BELÉM, AL (FOLHAPRESS) – A ONG ambientalista Sea Shepherd afirma que o governo do Japão pediu ao Itamaraty a extradição do ativista Paul Watson, fundador da organização. Renomado por sua oposição à caça de baleias, ele é alvo de uma ordem de prisão há 15 anos na Justiça japonesa. Watson está no Brasil para uma série de atividades e deve participar da COP30, a conferência do clima da ONU, em Belém.
“Não acho que o Brasil fará favores ao Japão me extraditando. Não estou preocupado com isso”, afirma o canadense-americanoem entrevista exclusiva à reportagem.
“O Brasil tem um longo histórico de se opor à caça às baleias. E o Japão foi contra a criação de um santuário de baleias no Atlântico Sul, o que resultou na saída deles da Comissão Baleeira Internacional há alguns anos, em Florianópolis”, diz.
Em todo o mundo, apenas Japão, Noruega e Islândia ainda permitem a captura predatória do cetáceo. O país asiático acusa Watson de conspiração para invasão, obstrução de negócios e danos e lesões a tripulantes a bordo de um navio baleeiro japonês em 2010, como parte de uma campanha liderada pela ONG Sea Shepherd.
Procurada pela reportagem, a embaixada do Japão se negou a comentar o caso. Já o Ministério das Relações Exteriores brasileiro afirmou que a pasta responsável seria o Ministério da Justiça; este, por sua vez, disse que não pode se manifestar devido à Lei Geral de Proteção de Dados.
No ano passado, Paul Watson, 74, ficou detido na Groenlândia durante cinco meses até que a Dinamarca rejeitasse um pedido de extradição do Japão. Em julho, a Interpol retirou seu nome da lista vermelha da instituição. O governo japonês, porém, manteve o mandado de prisão contra ele.
Watson conta que ficou surpreso com este novo pedido de deportação, após a dispensa do caso pela Interpol. “Pensei que os japoneses se dariam por satisfeitos. Mas eles parecem ser implacáveis em sua perseguição. O verdadeiro problema é que eu os constrangi, os humilhei com um programa de televisão”, afirma.
A série documental Whale Wars, que estreou em 2008, mostra as atividades de Watson no combate aos navios baleeiros japoneses na costa da Antártida.
“[Os japoneses] estão comprometidos em matar baleias e isso realmente não faz nenhum sentido lógico. Não há demanda por carne de baleia no Japão menos de 1% das pessoas a consomem. Há 8.000 toneladas de carne de baleia em armazéns no Japão com as quais eles não conseguem fazer nada”, diz o ambientalista.
Watson é um dos fundadores do Greenpeace e está no Brasil para uma série de eventos. No final de outubro, ele participou da Rio Ocean Week, e, nos últimos dias, esteve na Terra Indígena Capoto-Jarina, no norte de Mato Grosso, com o cacique Raoni Mẽtyktire, seu amigo de longa data.
“Foi ótimo ir até lá e ver em primeira mão os problemas com os quais ele tem que lidar na sua aldeia”, relata, acrescentando que estuda buscar fundos para financiar uma patrulha fluvial do povo kayapó contra a pesca ilegal no território.
Na ocasião, os dois ativistas manifestaram apoio à campanha “Sem azul não há verde”, da recém-criada coalizão SOS Oceano, que reúne diversas organizações ambientais. Um dos objetivos da iniciativa é atuar para que países como o Brasil cumpram a meta de proteger 30% do oceano até 2030, sendo ao menos 10% em áreas de conservação integral.
“Proteger a floresta tropical e proteger o oceano é algo que temos em comum e são coisas mutuamente benéficas”, destaca Watson.
Ele deve chegar a Belém para a COP30 na próxima sexta-feira (7), a bordo do navio John Paul DeJoria. A previsão é de que o ativista participe de eventos na Casa Vozes do Oceano, e há a possibilidade, ainda sem data certa, de um encontro com a ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva.




