SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma a cada três garrafas de vidro produzidas no Brasil é hoje feita com material reciclado. De acordo com o relatório de logística reversa do setor vidreiro, a proporção de vidro reciclado em novas garrafas atingiu 36,86%, o que supera a meta de 27% estabelecida para 2024 pelo decreto 11.300, de 2022.
O decreto do vidro foi pioneiro na regulação da logística reversa de materiais recicláveis no país, antecedendo em quase três anos o decreto do plástico, lançado pelo governo federal no último mês. O tema da coleta e reciclagem de garrafas de vidro ganhou relevo também no contexto da crise do metanol, em que garrafas descartadas de forma inadequada podem ter sido usadas para a falsificação de bebidas.
Desde que o decreto do vidro entrou em vigor, em 2022, o setor criou uma entidade gestora para a logística reversa, a Circula Vidro, que reúne Abividro (Associação Brasileira de Indústria do Vidro), Abrabe (Associação Brasileira de Bebidas) e Sindicerv (Sindicato Nacional da Indústria de Cerveja), representando 100% das fábricas de vidro e cerca de 80% dos envasadores do país.
Em 2024, quase 600 mil toneladas de vidro foram recicladas e transformadas em matéria-prima para a fabricação de novos vidros, o que significa um aumento de 14,2% em relação ao ano anterior. Entram nessa conta os cacos de garrafas, potes e outros vasilhames recuperados (394.575 toneladas), além do vidro plano, como janelas e parabrisas (202.348 toneladas).
Já das 1.195.928 toneladas de embalagens de vidro não retornáveis ou de uso único, quase 33% foram recicladas, o que também superou a meta de 30% estabelecida pelo decreto para o ano de 2024.
A entidade afirma que o setor do vidro é o primeiro no país a alcançar 100% de verificação auditada do volume reciclado já que toda a indústria do vidro participa e reporta, de forma consolidada e anonimizada, as informações sobre o material retornado aos fornos.
Para Alexandre Macário, CEO da Circula Vidro, o decreto ajudou o setor a estruturar seu sistema de logística reversa, mas a falta de coleta seletiva e de leis de grandes geradores ainda são gargalos importantes para que a coleta do vidro para reciclagem aumente no país.
“É preciso que o caco de vidro chegue nas condições técnicas para reciclagem. E, para isso, precisamos que leis de grande geradores sejam criadas e fiscalizadas, que cooperativas sejam pagas por prestação de serviços ambientais e de triagem e que ações de combate à falsificação sejam cada vez mais focalizadas, porque cada garrafa que vai para o mercado ilegal deixa de voltar para a reciclagem”, explica Macário.
“E a gente precisa que tudo isso aconteça ao mesmo tempo”, resume ele, antes de afirmar que metade de todo o vidro gerado no Brasil é consumido por grandes geradores, como bares e restaurantes, e a outra metade está na casa dos consumidores, que também precisam se envolver no processo de coleta seletiva ou de pontos de entrega voluntária (PEV) de vidro.
“A logística reversa dos vidros tinha um sistema fragmentado, desarticulado e com baixa rastreabilidade. Em 2024, o setor lançou uma entidade gestora com todos os atores do setor, o que permitiu uma maior integração dos dados para entender os desafios da ampliação da recuperação e reciclagem no país”, afirma o secretário de Meio Ambiente Urbano e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Adalberto Maluf.
Segundo ele, a importação de cacos de vidro, que inibia a compra de cacos do Brasil para reciclagem, teve a proibição decretada pelo governo no início do ano, o que dinamizou o setor.
“O MMA e outros ministérios estão trabalhando para atualizar esse decreto [do vidro], trazendo demanda maior de rastreabilidade das embalagens pelos fabricantes, a priorização de associações e organizações de catadores e o foco na recuperação e reciclagem de embalagens pós-consumo”, afirma Maluf.
A Circula Vidro cita dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para sustentar que a quantidade de cacos importados em 2024 (12,7 mil toneladas) é pequena frente às centenas de milhares de toneladas recicladas naquele ano.
Mesmo assim, entre as mudanças promovidas pela integração dos atores do setor em torno da Circula Vidro está o investimento em tecnologias de triagem e separação dos diferentes tipos de vidro.
“O vidro tem características técnicas que, para ilustrar, comparo com o sangue: vidro branco só recicla com vidro branco, já o verde pode ser com verde e com branco, por exemplo”, explica Alexandre Macário, CEO da Circula Vidro. “Até o início deste ano, não existia no Brasil tecnologia de separação óptica, que são equipamentos capazes de pegar um monte de vidro quebrado e assoprar o que é branco para um lado, o que é marrom para outro, e o que é verde para outro. Hoje isso já existe no Brasil, ajudou bastante ao setor e é parte importante da valorização do material.”
A Circula Vidro estima que, em 2024, a reciclagem de vidro movimento R$ 350 milhões entre coleta, transporte, compra de cacos, investimentos em programas de logística reversa e geração de emprego e renda.




