BRSÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu, por unanimidade, nesta quarta-feira (5) manter a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano pela terceira reunião seguida, apesar da pressão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por cortes.
A manutenção dos juros no nível atual era dada como certa pelos agentes do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrava às vésperas do anúncio que essa era a expectativa de todas as 31 instituições consultadas.
Um dia antes da decisão, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse que, se fosse membro do colegiado do BC, votaria pela queda de juros. Na avaliação dele, o patamar da Selic hoje é insustentável e o momento atual permitiria a redução da taxa básica.
O discurso de Haddad ecoa uma cobrança sobre o BC feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) -responsável pela indicação de Gabriel Galípolo ao comando da autarquia.
A decisão confirma o aumento da diferença entre os juros dos Estados Unidos e do Brasil. Na semana passada, o Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) reduziu a taxa em 0,25 ponto percentual, para a faixa entre 3,75% e 4% ao ano. A diferença, portanto, foi a 11 pontos percentuais, levando em conta o limite superior americano.
A Selic está fixada em seu maior nível em quase duas décadas. O ciclo de alta de juros foi interrompido em julho após sete aumentos consecutivos. De setembro de 2024 a junho, a taxa básica acumulou elevação de 4,5 pontos percentuais -de 10,5% a 15% ao ano.
Nos últimos meses, o Copom vinha sinalizando a necessidade de manter por um longo período a política de juros em um patamar alto o suficiente para moderar o crescimento da economia. A postura cautelosa ajudou no recuo das expectativas de inflação de médio prazo. No entanto, as projeções ainda seguem distantes do centro da meta.
Segundo o último boletim Focus, os analistas projetam que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) termine 2026 em 4,2% e feche 2027 em 3,8%.
Devido aos efeitos defasados da política de juros sobre a economia, o Copom já tem hoje a inflação do segundo trimestre de 2027 na mira.
O alvo central perseguido pelo BC é 3%. No modelo de meta contínua, o objetivo é considerado descumprido quando a inflação acumulada permanece por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto). O primeiro estouro do IPCA no novo formato ocorreu em junho.
No cenário doméstico, a atividade econômica continua perdendo fôlego sob efeito dos juros altos. O mercado de trabalho, contudo, mostra resiliência. A taxa de desemprego do Brasil foi de 5,6% no trimestre até setembro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O indicador voltou a marcar o menor nível da série histórica iniciada em 2012.
Quanto ao ambiente externo, a tensão entre os governos dos Estados Unidos e do Brasil se reduziu, sobretudo depois do encontro de Lula com Donald Trump. A reunião ocorreu no dia 26 de outubro, na Malásia, e deu início a uma nova fase de negociações sobre o tarifaço. O câmbio também tem se mostrado comportado, com o dólar global mais fraco.
Na semana passada, o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) anunciou a redução de 0,25 ponto percentual na taxa de juros do país, para 3,75% a 4% ao ano. A decisão foi tomada sem informações atualizadas sobre desemprego no país devido ao shutdown (paralisação de parte dos serviços do governo americano).
O Copom volta a se reunir nos dias 9 e 10 de dezembro, no último encontro do ano, que deve marcar a despedida dos diretores Diogo Guillen (Política Econômica) e Renato Gomes (Organização do Sistema Financeiro e de Resolução), indicados ao BC na gestão de Jair Bolsonaro (PL). A expectativa é que eles não sejam reconduzidos aos respectivos cargos.




