RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Um estudo norte-americano conduzido com uma amostra de 850 mil adultos de seis ancestralidades continentais encontrou 13 genes comuns associados à obesidade, sendo cinco deles relacionados à doença pela primeira vez.

Os resultados devem contribuir para o combate global do problema, permitindo avanço na medicina de precisão, com ganhos inclusive para o tratamento com medicações de nova geração, como semaglutida e tirzepatida.

Dados do Atlas Mundial da Obesidade divulgados em março deste ano mostram mais de 1 bilhão de pessoas vivem com obesidade hoje no mundo, número que pode ultrapassar 1,5 bilhão em cinco anos.

“A obesidade tem um forte componente genético, além do componente ambiental. Portanto, qualquer efeito de medicamento deve interagir com a genética, o que determinará a qualidade do resultado do tratamento”, afirma um dos autores, Santhosh Girirajan, professor de Genômica e chefe do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Faculdade de Ciências Eberly da Penn State.

Conduzido por pesquisadores da Pennsylvania State University, o estudo levou cerca de dois anos e acaba de ser publicado pela revista Nature Communications.

Os cinco genes que nunca haviam sido associados à obesidade em estudos anteriores de variantes raras foram YLPM1, RIF1, GIGYF1, SLC5A3 e GRM7.

Esses códigos genéticos destacados conferiram um aumento de cerca de três vezes no risco de obesidade grave, um nível de impacto semelhante ao de MC4R e BSN, dois genes associados ao problema há bastante tempo.

“O YLPM1, por exemplo, é um fator de transcrição pouco estudado, expresso em tecidos cerebrais, com ligações a transtornos mentais”, detalha o pesquisador e um dos autores do estudo Deepro Banerjee, estudante de pós-graduação no programa de bioinformática e genômica da Penn State.

De acordo com Girirajan, a ciência hoje busca compreender quais medicamentos são eficazes para quais mutações genéticas, bem como os mecanismos moleculares de genes da obesidade recém-identificados.

Apesar de exercícios, estilo de vida e dieta serem fatores muito importantes para o desenvolvimento da doença, os estudiosos lembram que existem cerca de 20 genes com alto impacto na probabilidade de uma pessoa se tornar obesa.

No caso dos genes analisados pela equipe da Pennsylvania State, os autores investigaram também como esses códigos influenciam comorbidades relacionadas à obesidade, a exemplo de diabetes tipo 2 e riscos de insuficiência cardíaca.

A amostra avaliada foi originada em dois bancos de genes principais do mundo. O primeiro, o UL Biobank, contava com 450 mil cadastros genéticos, físicos e de saúde de pessoas no Reino Unido (sendo cerca de 20 mil não europeus).

O outro, o “All of Us Research Program”, dispunha 385 mil pacientes de medicina de precisão dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e se caracteriza por um coorte mais inclusivo, devido à forte imigração do país.

As seis ascendências continentais incluídas foram africana, americana, do leste asiático, europeia, do Oriente Médio e do sul da Ásia —cuja herança genética afeta também grandes grupos de descendentes desses povos que nasceram na Europa e nos Estados Unidos.

“Mesmo com coortes muito grandes, variantes raras e prejudiciais podem ser difíceis de encontrar, a menos que analisemos populações diversas. Estudos anteriores se basearam predominantemente em populações de ascendência europeia”, declarou Banerjee.

Como a variedade ancestral foi derivada apenas de indivíduos oriundos dos EUA, o professor Girirajan reforça que ainda há espaço para mais investigações de genes em outras regiões.

“No futuro, esperamos que estudos genéticos mais amplos para características e distúrbios complexos incluam amostras de outras partes do mundo, como América Latina e Ásia”, diz o docente.

A pesquisa focou variantes raras de perda de função porque são as que têm maior probabilidade de causar grandes efeitos em uma doença.