SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Deselegante, preconceituosa e inaceitável. Dessa forma, a CBF (Confederação Brasileira) e a FBTF (Federação Brasileira de Treinadores de Futebol) classificaram as declarações de Oswaldo de Oliveira e de Emerson Leão.
A dupla fez críticas à presença de técnicos estrangeiros no futebol nacional durante o 2º Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol, realizado na terça-feira (4), na sede da CBF, no Rio de Janeiro. As falas aconteceram na presença do italiano Carlo Ancelotti, treinador da seleção brasileira, convidado para receber uma homenagem dos organizadores.
O primeiro a disparar contra os estrangeiros trabalhando como treinadores no Brasil foi Leão.
“Eu sempre disse que não gosto de treinadores estrangeiros no meu país. Já falei isso e não mudo a minha opinião”, afirmou o ex-goleiro no palco do evento, ao lado de Ancelotti. Aos 76 anos, ele trabalhou como técnico pela última vez em 2012, quando dirigiu o São Caetano.
Campeão do mundo com a seleção brasileira em 1970, Leão ponderou também que a culpa pela presença crescente de estrangeiros no comando de clubes no país se deve aos próprios técnicos brasileiros.
“Tenho que ser inteligente o suficiente pra dizer que isso tudo tem um culpado. Nós, treinadores, somos culpados da invasão de outros treinadores, que não têm nada a ver com isso.”
Na sequência, foi a vez de Oswaldo de Oliveira pegar o microfone e também disparar contra os técnicos estrangeiros em solo brasileiro.
“Eu não queria treinador estrangeiro, mas não tinha jeito, se tivesse que ser, que fosse esse senhor [Ancelotti]. Torci para ser esse senhor”, disse Oswaldo, 74, cujo último trabalho foi em 2019, no Fluminense. “Depois que ele for embora, campeão do mundo, que venha um brasileiro.”
Ancelotti ouviu as declarações sem aparentar maior incômodo. Segundos relatos de pessoas presentes, o italiano já tinha conhecimento da insatisfação de técnicos brasileiros com a presença de estrangeiros, mas evitou entrar em polêmicas.
Em declaração na abertura do fórum, o treinador da equipe nacional já havia abordado a falta da presença de treinadores brasileiros em outros países.
“Uma das primeiras coisas que escutei e que não entendo é o porquê o treinador brasileiro não pode treinar na Europa? Significa que a figura é um pouco fraca”, assinalou o técnico.
A CBF e a própria FBTF soltaram notas horas depois repudiando as declarações de Leão e Oswaldo de Oliveira.
“As declarações feitas durante o Fórum Brasileiro de Treinadores, dirigidas ao técnico Carlo Ancelotti e aos profissionais estrangeiros que atuam no Brasil, foram, no mínimo, deselegantes, para não dizer de outra forma, e não refletem o verdadeiro sentimento do povo brasileiro”, escreveu Gustavo Feijó, diretor da CBF, em publicação nas redes sociais.
“Assim como queremos que nossos treinadores sejam tratados com respeito fora do país, também devemos acolher com consideração os profissionais que escolhem trabalhar aqui. Opiniões divergentes fazem parte do debate, mas falas preconceituosas e desnecessárias não contribuem para o processo de reconstrução e valorização do nosso futebol”, acrescentou o dirigente.
A federação, por sua vez, disse que as falas de Oswaldo de Oliveira foram “inaceitáveis” e “desrespeitosas”.
Segundo a FBTF, as declarações do ex-treinador “atingiram a CBF”, que aceitou ceder um espaço em sua sede para receber o evento.
“Nós, treinadores de futebol, sabemos que o futebol não tem fronteiras. O técnico Carlo Ancelotti é um profissional extremamente competente, com enormes conquistas e que merece todo respeito da categoria dos treinadores”, destacou a entidade.
Ainda durante o evento, o diretor da federação dos treinadores, Alfredo Sampaio, já havia condenado as declarações.
“Eu quero colocar publicamente o meu repúdio ao Oswaldo de Oliveira. Ele se comportou de forma inadequada. Estou falando isso porque ele gerou um grande problema institucional para a gente”, disse Sampaio.
“Aqui, eram os treinadores brasileiros que estavam tentando se aproximar da instituição esportiva mais importante do país […] Confesso a vocês que eu não sei se a gente vai conseguir fazer tudo que planejamos por força de uma pessoa que não teve o equilíbrio para entender onde estava e não percebeu o que não poderia ser dito.”




