SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de manter a Selic em 15% ao ano, anunciada nesta quarta-feira (5), já era aposta praticamente unânime entre analistas, mas há dúvidas sobre o que vai acontecer daqui para frente. Enquanto alguns economistas afirmam que o comitê pode reduzir a taxa já no mês que vem, outros dizem que ainda não há condições para um corte.
Os defensores de uma redução mais rápida nos juros apontam que os últimos indicadores mostraram queda da inflação e desaceleração da economia. CItam, ainda, a redução de 0,25 ponto na taxa de juros nos Estados Unidos promovida pelo Fed (banco central americano) na semana passada.
Com juros mais baixos nos EUA, os investidores tendem a procurar retornos maiores e aplicar em países como o Brasil. Isso faz com que o câmbio brasileiro se valorize, o que ajuda a controlar a inflação.
Isso já aconteceu ao longo do ano, afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. Ele diz que a Selic em alto patamar e a valorização do real ao longo do ano fizeram com que os investidores buscassem títulos de renda fixa brasileiros e entrasse mais investimento estrangeiro direto.
Para ele, a Selic deve começar a cair em janeiro do ano que vem. Ele cita dois fatores que justificam a manutenção da taxa em um patamar elevado: a inflação de serviços e a baixa taxa de desemprego.
Como a inflação está caindo, a manutenção do valor nominal da Selic em 15% implica um aumento da taxa real de juros. Vale diz que a tendência é que o Copom ajuste os juros básicos a partir de janeiro para que a taxa real se mantenha constante -ou seja, a dimensão do corte da Selic acompanhe a queda da inflação.
Já a economista-chefe da Galápagos Capital, Tatiana Pinheiro, avalia que há condições de iniciar um ciclo afrouxamento monetário em dezembro deste ano. Ela aponta que a taxa de juros real está elevada há dez meses -maior período desde a adoção das metas de inflação, em 1999- e a política monetária foi eficiente.
“Não é necessário manter esse grau de aperto por muito mais tempo, estamos vendo a inflação corrente caindo”, afirma.
Pinheiro argumenta que a inflação dos preços livres (ou seja, daqueles que não sofrem interferência direta do governo) está em patamares muito baixos, assim como a do atacado. Portanto, não há pressão para repassar altas de preços ao varejo.
Ela diz também que as expectativas de longo prazo têm se aproximado da meta de 3% e há sinais de que a atividade econômica demonstra sinais de desaceleração, após um breve “repique” em agosto.
O economista-chefe da Austin Ratings, Alex Agostini, diz considerar que o ciclo de cortes deveria começar apenas em março de 2026. Ele argumenta que há muita indexação de preços no país, principalmente de tarifas, e esses bens e serviços (como preços de aluguéis) são imunes à taxa de juros, o que obriga o nível de juro a ser mais amargo para fazer o preço médio ceder.
Ele diz, ainda, que a inflação só entrará em uma “zona de conforto” a partir de março de 2026, quando a alta de preços acumulada de 12 meses deve atingir cerca de 3,8% -hoje, está em 5,17%.
CAÇA-PALAVRAS
Como todos já esperavam a manutenção da taxa, os especialistas deram uma atenção maior ao palavreado do comunicado, diz Marcos Moreira, sócio da Garten Capital. Ele destacou que o Copom manteve a indicação de que a política monetária deve ser mantida em patamar contracionista por um “período bastante prolongado”.
Pedro Cutolo, da ONE Wealth Management, também citou o tom conservador do texto.
Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, afirma que houve um “pequeno ajuste” no comunicado do Copom, que indica que a inflação está arrefecendo, mas que mesmo assim ele acredita que a taxa nominal não deve se mexer neste ano, porque a inflação ainda está acima do teto da meta.
José Márcio Camargo , economista-chefe da Genial Investimentos, deu atenção ao comunicado que foi divulgado logo após o anúncio da decisão. O texto, afirma Camargo, “foi bastante consistente com o teor da reunião anterior, sinalizando a manutenção de uma política monetária contracionista”.




