SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Vereadores de São Paulo vão investigar um investidor de imóveis que ensinava estratégias para lucrar com a compra e venda de unidades de interesse social, voltadas à população de baixa renda, no âmbito da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da HIS (Habitação de Interesse Social).

Em sessão na terça-feira (4), os legisladores solicitaram a quebra de sigilo bancário e fiscal de Gustavo Nery, fundador e CEO da Midrah Investimentos Ltda., após ele prestar depoimento sobre os negócios fechados pela empresa com construtoras para a venda de unidades HIS.

O empresário, porém, deixou de responder às perguntas dos vereadores após exibição de vídeos em que aparece dando dicas de como obter por preços mais baixos imóveis voltados às faixas de renda. A reportagem tentou contato com Nery, mas não obteve resposta até a publicação.

Em uma das sequências, ele cita clientes que colocaram o imóvel no nome do filho para obedecer à exigência legal de enquadramento de renda de até dez salários-mínimos. “Às vezes, aumenta em 25%, 30% o valor no mesmo edifício, então é um grande benefício comprar no HIS”, disse em vídeo divulgado nas plataformas de sua empresa.

“Quer dizer que comprar R2V [empreendimento sem limite de renda] é ruim? Na minha estratégia, é. A não ser que seja o mesmo preço de HIS, que seria competitivo. Agora, eu não vou pagar 30% mais caro em uma unidade só por causa de um nome no contrato”, disse Nery, em outro vídeo exibido na sessão.

Desde 2014, no âmbito do Plano Diretor, a legislação paulistana permite a produção privada de unidades de interesse social, que são voltados para famílias com renda de três a dez salários mínimos.

Em troca de comercializar as unidades com preços mais baixos, as construtoras recebem subsídios da prefeitura, como redução ou isenção do IPTU.

Sem fiscalização da renda dos compradores, as moradias sociais foram vendidas a pessoas com alto poder aquisitivo e até a empresas, que passaram a destinar os apartamentos a estadias de curta duração, mais rentáveis do que contratos de aluguel mensais.

A prática é alvo de ação civil pública do Ministério Público, que afirmou ter recebido entre janeiro e agosto deste ano cerca de 6.500 avisos de possíveis fraudes em transações envolvendo empreendimentos de interesse social na cidade.