SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A percepção de que os bancos preferem taxas de juros elevadas é equivocada, afirmou o CEO do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, durante entrevista nesta quarta-feira (5) sobre os resultados do balanço do banco no terceiro trimestre.

O executivo deu a declaração ao comentar uma fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que nesta terça afirmou que os bancos fazem pressão para o Banco Central não cortar a taxa básica de juros (Selic), hoje em 15% ao ano.

“Acho que existe uma percepção equivocada de que os bancos preferem taxas de juros elevadas do que baixas. Preferimos operar no mercado com juros de um dígito do que juros de dois dígitos”, afirmou Maluhy.

De acordo com ele, juros altos por mais tempo colocam pressão na inadimplência e na capacidade dos bancos de crescerem suas carteiras. “Dado que o cenário daqui para a frente é mais arriscado, as pessoas e empresas param de consumir e investir. Juros baixos são bons para todos, é nesse cenário que os bancos crescem mais”, disse.

A expectativa do executivo é que a taxa básica comece a ser cortada em janeiro, com um corte de 0,25 ponto percentual —a expectativa do mercado é que o BC manterá a Selic na reunião desta quarta.

“Em um horizonte razoável de tempo, haverá convergência da inflação para os modelos que o BC utiliza. Há espaço para corte de juros, e isso vai gerar alívio para a economia.”

Sobre a carteira de crédito, o executivo declarou que há possibilidade de crescimento entre clientes mais resilientes ao ciclo econômico.

“Vemos possibilidade de crescer, mas sempre aprofundando a relação com os clientes resilientes, de alto engajamento, para perpetuar relações no longo prazo, que é determinante para o crescimento da carteira. Há clientes onde continuamos crescendo, e clientes onde desaceleramos o ritmo por entender que são menos resilientes em ciclos mais longos.”

As eleições em 2026 também devem trazer mais volatilidade, de acordo com Maluhy, o que pode exigir mais cautela.

A inadimplência de pessoas físicas está no menor patamar da história, e os atrasos entre 15 e 90 dias se mantiveram estáveis.

No caso da inadimplência para empresas, ele explicou que há indicadores que, na margem, sugerem que há empresas com maior dificuldade. “Vemos isso nas recuperações judiciais, no dia a dia da atividade das empresas. É um nível de incerteza maior para os próximos anos, mas estamos confortáveis com o nosso provisionamento.”

Maluhy declarou ainda que não vê um cenário de crise para o crédito a pessoas jurídicas, e que o comportamento desses empréstimos dependerá dos juros. “Vai depender de por quanto tempo os juros se mantêm nesse nível. Se as condições forem colocadas para redução de juros, retira-se pressão desse cenário. Se tivermos expansão fiscal acelerada, e juros restritivos por mais tempo, há risco maior para as empresas. É um balanço que tem que ser feito.”

O Itaú Unibanco informou nesta um lucro recorrente gerencial de R$ 11,9 bilhões no terceiro trimestre, um crescimento de 11,3% ante igual período do ano passado, em meio à expansão da carteira de crédito e das receitas de seguros e serviços.