Da Redação

Mesmo depois do fim do remake de Vale Tudo, a novela continua rendendo polêmica nos bastidores. A atriz Taís Araújo procurou o setor de Compliance da TV Globo para registrar uma reclamação sobre a forma como personagens negros vêm sendo representados nas produções da emissora. O caso teria ganhado força após um desentendimento entre Taís e a autora Manuela Dias, responsável pela nova versão do clássico.

Segundo o colunista Gabriel Vaquer, da Folha de S. Paulo, a atriz se mostrou insatisfeita com o rumo dado à protagonista Raquel, sua personagem. Taís considerou que o perfil da mulher forte e determinada da versão original, vivida por Regina Duarte em 1988, acabou sendo substituído por uma figura frágil e dependente — o que, segundo ela, reforçaria estereótipos e limitaria o protagonismo da personagem negra.

A atriz buscou, então, abrir um debate institucional sobre representatividade e estereótipos raciais, afirmando que sua intenção não era um embate pessoal com Manuela, mas sim uma reflexão mais ampla dentro da emissora. A conversa entre as duas ocorreu em agosto, logo após a atriz ter sido questionada por membros do movimento negro sobre o retrato de Raquel no enredo.

O encontro, no entanto, não terminou bem. Fontes relatam que Manuela discordou das críticas e que o diálogo evoluiu para uma discussão. Poucos dias depois, Taís formalizou a denúncia no setor de Compliance da Globo. Em resposta, Manuela também apresentou uma queixa contra a atriz, após Taís conceder uma entrevista à revista Quem onde expressou frustração com o destino da personagem. A roteirista alegou que a fala pública de Taís violou normas internas de conduta da emissora.

A tensão envolvendo as duas profissionais expôs uma ferida antiga da teledramaturgia brasileira: a sub-representação e o estereótipo de personagens negros nas novelas.

Além de Taís, outros atores também demonstraram insatisfação com seus papéis. Luís Melo, intérprete de Bartolomeu, afirmou que “esperava mais” de seu personagem, enquanto Malu Galli comentou que gostaria de ter visto um final mais leve e feliz para Celina.

A Globo não se pronunciou oficialmente sobre o caso, mas nos bastidores, o episódio reacendeu discussões internas sobre diversidade e responsabilidade narrativa nas produções da emissora.