RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O que estava programado para ser um momento de homenagens acabou tendo cenas de constrangimento nesta terça-feira (04) na sede da CBF, durante o Fórum de Treinadores Brasileiros. Os desabafos de Emerson Leão e Oswaldo de Oliveira sobre a presença de treinadores estrangeiros no futebol brasileiro pegaram Carlo Ancelotti, CBF e até a organização do evento de surpresa.

O “climão” foi nítido. Houve até um pedido de desculpas e uma manifestação de repúdio no fim.

O evento foi programado e organizado pela Federação Brasileira de Treinadores de Futebol (FBTF). A entidade, presidida pelo técnico Vagner Mancini, vem buscando há tempos uma aproximação institucional com a CBF. No começo do mês passado, esteve na confederação para um encontro com o presidente Samir Xaud e também com Ancelotti.

Foi nesse contexto que a FBTF pediu à CBF apoio para o evento – isso incluiu a cessão do espaço físico na sede da confederação. Como parte do processo de aproximação, a FNTF incluiu na pauta uma homenagem a Carlo Ancelotti.

Técnicos da geração de Leão e Oswaldo de Oliveira também são lembrados para momentos de homenagem como uma referência ao que fizeram no passado. Por isso, os dois receberam placas e o microfone, pouco depois da fala inicial de Ancelotti. Mas a participação deles degringolou.

Pessoas que convivem com o treinador da seleção brasileira dizem que ele tem consciência da resistência que enfrenta com seus companheiros de profissão brasileiros.

Mais do que isso, Ancelotti considera importantes a aproximação e o intercâmbio com os treinadores locais. Por isso, aceitou o convite.

Nas primeiras horas do evento, tudo transcorreu da forma esperada – Ancelotti foi tratado com educação e até reverência pelos vários treinadores presentes. Chegou a conversar amigavelmente, inclusive, com Emerson Leão.

Até que, já no palco, tudo fugiu do roteiro. Ancelotti observou, em silêncio, os desabafos de Leão e Oswaldo. O segundo finalizou esbravejando: “Depois que ele sair, campeão do mundo, que venha um brasileiro”.

Ancelotti fez careta, pareceu entrar na “brincadeira”. Seu filho Davide, que comanda o Botafogo, era outro técnico estrangeiro no ambiente.

A CBF entendeu as falas deselegantes e desnecessárias, principalmente considerando que a própria entidade tinha cedido o espaço e seu treinador, que foi apresentado como convidado de honra, acabou quase que emboscado. Pegou mal.

Apesar do constrangimento, o italiano levou tudo na esportiva. Não respondeu aos colegas. Ao estafe da seleção, indicou que compreende a situação, e deixou a CBF sem demonstrar qualquer incômodo mais profundo.

O aumento de estrangeiros fez parte do debate posterior entre os treinadores. Hélio dos Anjos, por exemplo, pontuou que isso seria interessante para os empresários, que conseguem movimentar comissões com negociações do exterior.

Fernando Diniz, ex-seleção e hoje no Vasco, disse que há uma tolerância maior aos estrangeiros nos clubes, mesmo quando têm os mesmos resultados (negativos) que os brasileiros.

Um outro convidado do exterior, o espanhol David Gutiérrez, da Federação Espanhola, mencionou que o tema técnicos estrangeiros também é presente em seu país. Ancelotti, inclusive, é um italiano que estava lá.

“O importante é que o treinador nacional tenha o nível suficiente para que só venham treinadores que aportem algo para o país. Que os que venham possam somar e ajudar a competição dos treinadores. Nossa preocupação não é que não venham, mas que nos ajudem a ser melhores”, afirmou.

Como Vagner Mancini precisou sair ainda no início da tarde para dar treino no Red Bull Bragantino, o celular de Alfredo Sampaio, que o substituiu como representante principal da FBTF, não parou.

REPÚDIO

Depois da última palestra, Alfredo fez os agradecimentos aos participantes, relatou que escreveu um pedido de desculpas à CBF e verbalizou a revolta com as falas da parte da manhã.

“Eu não sou de ficar de rodeios. Quero colocar aqui publicamente o meu repúdio ao Oswaldo de Oliveira. À forma com a qual ele se comportou, de forma inadequada. Estou falando isso porque ele gerou um grande problema institucional para a gente. Desde a hora que começou, estou aqui ao telefone. A diretoria, com toda a razão, se sentiu atingida pelo vexame que foi dado e pelo que saiu na imprensa”, disse Alfredo, que engatou:

“Estou dividindo isso com vocês porque vejo uma coisa planejada com tanto carinho, tanto empenho ser perdida por causa de um comportamento inadequado. Fica aqui o meu repúdio, pela postura inadequada que teve em um evento tão importante. Aqui, eram os treinadores brasileiros que estavam tentando se aproximar da instituição mais importante que tem no país, que está dando abertura e mudando o futebol brasileiro. Hoje, confesso que não sei se vamos conseguir fazer tudo o que planejamos por força de uma pessoa que não teve o equilíbrio para entender onde estava e não percebeu o que não poderia ser dito”.

Alfredo Sampaio terminou aplaudido pelos participantes que ficaram até o fim