SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de manter a taxa Selic no patamar de 15% ao ano continua favorecendo a renda fixa, em especial títulos pós-fixados e indexados à inflação, segundo especialistas ouvidos pela reportagem.
Mesmo com a possibilidade de uma redução na taxa básica do país em breve, a rentabilidade da classe de investimentos atrelada à Selic ou ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário), seu equivalente no mercado privado, segue atrativa.
“A manutenção afeta muito pouco no curto prazo, e ainda vemos o CDI e o Tesouro Selic performando muito bem”, diz Rafael Winalda, especialista em renda fixa do Inter.
Mesmo tendo o início do ciclo de cortes à frente, diz ele, o rendimento contínuo até o vencimento seguirá elevado. Pelas projeções do último Boletim Focus, a Selic deve encerrar o próximo ano em 12,25%. “A rentabilidade cai com juros menores, mas o nível segue ainda muito atrativo. É uma excelente taxa, especialmente para clientes mais conservadores”, afirma Winalda.
Segundo levantamento do C6, o título do Tesouro Selic com vencimento em 2028 deve ter um retorno líquido real (já descontado o Imposto de Renda e a inflação projetada) de 6,67%, considerando alocação de um ano.
Lais Costa, analista de renda fixa da Empiricus Research, ainda acrescenta que os pós-fixados normalmente são de “baixíssima volatilidade”, uma característica que costuma agradar quem procura liquidez e acesso rápido ao dinheiro investido sem grandes penalizações.
A recomendação também é por investimentos que acompanham o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o indicador oficial da inflação do país. O atrativo dessa modalidade é a proteção do dinheiro do investidor contra a alta de preços, mais uma taxa fixa.
O Tesouro Direto ofertava, nesta quarta, títulos do IPCA com juro real acima de 7%. O prazo para 2029, por exemplo, prometia a variação da inflação mais 8%; o de 2040, a inflação mais 7,32%.
A aposta nos títulos indexados à inflação vale, sobretudo, para clientes com perfil moderado e arrojado. “O IPCA+ é a oportunidade agora, mas é bom avisar que vai ter volatilidade com a eleição de 2026”, diz Winalda.
O mercado espera que o governo Lula (PT) aumente gastos na corrida pela reeleição, o que tende a puxar as projeções de inflação para cima e, por consequência, as da taxa Selic também.
Isso é o que Marcelo Freller, estrategista de produtos de investimento do C6 Bank, define como “fiscal complicado”. A pressão sobre as contas públicas somadas ao cenário externo, diz ele, “nos faz pensar que a Selic vai cair um pouco menos do que o esperado”.
O cenário externo citado por ele se refere às movimentações do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), que cortou os juros em 0,25 ponto percentual nas duas últimas reuniões, mas colocou dúvidas sobre a continuidade do ciclo para os próximos encontros.
Juros mais altos nos Estados Unidos costumam atrair investidores globais, que tiram recursos de outros mercados para aplicar na renda fixa de lá. O efeito se propaga ao mercado de câmbio, e um dólar mais valorizado pode, em última análise, aumentar a pressão sobre a inflação no Brasil.
Nesse sentido, o IPCA+ é uma boa pedida, dizem os analistas. A recomendação vale especialmente para investidores que são mais tolerantes à volatilidade, evitando, assim, a chamada “marcação ao mercado” -a oscilação do CDI, que ora ultrapassa, ora fica abaixo da taxa fixa, causando desconforto em investidores mais conservadores.
No caso dos prefixados, analistas recomendam aplicações de curto prazo. As taxas de retorno têm caído nos últimos meses, seguindo as projeções do mercado sobre a inflação, e podem se desvalorizar ainda mais se o Copom sinalizar cortes de juros na ata.
“O prefixado ainda está valendo para o curto prazo, porque está congelado na máxima [em torno de 13%]. O próximo passo é cair”, diz Marcos Praça, diretor de Análise na Zero Markets Brasil.
Já aportes na renda fixa privada, como debêntures, LCIs e LCAs (letras de crédito imobiliário e de agronegócio), são recomendados, mas com cautela. “Enxergamos boas oportunidades, especialmente nos isentos de Imposto de Renda, mas temos sido mais criteriosos, sobretudo com empresas ligadas ao agro”, diz Winalda, do Inter.
“Empresas do agronegócio estão em um momento muito delicado, com recuperações judiciais e alavancagem elevada, mesmo com safras recordes.”
A dica é investir em empresas com bom histórico de crédito, e não se basear apenas nas oportunidades de retorno.




