SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Professora titular e ex-diretora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Ana Lúcia Duarte Lanna concorre à reitoria da USP (Universidade de São Paulo) com o discurso de que a instituição precisa de uma gestão mais participativa e plural, capaz de enfrentar as tensões internas sem abdicar do diálogo.
“A universidade é um desafio complexo, e, portanto, não existem soluções fáceis”, afirma a docente. Ela lidera a chapa Nossa USP, formada também pelo professor Pedro Vitoriano de Oliveira, do Instituto de Química.
A dupla propõe um modelo de administração “participativo, descentralizado e transparente”, sustentado em cinco eixos: formação, pesquisa, inovação, pertencimento e diversidade e gestão.
Entre as plataformas estão o fortalecimento das políticas de permanência estudantil e de bem-estar, a criação de instrumentos que permitam maior autonomia administrativa às unidades, o incentivo à cooperação interdepartamental e a expansão de programas de extensão com impacto social.
Com carreira iniciada na USP em 1989, Lanna tenta ser apenas a segunda mulher a comandar a maior universidade do país, após Suely Vilela (2005-2009). Ela é reconhecida pelo trabalho em áreas de gestão e políticas institucionais, tendo comandado a recém-criada Prip (Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento), um dos braços mais expostos da atual administração de Carlos Gilberto Carlotti Júnior.
À frente da repartição, ela lidou com duas das áreas mais sensíveis da universidade: as políticas de inclusão e a gestão do Crusp (Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo), foco de manifestações e críticas de estudantes, muitas endereçadas à própria professora.
Lanna opina que a tensão é legítima e necessária ao aprendizado democrático. “O Crusp faz parte da universidade. É um lugar que precisa ser cuidado. E o cuidado nunca será consensual. Em cada ação, tivemos adesões e resistências, mas o resultado foi positivo: conseguimos melhorar o espaço físico, os critérios de acesso e o acompanhamento cotidiano”, diz.
A professora afirma que a experiência na pró-reitoria ampliou sua visão sobre as demandas da USP, que extrapolam a assistência estudantil. “Desde o início, a Prip não foi pensada como uma pró-reitoria de assistência. Ela foi criada para tratar do bem-estar universitário no sentido mais amplo e contemporâneo, articulando diversidade, permanência e excelência acadêmica.”
Lanna, assim como todos os seus concorrentes, representa continuidade à gestão atual de Carlotti Júnior. Questionada sobre os problemas enfrentados nos últimos quatro anos, especialmente a falta de docentes que rendeu uma greve em 2023, a candidata afirma reconhecer avanços.
“Foram contratados 1.200 professores, mais do que quase todas as universidades brasileiras, com responsabilidade fiscal e políticas de acolhimento. Cada vaga foi aberta a partir de um projeto de futuro. Isso é um avanço inquestionável”, diz.
Entre as pautas que mais mobilizam a comunidade acadêmica, a professora defende a continuidade e ampliação das políticas de cotas para docentes.
Ela responde às críticas da Defensoria Pública de São Paulo, que considerou o sistema atual inefetivo: “A universidade contratou mais docentes negros do que antes, cerca de 17% dos novos professores. É uma política em construção, e haverá uma revisão prevista pelo Conselho Universitário. Não é que a USP não faça, é que precisamos avaliar se o que estamos fazendo é efetivo.”
A docente também foi questionada sobre as discussões pela adoção de cotas para pessoas trans e indígenas na universidade. Ela não respondeu ser a favor ou contra, mas disse que a política precisa ser amplamente discutida antes de ter encaminhamento.
Ao descrever o projeto que pretende levar à reitoria, Lanna enfatiza a necessidade de uma gestão cooperativa, plural e atenta às múltiplas realidades da USP, que hoje reúne mais de 120 mil pessoas entre estudantes, docentes e servidores. “Os desafios da universidade são complexos e multifocais. Nenhum gestor isolado dá conta disso. Precisamos de equipes diversas, com experiências amplas, capazes de construir consensos e implementar projetos transformadores”, opina.
Na reta final da disputa, que será decidida em 27 de novembro, a professora aposta numa agenda extensa e muita conversa para convencer a comunidade acadêmica de que chegou sua vez de guiar a instituição. “A USP é um patrimônio público, e nossa responsabilidade é manter o compromisso com a excelência, mas também com o pertencimento. A universidade que queremos é aquela em que todos se reconhecem.”




