SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quem vê o Instagram de Rama Duwaji, 28, mal imagina que ela é a futura primeira-dama de Nova York. Não há publicações de campanha ou fotos com o marido, Zohran Mamdani, —eleito prefeito nesta terça-feira (4).

O único sinal visível do novo papel público de Duwaji são os comentários recentes que a chamam de “my first lady” (minha primeira-dama), vindos também de quem nem mora na maior cidade dos Estados Unidos.

Como boa integrante da geração Z, as redes sociais da artista, ceramista e ilustradora são repleta de “dumps” (carrosséis com várias fotos), selfies que destacam seus looks, com bota western, franja, delineador e grandes brincos, além de suas inspirações artísticas.

Duwaji teve trabalhos publicados em revistas como a Vogue e sites como The Cut. Suas ilustrações têm teor político, retratam em sua maioria mulheres árabes de expressões sérias, com referências feministas e à Palestina —que se alinham com a agenda do marido, o primeiro muçulmano eleito prefeito de Nova York.

Dados do Google Trends indicam que o interesse por Duwaji nos Estados Unidos começou a aumentar após a vitória do marido nas primárias democratas para a Prefeitura de Nova York, em junho. As buscas atingiram o pico depois de sua eleição, na noite desta quarta-feira (5). Entre as principais dúvidas dos americanos sobre a ilustradora estão qual é sua etnia, religião e idade. (Síria; não está claro se é religiosa, mas vêm de família muçulmana; 28 anos).

Em entrevista ao site Yung, ela afirmou que, no contexto atual, arte e política se entrelaçam. Enquanto artista e cidadã dos EUA, disse sentir que sua voz precisa se manifestar em relação ao que está acontecendo.

“Minha arte continua sendo um reflexo do que acontece ao meu redor, mas agora o que me parece ainda mais útil do que meu papel como artista é meu papel como cidadã americana. Com tantas pessoas sendo expulsas e silenciadas pelo medo, tudo o que posso fazer é usar minha voz para falar sobre o que está acontecendo nos EUA, na Palestina e na Síria, o máximo que puder”, disse.

Ela se casou com Mamdani em maio deste ano, na prefeitura de Nova York. “Rama não é apenas a minha esposa”, escreveu o prefeito em uma publicação do ensaio fotográfico de casamento dos dois. “Ela é uma artista incrível que merece ser conhecida por seus próprios méritos. Você pode criticar minha visão, mas não a minha família”.

Nascida em Houston, no estado do Texas, Duwaji é filha de imigrantes sírios vindos da capital, Damasco. Seu pai é desenvolvedor de software e a mãe é médica. Aos nove anos, mudou-se com a família para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde cursou o ensino médio.

Ainda no Oriente Médio, frequentou o primeiro ano na Escola de Artes da Virginia Commonwealth University no Qatar, concluindo o restante da graduação nos EUA. Formou-se em 2019, voltou para Dubai e, em 2021, mudou-se para Nova York para estudar na School of Visual Arts, onde concluiu o mestrado em belas artes com especialização em ilustração em 2024.

Ela e o marido se conheceram em 2021 no Hinge, um aplicativo de namoro, e ficaram noivos em 2024. As fotos da cerimônia de casamento viralizaram.

Para Duwaji, os momentos de descanso, ternura e conexão —ela cita ir ao mar, contar conchas, acariciar um gato, comer com as mãos— são parte de como mantém a energia para continuar trabalhando e resistindo.

Na comemoração da vitória do marido, na madrugada desta quarta-feira (5), Duwaji escolheu uma blusa preta sem mangas com corte a laser, da marca palestina Zeid Hijazi, acompanhada de uma saia de renda da estilista nova-iorquina Ulla Johnson.

Ela não é a primeira primeira-dama a usar a moda para comunicar seu ponto de vista —vide Janja, que utilizou um casaco palestino na abertura da Assembleia da ONU— mas já demonstrou que expressará seus gostos pessoais e políticos sempre que puder.

O termo “primeira-dama” evoluiu ao longo dos séculos, tornando-se uma posição com visibilidade pública, cujas ocupantes são figuras de estilo, cultura e representação social. Duwaji ainda não fez nenhum aceno de que assumirá essa função, mas já faz parte dessa transformação, ao se tornar uma primeira-dama da geração Z, de origem imigrante e artista.