto os democratas mais moderados, como na Virgínia e Nova Jersey, como o socialista Mamdani em Nova York trabalharam suas campanhas em cima de questões ligadas ao custo de vida. E economia, e a promessa de melhorá-la e reduzir os índices de inflação no país, foi justamente o que catapultou Trump em 2024.

Em Nova York, um eleitor resumiu à reportagem esse sentimento de rejeição a Trump.

Anthony Panella, 43 anos, gerente de negócios, votou em Mamdani meia hora antes de as urnas fecharem. Ele disse não ter certeza de que o socialista seja capaz de implementar todas as suas propostas, muitas consideradas ousadas -mas afirmou ser importante elegê-lo pela necessidade de mudança.

“Ele é a completa oposição ao presidente. É um rosto novo, a nova geração da politica. Não acredito que ele conseguirá fazer tudo o que propõe, mas é uma mudança importante”, disse.

Nesta quarta (5), ciente do impacto que o pleito de terça pode ter no ano que vem, Trump comentou as disputas e antecipou um dos discursos que serão usados contra os democratas no ano que vem.

“Se vocês querem ver o que os democratas no Congresso desejam fazer com a América, basta olhar para o resultado da eleição de ontem em Nova York, onde o partido deles colocou um comunista no poder”, afirmou Trump durante um evento em Miami, na Flórida.

“Agora, os democratas estão tão radicais que Miami em breve será o refúgio daqueles que fogem do comunismo em Nova York. A decisão que todos os americanos enfrentam não poderia ser mais clara -temos uma escolha entre o comunismo e o bom senso”, afirmou.