SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O democrata Zohran Mamdani, eleito prefeito de Nova York nesta quarta-feira (5), chegou ao poder da cidade mais populosa dos Estados Unidos com uma plataforma que gera tanto entusiasmo quanto ceticismo.

Representante da ala mais à esquerda do partido e autodeclarado socialista, Mamdani apresenta quatro propostas centrais: ônibus gratuitos por toda a cidade; uma rede de supermercados públicos administrados pela prefeitura; congelamento de aluguéis e creche gratuita. Além disso, ele pretende aumentar impostos sobre quem ganha mais de US$ 1 milhão (R$ 5,4 milhões) por ano.

As ideias são consideradas ousadas e, em grande parte, difíceis de colocar em prática. Com exceção do congelamento de aluguéis, cujos preços são um dos principais problemas da cidade, todas teriam um custo de financiamento significativo, e a origem dos recursos não está clara.

Veja abaixo as principais propostas do futuro prefeito de Nova York, que toma posse no dia 1º de janeiro de 2026.

CRECHE UNIVERSAL E GRATUITA

A proposta mais ambiciosa de Mamdani é a criação de um sistema de creche universal e gratuita. Atualmente, Nova York já oferece pré-escola sem custo para todas as crianças de 4 anos e para muitas de 3 anos. O plano ampliaria esse benefício para bebês e crianças menores de 3 anos, o que representaria um grande desafio estrutural e financeiro.

Seria necessário construir novas creches e contratar um grande número de profissionais de educação infantil. Segundo o The New York Times, o custo estimado é de US$ 6 bilhões por ano, e o financiamento viria do aumento da alíquota do imposto corporativo estadual e do imposto de renda municipal. Como esses tributos dependem de aprovação estadual, o programa precisaria ser autorizado precisaria ser autorizada pela Assembleia Legislativa em Albany e pela governadora de Nova York, Kathy Hochul.

ÔNIBUS RÁPIDOS E GRATUITOS

Mamdani também promete tornar os ônibus da cidade rápidos e gratuitos, beneficiando mais de 1 milhão de nova-iorquinos que utilizam o transporte diariamente -em sua maioria, trabalhadores da classe média e baixa. Hoje, os ônibus de Nova York são considerados os mais lentos dos EUA, com uma velocidade média de cerca de 13 km/h.

Segundo estimativas da campanha, o programa custaria menos de US$ 800 milhões por ano. Em 2024, foram registradas aproximadamente 410 milhões de viagens de ônibus, e, considerando a tarifa de US$ 2,90 e a evasão de pagamento de 48%, o custo para tornar o serviço gratuito seria de pouco mais de US$ 600 milhões anuais.

SUPERMERCADOS PÚBLICOS

Outra proposta é a criação de supermercados públicos com o objetivo de reduzir os preços dos alimentos. O plano prevê a abertura de um supermercado em cada distrito como parte de um programa piloto. Caso a iniciativa tenha sucesso, o modelo poderia ser expandido para outras regiões da cidade.

De acordo com o The New York Times, o custo estimado é de US$ 60 milhões por ano para a operação de cinco unidades. A cidade arcaria com despesas como aluguel, serviços públicos e impostos sobre a propriedade, enquanto as lojas comprariam e venderiam produtos a preços de atacado, utilizando armazéns centrais para distribuição.

Experiências semelhantes foram analisadas em Chicago, onde a criação de três lojas exigiria um investimento inicial de cerca de US$ 26 milhões.

CONGELAMENTO DOS ALUGUÉIS

Mamdani propõe o congelamento dos aluguéis dos quase um milhão de apartamentos com aluguel estabilizado que já existem em Nova York -uma medida considerada a mais fácil de implementar entre suas propostas.

A política não teria custo direto para o orçamento municipal, pois seria aprovada pelo Conselho de Diretrizes de Aluguel (Rent Guidelines Board), formado por nove membros indicados pelo prefeito. Mamdani poderia nomear representantes alinhados à sua visão política, embora o processo de substituição dos membros seja gradual, o que impediria uma reformulação imediata do conselho.

Especialistas lembram que congelamentos semelhantes foram adotados durante o governo de Bill de Blasio, com o argumento de que eram necessários para apoiar os inquilinos em dificuldades. Apesar de não representar uma despesa direta para o município, a medida poderia aumentar os encargos dos proprietários, que continuariam responsáveis pela manutenção de prédios antigos e pelo pagamento de impostos sobre a propriedade.