NOVA YORK, EUA E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Zohran Mamdani, 34 anos, será o primeiro prefeito muçulmano de Nova York e o mais jovem em pouco mais de um século a gerir a maior cidade dos Estados Unidos.
Autodeclarado socialista, o deputado estadual democrata confirmou o favoritismo nas pesquisas, superou forte campanha contrária feita por Donald Trump e foi eleito prefeito na noite desta terça (4), para substituir o democrata Eric Adams a partir de 1º de janeiro de 2026.
“Essa cidade é a sua cidade, e essa democracia é a sua democracia”, afirmou Mamdani em seu discurso de vitória. “Vamos fazer essa cidade que as pessoas amam e podem voltar a viver”, afirmou, ao agradecer seus eleitores. “Estamos respirando o ar de uma cidade que renasceu.”
Ele derrotou os candidatos Andrew Cuomo, ex-governador de Nova York que concorreu como independente neste pleito justamente por ter perdido para Mamdani nas prévias do Partido Democrata, e o republicano Curtis Sliwa, que não tinha chance na disputa.
Por volta de 00h30 de quarta (5), horário de Brasília, Mamdani marcava 50,3% do voto contra 41,6% de Cuomo com 89% das urnas apuradas, uma tendência irreversível de vitória. Sliwa obteve 7,1%.
Cuomo admitiu a derrota algumas horas após as primeiras projeções. Se dirigindo a apoiadores, afirmou que “esta campanha teve como objetivo contestar as filosofias que estão moldando o Partido Democrata, o futuro da cidade e o futuro do país”.
Ele afirmou que os cidadãos de Nova York “não tolerarão nenhum comportamento que alimente as chamas do antissemitismo”, em alusão às acusações que fez repetidas vezes contra Mamdani. Ao fim, parabenizou o democrata e interrompeu as vaias ao nome do socialista ao dizer que “isso não está certo”. “Esta noite era a noite deles”, afirmou.
Mamdani garantiu sua ascensão com uma plataforma de propostas que toca num dos principais problemas de Nova York hoje: o custo de vida. O foco foi propor ao eleitor tornar a cidade mais acessível.
Nascido em Uganda, ele se mudou para os EUA com os pais, que têm origem indiana, aos sete anos. Em 2018, obteve a cidadania americana.
Sua trajetória na campanha pela prefeitura de Nova York surpreendeu tanto republicanos como os próprios democratas.
Mamdani faz parte da ala mais à esquerda do Partido Democrata e conseguiu, em julho, vencer as primárias contra Cuomo, que tinha o apoio majoritário dos integrantes moderados da legenda -apesar de ser alvo de acusações de assédio sexual no final de seu mandato como governador.
O agora prefeito eleito teve o respaldo de líderes da corrente socialista do partido, como Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez, e sua eleição representa a consagração dessa ala. A Prefeitura de Nova York é o maior cargo Executivo ocupado por esse grupo desde os anos 1990.
A vitória desagradou a uma parte dos democratas, que considera a corrente socialista do partido muito radical e teme as repercussões nacionais da eleição desta terça. Um dos sinais é que o próprio líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, não declarou apoio a Mamdani.
O receio é que republicanos usem o suposto radicalismo do novo prefeito para atacar o Partido Democrata nas eleições de meio de mandato, em novembro do ano que vem, que podem reconfigurar o poder de Trump no Congresso.
Suas propostas incluem ônibus gratuitos por toda a cidade, uma rede de supermercados públicos administrados pela prefeitura, congelamento de aluguéis e creche gratuita. A mais fácil de implementar, segundo especialistas, é a que tenta resolver a crise imobiliária -a política não teria custo direto para o orçamento municipal e já foi adotada de forma semelhante durante a gestão de Bill de Blasio (2014-2022), por exemplo.
Creche universal e gratuita, por outro lado, teria um custo estimado de US$ 6 bilhões por ano, de acordo com o jornal americano The New York Times, e precisaria ser autorizada pela Assembleia Legislativa e pela governadora de Nova York, Kathy Hochul. Atualmente, a cidade já oferece pré-escola sem custo para todas as crianças de 4 anos e para muitas de 3 anos. O plano ampliaria esse benefício para bebês e crianças menores de 3 anos.
Trump entrou ativamente na campanha para que os nova-iorquinos rejeitassem Mamdani, a quem já se referiu como “comunista lunático”. Para isso, o presidente recomendou o voto útil em Cuomo, dizendo que a opção pelo azarão republicano Sliwa seria, na prática, votar em Mamdani.
Nesta quarta, o presidente americano atacou eleitores judeus que apoiassem Mamdani, chamando-os de estúpidos. “Qualquer judeu que vote em Zohran Mamdani, um comprovado e autoproclamado INIMIGO DOS JUDEUS, é uma pessoa estúpida!!!”, escreveu o republicano, com as habituais maiúsculas, em sua rede Truth Social.
Mamdani é deputado estadual desde 2021, quando foi eleito para representar a região do Queens na Assembleia Legislativa do estado de Nova York, com sede na cidade de Albany. Antes de ingressar na política, trabalhou como conselheiro habitacional, ajudando moradores de baixa renda a evitar despejos. Formado em estudos africanos pela Bowdoin College, criou na universidade um grupo de defesa da Palestina, bandeira que também levou à campanha para prefeito.
A polêmica em torno de suas críticas a Israel ultrapassou Nova York e provocou intenso debate entre judeus em todo o país, levantando questionamentos sobre o papel da comunidade judaica na política americana. Uma carta assinada por mais de 1.100 rabinos condenando o suposto antissemitismo de Mamdani ampliou ainda mais a divisão dentro das sinagogas e organizações judaicas.




