SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa disparou 1,71% nesta quarta-feira (5) e fechou em 153.294 pontos, novo recorde histórico.
Foi o 11º pregão seguido de ganhos no Ibovespa. A última série de 11 ganhos aconteceu em julho de 2024; uma sequência maior, apenas entre maio e junho de 1994, com 15 altas consecutivas.
No pico do pregão, o Ibovespa chegou a 153.583 pontos -nova máxima durante o período de negociações. O índice cruzou as marcas de 151 mil e 152 mil pontos pela primeira vez também nesta sessão, embalado pela forte valorização da Vale (+1,71%) e da Petrobras (+1,98%), as duas empresas de maior peso na carteira teórica.
O movimento derivou do apetite por risco global, baqueado na véspera por temores de uma correção intensa nos preços das ações norte-americanas. Essa percepção se dissipou neste pregão e deu fôlego inclusive ao mercado cambial, com o dólar fechando em baixa de 0,7%, cotado a R$ 5,360.
Aqui, o real ainda se beneficiou da expectativa pela manutenção da taxa Selic na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que divulga a decisão no início da noite.
A manutenção do atual patamar de 15% ao ano é praticamente um consenso entre os operadores: entre as 31 instituições consultadas pela Bloomberg, nenhuma espera um resultado diferente.
A dúvida, porém, está em como se dará a comunicação do colegiado. A tendência, na visão dos economistas, é que o comitê evite dar pistas sobre quando pretende iniciar o ciclo de corte de juros. Mas a aposta do mercado financeiro é que o afrouxamento da política monetária comece apenas em 2026, tendo em vista a recente melhora nas projeções de inflação.
Desde a reunião anterior, em setembro, as projeções para a inflação coletadas pelo boletim Focus recuaram de 4,3% para 4,2% para 2026 e de 3,93% para 3,8% para 2027 janela de tempo na mira do BC devido aos efeitos defasados da política de juros sobre a economia.
O objetivo central perseguido pelo BC é de 3%. No modelo de meta contínua, o alvo é considerado descumprido quando a inflação acumulada permanece por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto).
No mercado de câmbio, quanto maior o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, melhor para o real. Quando a taxa por lá cai -como ocorreu nas últimas duas reuniões do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano)- e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de “carry trade”.
Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro. O aporte aqui implica na compra de reais, o que desvaloriza o dólar.
É também de olho nas futuras movimentações do Fed que o mercado se posicionou nesta quarta.
Por causa da paralisação do governo federal dos Estados Unidos, agora a mais longa da história, a divulgação de dados oficiais sobre a economia americana está suspensa. O momento é particularmente sensível para o BC americano, que se vale dos números econômicos para decidir sobre a taxa de juros.
Sem a referência das publicações oficiais do governo, a autoridade se abastece de relatórios laterais para decisões de política monetária, embora reconheça que a ausência de dados “padrão-ouro” limita a visibilidade sobre a atividade.
Nesse sentido, dados da ADP sobre emprego ganharam mais destaque. A publicação, divulgada nesta quarta, mostrou que a abertura de vagas no setor privado se recuperou em outubro, marcando 42 mil novos postos de trabalho, acima da expectativa de 28 mil. Em setembro, 29 mil haviam sido fechados.
Os dados da ADP é desenvolvido em conjunto com o Stanford Digital Economy Lab. Historicamente, a estimativa mensal tem se desviado da contagem do relatório de emprego do governo produzida pelo Escritório de Estatísticas do Trabalho do Departamento do Trabalho, e, por causa disso, economistas pedem cautela ao interpretar os números.
“O relatório reforça a ideia de resiliência da atividade econômica e de que a desaceleração pela qual a economia do país passa é uma desaceleração gradual. Isso tira a urgência por corte de juros do Fed”, diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, os dados indicam “que a economia está um pouco mais forte, aliviando risco de desaceleração forçada”.
“Isso atrai a economia global para os ativos de risco.”
Na reunião da semana passada, o Fed estendeu o ciclo de cortes de juros em mais uma redução de 0,25 ponto percentual, repetindo a dose do encontro anterior, e levou a taxa à banda de 3,75% e 4%.
Novos cortes não estão garantidos. “Longe disso”, afirmou o presidente da autarquia, Jerome Powell, em entrevista coletiva após a decisão. “Houve opiniões muito diferentes sobre como proceder em dezembro”, disse ele.
As autoridades do Fed reconheceram as limitações impostas pela paralisação do governo, e Powell afirmou que a solução para isso é adotar cautela. “O que você faz quando está dirigindo sob neblina? Você diminui a velocidade”, disse.
Segundo Leonel Mattos, os posicionamentos das autoridades do Fed têm feito os investidores apostarem menos em um corte de juros em dezembro. “Esse movimento tem elevado os rendimentos dos títulos do Tesouro americano, o que favorece a atração de investidores estrangeiros para o dólar e valoriza a moeda a nível global”, afirma.
João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos, concorda. “O mercado deixou de considerar cortes mais agressivos, e isso faz com que a taxa de juros americana fique mais competitiva”.
De acordo com a ferramenta FedWatch, do CME Group, investidores veem uma chance de 71% de um corte de 0,25 ponto na reunião de 10 de dezembro.




