SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A morte do urologista Eric Roger Wroclawski motivou a criação do Novembro Azul, campanha que informa e orienta brasileiros sobre o câncer de próstata. O médico morreu em 2009, aos 56 anos, em decorrência da doença, após um ano de internação.

Em abril de 2001, Wroclawski palestrou no evento “Check-Up da Próstata” realizado pela Folha de S.Paulo em parceria com a Associação Paulista de Medicina, na sede do jornal, em São Paulo.

“É uma dessas ironias da vida”, diz a jornalista Marlene Oliveira, amiga de Wroclawski e idealizadora da campanha Novembro Azul.

Nascido no Marrocos, Wroclawski era filho de um judeu de origem polonesa. Chegou ao Brasil criança e com 17 anos entrou em medicina na USP (Universidade de São Paulo). Na faculdade, ganhou o apelido de Balu.

Foi presidente da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) e da CAU (Confederação Americana de Urologia), cargo que assumiu doente, já no hospital. Atuou ainda como vice-presidente do hoje Einstein Hospital Israelita, em São Paulo, e como professor da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC.

Durante o tratamento contra o câncer, Wroclawski compartilhou com Marlene o desejo de criar uma instituição que ajudasse a orientar a população sobre os cuidados com a saúde do homem. “Ele falava comigo da importância de ter campanhas, de ter ações, de ter informações para os homens.”

À época a jornalista já liderava o Instituto Lado a Lado pela Vida, criado em 2008 para disseminar conhecimento e sensibilizar a população sobre a saúde masculina. Hoje a entidade se dedica simultaneamente às duas principais causas de mortalidade no país, o câncer e as doenças cardiovasculares.

Após a morte do amigo, em 19 de junho de 2009, Marlene procurou os idealizadores do Movember, um movimento internacional de conscientização sobre saúde mental, prevenção do suicídio, câncer de próstata e câncer de testículo em homens.

“Durante o mês de novembro, os homens deixavam o bigode crescer e faziam doações em dinheiro para pesquisas científicas sobre câncer de próstata”, afirma.

Os idealizadores adoraram a ideia de levar o movimento para um país da América Latina, conta Marlene, mas por aqui a iniciativa não pegou. “A campanha não ia para a frente. Os homens não deixavam o bigode crescer e não doavam.”

A jornalista então precisou adaptar a campanha à cultura brasileira. Fez até uma parceria com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), mas ainda não estava satisfeita.

“A gente precisava ter algo nacional. Não dava para ter uma campanha pontual em alguns lugares e em algumas épocas do ano”, disse.

Foi assim que ela buscou inspiração no Outubro Rosa, movimento consolidado no Brasil desde o início dos anos 2000 que mobiliza a sociedade contra o câncer de mama.

“Fui estudar como surgiu e como foi idealizado. Cheguei a conversar com o pessoal da American Cancer Society e desenhei algo parecido para os homens aqui.”

O lançamento oficial do Novembro Azul ocorreu em 2011. O mês também marca o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata e o Dia Internacional do Homem, nos dias 17 e 19, respectivamente.

A campanha ganhou alcance nacional e ampliou o escopo. Além do câncer de próstata, as ações focam a saúde integral do homem, incluindo saúde mental e outras doenças crônicas. Atualmente está em sua 14ª edição, e em 2025 o mote é “Você tem muita vida pela frente”.

Em 2023, o Instituto Lado a Lado pela Vida contribuiu para a criação da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer, que visa reduzir a incidência da doença, melhorar a qualidade de vida e diminuir a mortalidade e a incapacidade por meio de prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e pesquisa sobre a doença.

Apesar dos avanços, Marlene afirma que algumas barreiras permanecem para o combate ao câncer de próstata, como o preconceito em relação ao exame de toque retal e a dificuldade de acesso aos serviços públicos.

O câncer de próstata matou 48 homens por dia no Brasil em 2024, segundo levantamento da SBU, totalizando 17.587 óbitos naquele ano. Segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer), cerca de 72 mil novos casos de câncer de próstata são notificados por ano. Quando diagnosticado precocemente, a doença tem 90% de chances de cura.

“A saúde do homem ainda precisa melhorar muito enquanto política pública. Ele não pode continuar sendo invisível no sistema de saúde”, conclui Marlene.